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sexta-feira, 14 de março de 2025

Matraquilhos da política

 

Recordo que uma das reprimendas que nos eram dadas quando jogavamos matraquilhos consistia em não ser permitido rodar os bonecos por forma a tentar marcar golo a grande velocidade… isso podia fraturar algum boneco ou a bola podia espirrar para fora da área de jogo… Nessa época os bonecos eram pintados com as cores dos rivais de Lisboa, depois foi sendo introduzida a hipótese do outro grande do Norte, mas a luta era sempre a mesma: ganhar naquele campo fictício das animosidades arrolhadas…já seria uma vitória, mesmo que pírrica. Daquilo que segui nos debates mais recentes – houve três em menos de um mês – no parlamento fez-me recordar os jogos de matraquilhos, só que estes, hoje, têm nomes e fazem pior figura do que os bonecos…

1. Quando a vida política se reduz a escarafunchar a vida dos intervenientes, algo vai mal nesta sociedade…em colapso. Quando se valoriza quem nada faz em detrimento de quem ousou investir e criar riqueza, algo está apodrecido e já fase avançada…como dizia alguém: já fede! Quando se converte a ação politica numa resfrega de incompetências (pessoais, profissionais e sociais), algo já cheira mal de podre, mesmo que os que lhe mexem pareçam sentir um certo prazer mórbido e pestilento. Quando se orquestra toda uma leitura de factos, partindo de preconceitos, ressabiamentos e interesses pessoais camuflados de boas intenções, já batemos no fundo e vai ser complicado sair de lá sem ficarem manchas para o futuro em todos.

2. Isto e muito mais podemos ver – há quem tente discerner para além da espuma das notícias e dos episódios degradantes – nos tempos mais recentes no nosso país. Só que a doença está a espalhar-se como uma epidemia bem mais grave do que a covid-19… que nos assolou dramaticamente há cerca de cinco anos. Neste como noutros tempos e campos de atividade a ‘paixão’ pode toldar a capacidade de distinguir o essencial do secundário, podendo corer o risco de fazer deste o sujeito daquele: urge ter inteligência capaz de submeter as sensações ao controlo. Seja qual for a atividade em curso precisa de ser muito bem analisada e isto é ação da mente sobre a emotividade…sobretudo de quem tem de decidir em função dos outros, isto é, daqueles a quem deve servir.

3. As posições antagónicas vão dirimir-se em respostas no confronto das eleições já convocadas para 18 de maio e para que não possam continuar a estar centradas nas questiúnculas de caráter, mas nas propostas de solução para o país e não para certas bolhas mediáticas. Mesmo que boa parte dos interessados não quisesse a submissão ao voto popular, esta será a mais adequada forma de ajuizar (julgar, decidir e avançar) tudo e todos. Mesmo que o desenvolvimento das questões pudesse ser outro, seria de muito grave solução ter quem governa a ser ‘queimado em lume brando’ até ser esturricado na grelha dos interesses alheios… É verdade que alguns não mecerecem confiança pela simples razão de que não têm estofo para ultrapassarem o desdém com qualidade minima, tanto atual como futura. Nota-se um verdadeiro deserto de compromisso para além da maledicência e contumaz arrogância. Se eu fosse a um lugar de vendas – eletrodomésticos ou de carros, passando pela aquisição de casa ou pelo investimento das minhas parcas economias – não confiava na argumentação de certos vendedores ou propagandistas de feira… à antiga.

4. Abjuro a proclamação recorrente de que estas são as eleições mais importantes de sempre. Isso seria confinar-se a que, no presente e para o futuro não aprendemos nada, nem sequer com os erros… e são tantos! Este argumento dramático funciona para aqueles que, na maior parte das vezes, aliam ignorância com oportunismo: nada é irreversível. Quem já tenha assistido e vivido outros momentos da nossa história coletiva compreenderá a situação importante, mas nunca tal dramaticidade que seja o fim…Não creio na teoria do retorno, mas há coisas que a ‘teologia da história’ ensina que sempre Deus cuida, assim nos deixemos cuidar e nos submetamos verdadeiramente à sua condução.

5. Com destes matraqulhos em ação ninguém vai cantar vitória!



António Sílvio Couto

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