Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



terça-feira, 28 de maio de 2024

Wokismo - nova vaga ideológica?

 


Na Infopedia dicionários da Porto Editora lemos a seguinte definição descritiva do ‘wokismo’: na política: movimento ou conjunto de pessoas que se mostram conscientes da gravidade das injustiças sociais existentes (nomeadamente no que diz respeito a questões de discriminação e racismo), agindo de forma ativa para as combater; no sentido depreciativo: movimento ou conjunto de pessoas que fomentam o politicamente correto e a cultura de cancelamento ao defenderem propostas irrazoáveis ou extremistas a partir de uma posição de superioridade moral».

Dado que se vai falando deste ‘conceito’ político/ideológico/social de ‘wokismo’, poderá ser útil irmos à procura das suas origens e influências, mentores e seguidores, tendências e objetivos.

1. De que se trata, quando vemos usado o termo ‘woke’ na comunicação social e nos debates políticos?
A forma ‘woke’ é o passado simples do verbo ‘wake’ – «acordar» – e uma variante do respetivo participio passado, que pode ser ‘waked’ e ‘woken’, e que mais recentemente passou a ter uso adjetivado com o significado de estar consciente sobre temas sociais e políticos, especialmente o racismo.
No final da década de 2010, ‘woke’ foi adotado como uma gíria mais genérica, amplamente associada a políticas identitárias, causas socialmente liberais, feminismo, ativismo LGBT e questões culturais (com os termos ‘woke culture’ e ‘woke politics’ também a serem usados).
Segundo um filósofo francês (Rémi Brague), o ‘wokismo’ será uma ideologia que, em nome da justiça social, pretende cancelar, multar e calar qualquer argumento contrário, levando ‘a confessar culpas [e] nunca receber absolvição’.

2. Sinais (já visíveis) da influência do ‘wokismo’
Quem não se lembra de propostas em que, segundo os mentores ‘wokistas’, se devem corrigir expressões culturais ou mesmo substituir palavras Segundo as suas ideias. Por exemplo a proposta de encobrir a estátua de David de Miguel Ângelo, na medida em podia ser escandalosa para certas mentes.
Expurgar textos de autores consagrados onde se possam encontrar expressões entendidas, hoje, como racistas ou que podem suscitar algo parecido a xenófobo ou talvez homofóbico...Isto seria uma forma de concretizar a ‘cultura do cancelamento’ quanto a situações ou momentos (até) históricos que não se coadunariam com a mentalidade ‘wokista’. Esta enche a boca com palavras como ‘tolerância’, mas depois apelidam os que não pensam como eles de ‘fanáticos’, ‘radicais’ e outros termos afins.
Esta mentalidade – num progressivo processo de mentalização – foi criando a tendência para que há piadas que já não se podem contar, há coisas que já não se podem dizer, há roupas que já não se podem vestir, há livros que já não se podem ler, há palavras que já não se podem usar...tudo em respeito pela liberdade deles e não dos que não pensam nem agem como eles.
Esta narrativa wokista é, fundamentalmente, de esquerda, pois as ‘não-esquerdas’, normalmente, têm outras coisas para discutir para o país do que isso de ‘alterar’ as obras literárias, as casas de banho sem género, de defender uma linguagem neutra, de incentivar o desaparecimento dos monumentos históricos, a destruição de pinturas e de obras de arte de outros tempos…

3. Não estaremos sob uma ‘hipnose de massas’?
Segundo alguns autores, que se têm debruçado sobre este assunto com atenção, parece que vivemos numa espécie de ‘hipnose de massas’: uma longa nuvem cobre quem discorda e uma luz excelsa brilha sobre quem propõe estas ideias ‘livres’, mas subtilmente manipuladoras...
Nota-se uma razoável máquina de propaganda do ‘wokismo’, nalguns casos tão bem disfarçada em que certas manifestações pró-palestinianas parecem enfermar desta doença contagiosa. As vozes altissonantes contra os valores cristãos – da vida, da ética, da família – não conseguem dissimular totalmente quem comanda algumas tomadas de posição fora da conta-corrente dos ‘wokistas’...
É preciso despertar do sono em que nos têm embalado, senão mesmo narcortizado!



António Sílvio Couto

sábado, 25 de maio de 2024

O que movem os festivais de música?

 


Este tema dos festivais de música – sobretudo em tempo de verão – sempre me questionam, na medida em que milhares de pessoas consomem este produto com tal avidez que quase parece uma religião, com vários tiques que estão adstritos quer ao fenómeno religioso quer aos tais festivais de música.

Encontrei uma lista destes eventos entre finais de maio e princípios de setembro, que passo a apresentar... a terminar tentarei incluir algumas considerações, desde os custos médios até à participação dos ‘artistas’, muitos deles em perfeita peregrinação pelas diversas localidades:
- Festival SWR Barroselas Metalfest (24, 25, 26 e 27 de maio), Barroselas, Viana do Castelo,
- North Festival (24, 25 e 26 de maio), Parque de Serralves, Porto,
- Coala Festival Portugal (1 e 2 de junho), Hipódromo Manuel Possolo, Cascais,
- Primavera Sound Porto (6, 7 e 8 de junho), Parque da Cidade, Porto,
- Rock in Rio Lisboa (15, 16, 22 e 23 de junho), Parque Tejo, Lisboa,
- Festival Jardins do Marquês (junho/julho), Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras,
- Festival CoolJazz Cascais (de 1 a 31 de julho), Hipódromo Manuel Possolo, Cascais,
- Sumol Summer Fest (5 e 6 de julho), Praia de São João, Costa da Caparica,
- Festival NOS Alive (11, 12 e 13 de julho), Passeio Marítimo de Algés,
- Festival EA Live Évora’24 (12, 13, 18, 19 e 20 de julho), Vinhas da Adega Cartuxa, Évora,
- Festival Super Bock Super Rock (16, 17 e 18 de julho), Herdade do Cabeço da Flauta, Meco,
- Festival Santa Maria Blues (18, 19 e 20 de julho), Ilha de Santa Maria, Açores,
- Festival MEO Marés Vivas (19, 20 e 21 de julho), Antigo parque de campismo da Madalena, V. N. Gaia,
- Festival Ponte D'Lima (1, 2 e 3 de agosto), Estrada da Veiga, Ponte de Lima,
- Vagos Metal Fest (2, 3 e 4 de agosto), Quinta do Ega, Vagos,
- Festival MEO Sudoeste (7, 8, 9 e 10 de agosto), Zambujeira do Mar, Odemira,
- SonicBlast Fest (7, 8, 9 e 10 de agosto), Praia dos Caldeirões, Âncora,
- Festival Bons Sons (8, 9, 10 e 11 de agosto), Cem Soldos, Tomar,
- Festival Vodafone Paredes de Coura (14, 15, 16 e 17 de agosto), Praia Fluvial do Tabuão, Paredes de Coura,
- Festival O Sol da Caparica (data a confirmar), Parque Urbano da Costa da Caparica,
- Festival CA Vilar dos Mouros (21, 22, 23 e 24 de agosto), Vilar de Mouros, Caminha,
- Festival Maré de Agosto (22, 23 e 24 de agosto), Ilha de Santa Maria, Açores,
- Festival MEO Kalorama (29, 30 e 31 de agosto), Parque da Bela Vista, Lisboa,
- Festa do Avante (6, 7 e 8 de setembro), Quinta da Atalaia, Seixal.

Observações

* Destes vinte e quatro festivais – como se vê uns mais badalados do que outros – encontramos preços muito díspares, segundo o ‘passe diário’ até ao ‘passe geral’ com todos os espetáculos, variando entre 27 e 360, atendendo ao cartaz apresentado ou ainda às condições de alojamento, muitas delas em campismo e mesmo aqui em modalidades diferentes.
* Todos os fins-de-semana – em certas situações em sobreposição – há propostas de entretenimento para todos (ou quase) os gostos, tendências ou mesmo consequências...
* Talvez não haja um perfil único dos clientes destes festivais, mas parece deduzir-se que são pessoas com capacidade económica acima da média dos portugueses, com gosto pela desinstalação (quanto baste) e em busca de algo que os/as possa preencher ou satisfazer, sabe-se lá o quê ou como...
* Valeria a pena estudar o que move tantos milhares de pessoas, algumas já não tão novas na idade como seria aceitável ou até razoável.



António Sílvio Couto

terça-feira, 21 de maio de 2024

‘Expo 98’ foi há 26 anos

 

No dia 22 de maio de 1998 abriram as portas da grande ‘Exposição internacional de Lisboa’, sob o tema - Os oceanos: um património com futuro... Decorreu até 30 de setembro desse mesmo ano e pretendeu comemorar os 500 anos dos descobrimentos portugueses. A data de ‘22 de maio’ quis assinalar a chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498. Em conexão com esta obra de grande significado (económico, urbanístico, ambiental e cultural) para aquela zona oriental de Lisboa, tinha sido inaugurada a Ponte Vasco da Gama, a 28 de março desse mesmo ano.

1. Eu tinha chegado poucos meses antes (outubro de 1997) a esta zona do país, na designada margem sul e foi com interesse e estupefacção que fui vendo tantas das modificações ainda percetíveis passados estes anos. Fervilhava a expetativa sobre quanto poderia ser a ‘Expo 98’, mesmo na vertente socio-religiosa, caminhávamos para a celebração do ‘Jubileu do ano 2000’ e sentia-se a necessidade de viver este marco histórico com novo vigor. Na Diocese de Setúbal estava-se a dar a passagem do primeiro bispo (depois de vinte e dois anos de pontificado) para o segundo que lhe sucedeu, nas palavras do primeiro: é sempre complicado substituir um vivo! Em breve ocorreriam os vinte e cinco anos de criação da diocese (16 de julho de 2000) e o clero era constituído por padres mais velhos (com experiência e sensibilidade à mudança acontecida) do tempo do patriarcado de Lisboa e alguns outros procedentes de outras dioceses, mas com poucas vocações oriundas do espaço entre o Tejo e o Sado. Parecia haver encanto, mas sob reserva quanto ao futuro a curto e a médio prazo...

2. Do lado norte do Tejo fervilhou, nesse verão, a Expo 98 com um total de onze milhões de visitantes, que tiveram a possibilidade de acesso a cerca de cinco mil eventos musicais, visitando pavilhões temáticos (do Futuro, da Realidade Virtual, da Utopia, de Portugal, do Conhecimento dos Mares, dos Oceanos, do Território, da Água) ou os pavilhões das centenas de países participantes. A título de exemplo vejamos os custos de ingresso, segundo as diversas modalidades: de um dia (5.000$00 - 25 euros), três dias (12.500$00 - 62,35 euros) e bilhetes diários apenas para a parte da noite (2500$00 - 12,50 euros). Existia também um passe livre com acesso ilimitado à exposição durante três meses (50.000$00 - 250 euros).

3. Arquitetonicamente, a Expo/98 revolucionou aquela parte da cidade onde foi instalada e influenciou as estratégias de requalificação urbana do panorama português - de alguma pode dizer-se que o ‘Parque das Nações’ - designação atual do espaço ocupado pela Expo/98 - é um exemplo de requalificação bem-sucedida dum espaço urbano.
A zona oriental de Lisboa é hoje uma espécie de um bairro mais moderno da cidade, concentrando áreas comerciais, culturais e de lazer com uma vista privilegiada do rio Tejo. A zona atraiu uma série de instituições e de empresas de grande nome, que aí basearam as suas sedes ou representações... Cerca de 28 mil pessoas habitam nas suas áreas residenciais Norte e Sul, integrando a freguesia do Parque das Nações e incluindo uma nova paróquia, a de Nossa Senhora dos Navegantes.

4. Diante do ‘sucesso’ relativo da Expo/98, mesmo que tendo ficado aquém dos quinze milhões de visitantes esperados e do prejuízo das obras - embora recuperado com com a venda de espaços para habitação e escritórios, verificou-se - segundo dados publicados, que, no fim do processo de venda de terrenos, as receitas terão superado o custo da exposição em oito vezes.
Contrariamente ao que aconteceu na exposição internacional anterior em Sevilha, em 1992, soubemos prevenir e corrigir aspetos que nos permitem, ainda hoje, visitar, passear e usufruir, mesmo para toda a população de uma iniciativa que aconteceu há vinte e seis anos atrás, tendo o rio Tejo como parceiro e não como mero cenário!



António Sílvio Couto

domingo, 19 de maio de 2024

Liberdade de expressão’: do direito ao bom senso

 


Lemos na Constituição da República Portuguesa sobre a liberdade de expressão e de informação:

«1. Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações.
2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura.
3. As infracções cometidas no exercício destes direitos ficam submetidas aos princípios gerais de direito criminal ou do ilícito de mera ordenação social, sendo a sua apreciação respectivamente da competência dos tribunais judiciais ou de entidade administrativa independente, nos termos da lei.
4. A todas as pessoas, singulares ou colectivas, é assegurado, em condições de igualdade e eficácia, o direito de resposta e de rectificação, bem como o direito a indemnização pelos danos sofridos» (artigo 37.º).

1. Diante deste articulado da designada lei básica do país, podemos e devemos questionar a mais recente polémica vista no Parlamento quanto à atitude do presidente do mesmo que considerou que não iria exercer qualquer censura para com nenhum deputado na expressão das suas ideias, sejam elas quais forem, usando a linguagem que ele considere mais adequada à sua liberdade de expressão...
O que vimos foi uma caterva de defensores de pequenas censuras – dessas que não se dá por elas, mas que farão engulho na engrenagem da comunicação – segundo uns certos critérios mais ou menos consagrados como tabus, como se estes fossem mais importantes do que a forma de viver e de se exprimir em liberdade. Dá a impressão que se pode falar de tudo, à exceção daquilo que uns tantos não querem que se possa falar livre e responsavelmente... A tala da censura continua a fazer vítimas, desde que sejam do outro lado da barreira ideológica mais primária e quase deprimente.

2. Onde fica, então, a fronteira entre dizer que o apetece e o assumir das consequências daquilo que é dito? Por onde anda a certeza de que os outros têm os mesmos direitos que reclamo para mim? Não será que certas posições sobre a liberdade de expressão ainda não sacudiram os preconceitos dos tempos que mediaram entre 25 de abril de 74 e 25 de novembro de 75? Não faltará uma boa dose de bom senso para que as armas usadas contra os adversários podem voltar-se contra quem as empunha?

3. Os tempos – sociais, culturais, económicos, laborais e cívicos – mudam, mas há quem seja tão fixista que só tente usufruir daquilo que lhe convém, podendo impedir que outras ideias sejam confrontadas, ao menos quando formos chamados a votar, por ocasião das eleições. Quantas vezes e de forma bastante rápida mudam as maiorias, tornando-se quase residuais quando sufragadas. Quem não se recorda da força de certos partidos de esquerda em vários países da Europa (democrata há decénios) e hoje nem lugar encontram nos resultados obtidos nas votações? Certos saudosistas desse passado (para eles) glorioso, continuam a fazer a mais triste figura do ‘velho do Restelo’, lamentando-se e definhando amargurados...

4. Na sua sabedoria provada pela experiência de vida, o nosso povo diz: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe! Assim, quem antes cantou vitória, em breve poderá chorar na derrota. Quem subiu também pode descer mais depressa do que julga. Quem não cuida dos interesses alheios com dignidade não espere que cuidem dos seus quando estiverem na mó de baixo ou mesmo debaixo da mó...

5. Num país, que se alguma coisa é no contexto europeu e mundial, o deve aos que daqui saíram e foram em busca de melhores condições de vida, não se concebe que não saiba acolher quem aqui chega nem deixe de fazer aos outros o que exigiram que fizessem aos nossos quando emigraram. Faz-me lembrar novamente a estória do neto que pergunta ao avô: é verdade que nós já demos novos mundo ao mundo e agora estamos pior do que os outros? Ao que o ancião respondeu: sabes, neto, nós somos descendentes dos que ficaram... isto é, dos que não arriscaram e, por isso, não saíram de cepa-torta...



António Sílvio Couto

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Eleições europeias com tiques bairristas, não, obrigado!

 


Na apreciação às próximas eleições para o Parlamento Europeu, uma deputada que o foi por diversas vezes nos tempos mais recentes, dizia que os temas da campanha eleitoral não podem reduzir-se a questões nacionais, até porque os deputados eleitos não influenciam tanto assim as decisões na União Europeia, que está noutros órgãos decisores.

1. Quais são as instituições da União Europeia e onde funcionam?
Existem quatro principais instituições de decisão que dirigem a administração da UE. Estas instituições proporcionam coletivamente à UE orientações políticas e desempenham diferentes papéis no processo legislativo: Parlamento Europeu (Bruxelas/Estrasburgo/Luxemburgo), Conselho Europeu (Bruxelas), Conselho da União Europeia (Bruxelas/Luxemburgo) e Comissão Europeia (Bruxelas/Luxemburgo/Representações em toda a UE).
O seu trabalho é complementado por outras instituições e organismos, que incluem: Tribunal de Justiça da União Europeia (Luxemburgo), Banco Central Europeu (Frankfurt) e Tribunal de Contas Europeu (Luxemburgo).

2. População e eurodeputados
O Parlamento Europeu é o coração da democracia europeia. Eleito diretamente pelas cidadãs e pelos cidadãos da UE, representa cerca de 450 milhões de eleitores europeus são chamados a escolher os 720 deputados ao Parlamento Europeu (PE), eleitos por cinco anos. Os eurodeputados representam os cidadãos europeus no PE. Portugal elege 21 deputados... O salário bruto é de 8.757,70 euros...para além de outros subsídios de alojamento e refeição, de deslocação, etc.

3. Grupos parlamentares
No Parlamento Europeu, os deputados eleitos estão enquadrados, basicamente, em sete grupos parlamentares, se tiverem elegidos pelos menos vinte e três deputados. Na eleição em curso os grupos parlamentares apresentaram à votação os respetivos candidatos, com a possibilidade de escolha do/a Presidente do Conselho executivo europeu. Eis a lista:
- Partido Popular Europeu (PPE) - Ursula von der Leyen
- Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) - Nicolas Schmidt
- Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa (Renew) - Marie-Agnes Strack-Zimmermann
- Grupo dos Verdes (Greens/EFA) - Bas Eickhout e Terry Reintke
- Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) - Não prevê eleger candidato à presidência.
- Grupo Identidade e Democracia (ID) - Não prevê eleger candidato à presidência.
- Grupo da Esquerda (The Left) - Walter Baier.

4. O que faz o Parlamento Europeu?
Adota leis em áreas que afetam a sua vida: ambiente, segurança, migração, políticas sociais, direitos dos consumidores, economia, Estado de direito e muitas mais. O voto de cada um decidirá quais serão os deputados ao Parlamento Europeu que ajudarão a elaborar novas leis (em conjunto com os governos dos países da UE), influenciar a eleição da Comissão Europeia, aprovar o orçamento da UE e controlar a forma como o dinheiro é gasto.

5. Temas abrangentes... em curso
Daquilo que temos visto e ouvido os ‘nossos’ candidatos parecem mais interessados em esgrimirem questões de bairro do que em falarem de assuntos com interesse para todos. No entanto, alguns têm emergido com significado europeu: migração, defesa, habitação, saúde, ambiente...para além das tricas domésticas quase de lana-caprina, senão com tendências ridículas…



António Sílvio Couto

terça-feira, 14 de maio de 2024

Aurora boreal – fenómeno ou sinal?

 

Por estes dias temos ouvido falar e fomos vendo imagens de um fenómeno designado de ‘aurora boreal’, que é caraterizado pela formação de luzes coloridas no céu. A ocorrência deste fenómeno está ligada à interação entre os ventos solares e elementos químicos, especialmente na camada da atmosfera chamada de termosfera. A ‘aurora boreal’ ocorre somente no Hemisfério Norte do planeta, enquanto esse mesmo fenómeno é desigando de ‘aurora austral’, quando ocorre em localidades do extremo sul do Hemisfério Sul.


1. O nome de ‘aurora boreal’ foi ‘batizado’ por Galileu, já em 1616, em em referência à deusa romana do amanhecer, Aurora, e Bóreas, deus grego, representante dos ventos nortes. A ocorrência deste fenómeno depende da atividade das fulgurações solares. Por seu turno a designação de ‘aurora austral’ foi cunhada por James Cook, numa referência direta ao fato de estar ao Sul.

2. As explicações tão científicas que temos ouvido serão assim credíveis na mentalidade mais popular? Não haverá – mesmo que forma difusa – outras leituras sobre este fenómeno da ‘aurora boreal’? Atendendo a outras situações em que este fenómeno foi percetível, poderemos ser induzidos em apreciações mais ou menos tétricas? Por que será que isto foi visto e falado na proximidade à celebração do ‘13 de maio’? Tendo em conta outras narrativas do passado, este fenómeno poderá envolver algo de sinal, para crentes ou não crédulos?

3. Este fenómeno foi observado noutros locais do planeta, havendo relatos de tal acontecimento em diferentes países. Quanto a Portugal, esta não foi a única ocasião em que se pôde observar uma aurora boreal. Ao longo do século XIX, encontramos documentados treze relatos, entre 8 de fevereiro de 1817 e 7 de julho de 1872. Quanto aos registos no séc. XX, existem dois registos de tal acontecimento- a 25 de janeiro de 1938 e a 21 de janeiro de 1957.

4. Fixemos a atenção em ecos sobre o relato da ‘aurora boreal’ de 1938.
Em 25 de janeiro de 1938, uma grande luz iluminou os céus da Europa, como uma ‘aurora boreal’ incomum, vista em latitudes onde isso normalmente isso não ocorria. Muitos interpretaram aquelas luzes como o anúncio da proximidade daquela “pior” guerra que se avizinhava, a maior já vista pela humanidade até então. Não podemos deixar de referir que alguns mais atrevidos na leitura das coisas misteriosas viram naquela ‘aurora boreal’ de 1938 um aviso do Céu quanto ao que estava a acontecer – guerra civil espanhola – e dois anos mais tarde eclodiu a segunda guerra mundial.
Alguns setores mais restritivos – dentro e fora do contexto católico – leram nesse tempo um aviso celeste enquadrado na ‘mensagem de Nossa Senhora em Fátima’ e quanto à difusão dos erros do comunismo, a partir da Rússia...ontem como hoje.

5. Agora que ainda não digerimos totalmente estes dias de ‘aurora boreal’ talvez seja necessário incluir nas interpretações, para além das explicações científicas mais simples ou mesmo cientifistas, as nossas observações pelo vetor da fé e do questionamento daquilo que Deus nos quer dizer, ultrapassando o mero espetáculo audiovisual. Estamos num tempo onde ‘se vive como se Deus não existisse’ – dizia-nos o Papa Bento XVI, em repetidas situações – e, por vezes, parece mais fácil ficar-se pela espuma das coisas do que tentar entrar mais a fundo na compreensão dos sinais de Deus na história dos humanos.

6. Mais do que difundir medos e de entrarmos em leituras tenebrosas, importa ser capaz de gerir as expetativas da presença de Deus nos acontecimentos pessoais e familiares, nacionais e internacionais, por entre luzes e sombras, alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos homens de hoje...



António Sílvio Couto

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Dos ‘socialites’ libera nos, domine!

 

Depois da dose em excesso, nos vários canais de informação e de entretenimento, na qual ouvimos falar deste termo ‘socialite’ fui à procura da descrição disso que tem pejado, na última semana, as notícias, quanto a um pretenso sujeito – mais parece objeto, no conteúdo e na forma – classificado de ‘socialite’.

Eis a discrição que li e registei:
- Na Wikipedia
Socialite é uma palavra inglesa que designa uma pessoa de destaque nas camadas mais altas da sociedade e frequentemente citada nas colunas sociais (colunável) por participar de eventos mediáticos da alta sociedade - beneficentes, festivos, culturais - tornando-se ou tentando se tornar pública e famosa por suas aparições. Geralmente tem meios para manter um padrão de consumo identificado com o da elite. Em Portugal, socialites são conhecidos como jet set. No Brasil, a denominação jet set é pouco utilizada.
O termo socialite foi introduzido na língua inglesa em 1928, pela revista ‘Time’, com o sentido de "pertencente à alta sociedade". Na época, grande parte das chamadas socialites envolvia-se em trabalhos filantrópicos.

- Na ‘Enciclopédia Significados’
Socialite é uma pessoa que faz parte de uma alta classe social, e que usa a sua influência na sociedade para promover e participar de eventos.
Esta costuma ser a ocupação de alguns indivíduos que, normalmente, pertencem a famílias financeiramente privilegiadas, membros da nobreza ou da aristocracia. Além de possuírem um grande poder económico, também buscam manter presença constante em festas mediáticas, aparecendo em colunas sociais, por exemplo.
Quem é socialite costuma pertencer a um grupo social limitado e de destaque, com grande popularidade e que usufrui de privilégios entre os demais membros da sociedade.
O conceito de socialite teria surgido entre os séculos XVIII e XIX, em referência às esposas e amantes dos membros da realeza. No entanto, ao contrário do significado atual, naquela época ser uma socialite não era uma atividade muito prazerosa, mas sim um modo de sobrevivência na Corte. Por exemplo, as esposas dos nobres tinham a obrigação de manter sempre a simpatia ao hospedar as pessoas que não gostavam. Enquanto isso, as amantes deviam usar as suas habilidades sociais para manter o interesse de seus namorados e para obter favores dentro da Corte.

- Feita esta informação sobre o conceito, os intervenientes e as notícias que provocam, que poderemos dizer sobre tais personalidades: é gente normal ou revela algo de submundo deste panorama da superficialidade? Onde podemos encontrar a verdade e a manipulação? A quem se deve a promoção de tais figuras, aos próprios ou aos que delas se aproveitam e as exploram? Não haverá por aí algo de doentio e mesmo de paranóico em que se servem dessas personagens ou que encarnam (ou interpreta) tais papéis?

- O que vimos nos dias mais recentes deixa a manifesto o país terceiro-mundista em que ainda nos movemos e vivemos, pois gastar dias a fio para escarafunchar vidas de pessoas desequilibradas emocional e psicologicamente traz à superfície do ‘eu coletivo’ o pior da condição humana, desde quem assim vive, quem se entretém a ver e ouvir e quem difunde tais ocorrências.

- De todos os socialites, encapotados e mesmo sem cobertura mediática, ‘libera nos, Domine’, agora e para sempre!



António Sílvio Couto

quarta-feira, 8 de maio de 2024

‘Ir a pé’ (Fátima, Santiago, etc) – leituras e interpretações

 

Por estes dias ouvimos e vemos imagens de pessoas – de diversas idades – que caminham a pé para Fátima. Perante a variedade de razões como que emergem múltiplas explicações, escutamos diferentes interpretações, podemos dar-lhe imensas leituras, razoáveis significações... tanto pessoais (individuais) como de ou em grupo (mais ou menos extenso ou simbólico). Será que esta atitude de ‘ir a pé’ – seja a Fátima, seja a outro qualquer lugar religioso ou não – pode entrar no conceito de peregrinação? Esta implica algo de específico? As novas formas de ‘ir a pé’ inserem-se nalguma outra forma de estar na vida?

Sem pretensão de julgar nada nem ninguém ouso trazer ao questionamento esta nova forma de estar...mesmo dentro de uma certa vivência religiosa, mais ou menos cristã e católica em particular.

1. Se cada pessoa pode ter a sua motivação – por vezes nem sempre fácil de verbalizar de modo que os outros entendam ou compreendam – poderemos escutar milhentas explicações para encetar e viver este ‘ir a pé’ de um lugar para outro com maior ou menor sentido religioso, cultural e cívico. Fixemo-nos na experiência das pessoas que vão a Fátima ‘a pé’. Razões de índole íntima – mais do foro da consciência – como o reconhecimento por algum favor divino – a expressão ‘pagar uma promessa’ parece um tanto primária – ou por intenção de gratidão mesmo familiar. Outros dizem fazer esta participação de ‘ir a pé a Fátima’ por curiosidade ou ainda como forma de estar com outros caminhando em idêntica atitude. A valorização deste percurso para Fátima – à semelhança do que acontece com Santiago de Compostela – nota-se que já está culturalmente organizado com trilhos e caminhos assinalados e com indicações nas estradas e povoações por onde podem ou devem passar: tanto do norte como do sul encontramos sinais e propostas que facilitam a ‘viagem’. Já vai longe o tempo em que as pessoas iam à deriva, isto é, sem nada previsto e na confiança naquilo que lhe oferecessem, tanto comida como alojamento. Hoje nota-se, na maior parte dos grupos – alguns deles, na minha visão, com pessoas em excesso – que há estruturas de acompanhamento para as refeições e as pernoitas previamente cuidadas. Nalguns casos o tempo de descanso é já em hóteis reservados com meses de antecedência...

2. Uma das designações para com estas pessoas que vão a Fátima a pé, costuma ser a de ‘peregrinos’. Mas sê-lo-ão no sentido estrito do conceito? De facto, ser peregrino implica estar em caminho – tanto andando a pé como noutra forma de deslocação – de um lugar para outro. Nesse sentido estas formas de ‘ir a pé a Fátima’ encaixa no conceito lato de peregrino, mas poderemos e deveremos não deixar cair o termo numa descrição tão ampla que se esboroe a noção de peregrinação no sentido religioso e, porque não, na vivência cristã da experiência.
De facto, certas formas de ‘ir a pé a Fátima’ dão-nos uma alguma noção de fé que move tantas pessoas. No entanto, noutros casos não parece bem o que deveria ser, dado que mais parece uma extensão das habituais ‘caminhadas higiénicas’ ou para manter a linha de emagrecimento. Ora, algo deve ser refletido sobre este assunto ou, então, poderemos cair na banalização do tema e da sua vivência, podendo ser até pedra-de-escândalo para quem não tenha um mínimo de fé e que possa humorizar com o assunto.

3. Recordo uma frase que ouvi, há anos, a uma escritora portuguesa, por sinal não me parecendo desprovida de fé católica: em muitas coisas que ocorrem em Fátima parece que falta alguma dignidade na fé! Com efeito, certos gestos e sinais, alguns trejeitos e devoções, vários recursos e manifestações deixam escapar que a fé católica é muito mais do que aquilo... e mesmo, ao vermos idas a pé a Fátima, podem enquadrar-se nesta avaliação de não tal fiel dignidade para com Nossa Senhora e Deus.



António Sílvio Couto

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Lixo: que solução, agora e no futuro?

 


Uma greve dos funcionários da estação (quase distrital) de tratamento do lixo condicionou que os carros de recolha do dito, tendo algumas autarquias avisado a população para que não colocassem os resíduos domésticos nos contentores e nos ecopontos.

Ora, esta questão deixou-me a pensar sobre este tema do lixo, que nós só sentimos o seu efeito quando algo sai da normalidade, por mais ou menos tempo.

1. Algumas perguntas sobre este assunto: haverá alguma relação entre a produção de lixo e a capacidade de enriquecimento das sociedades? Quanto produz, em média, cada português de lixo, anual e/ou diariamente? Se nos ativermos à fatura da água, qual a proporção entre aquela e a taxa de resíduos sólidos sem esquecer o que se paga também de saneamento?
Deixo, desde já, a título de exemplo a transcrição do resumo da faturação do local onde atualmente vivo: valor total a pagar - 11,79 euros: 1,85 euros de água; 3,62 euros de saneamento; 4,68 euros de resíduos sólidos; taxas, 1,52 euros; 0,12 euros de iva...

2. Tentemos entrar nos meandros desse tal puzzle da ‘fatura da água’... e dos diversos adereços que lhe estão apensados.
Segundo uma associação (dita) ecologista – escuso-me de referir o nome para não ferir suscetibilidades e quase preconceitos – o mundo gera anualmente 2,01 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Os resíduos gerados por pessoa têm hoje uma média de 0,74kg, mas as diferenças entre as regiões são grandes. Em Portugal era gerado, em 2019, segundo a mesma organização, cerca de 1,4 kg de resíduos por pessoa por dia...ligeiramente acima da média europeia. Pior que a Europa neste ‘ranking’ só a América do Norte, com uma produção de mais de 2 kg, em média, por pessoa”.
Atendendo às informações da mesma associação com interesses ecologistas, “se continuamos neste ritmo de consumir e deitar fora, onde os principais destinos dos resíduos em Portugal são a deposição ou a incineração, as metas vão continuar a não ser cumpridas, em breve esgotamos os aterros e estaremos cada vez mais preocupados a fazer contas para controlar as emissões de ‘Gases com Efeitos de Estufa’ provenientes da deposição ou queima do lixo”.
Segundo a mesma fonte, em Portugal continental a reciclagem de resíduos de embalagem é “insatisfatória”, nas redes de tratamento e gestão, e “mediana” nos serviços de recolha: “Cerca de 9% dos resíduos de embalagens recolhidos para reciclagem não foram reciclados, o que sugere que uma parte destes não está a ser bem separada”...

3. Eis o panorama pouco animador da produção de lixo, do seu tratamento e, sobretudo, do futuro do meio ambiente, mesmo sem ideias, projetos ou programas tão fundamentalistas como aqueles que temos visto a proliferar nos tempos mais recentes. Repare-se nas ações de protestos de certos (ditos) climáticos e veremos que o caminho por onde vamos deixará mais resíduos do que bom tratamento do lixo (e afins) que cada um de nós produz com maior ou menor consciência e necessidade.
«A grande riqueza da espiritualidade cristã, proveniente de vinte séculos de experiências pessoais e comunitárias, constitui uma magnífica contribuição para o esforço de renovar a humanidade. Desejo propor aos cristãos algumas linhas de espiritualidade ecológica que nascem das convicções da nossa fé, pois aquilo que o Evangelho nos ensina tem consequências no nosso modo de pensar, sentir e viver. Não se trata tanto de propor ideias, como sobretudo falar das motivações que derivam da espiritualidade para alimentar uma paixão pelo cuidado do mundo. (...) Temos de reconhecer que nós, cristãos, nem sempre recolhemos e fizemos frutificar as riquezas dadas por Deus à Igreja, nas quais a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia» (Papa Francisco, Laudato sì, n.º 217).



António Sílvio Couto