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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Cem dias depois - entrevista com o Cardeal

 


Decorridos mais de cem dias sobre a sua presença na Diocese de Setúbal, como bispo titular, D. Américo Aguiar prestou-se para dar uma ‘grande entrevista’ – é título da rubrica na televisão estatal – precisamente na ‘quarta-feira de cinzas’.

Passou por vários temas - vida política (que não meramente partidária), situação geral e genérica da diocese, questões sociais (pobreza, prisões, mobilidade, emprego) que já viu nas suas visitas, as razões da sua escolha pelo Papa para ser bispo de Setúbal, a avaliação das JMJ, pronunciamento sobre a temática dos abusos sexuais e as bênçãos a ‘todos, todos, todos’, acenando com algumas perspetivas futuras...tanto sociais como eclesiais.
Falou muito de fora (e para fora) e pouco de casa, isto é, da Igreja (instituição e espaço) e para casa. Até respondeu à situação de ter sido noticiada a sua consulta médica de exame à próstata, com sendo um incentivo a que outros homens enfrentem a questão sem medo, pois ele o fez como ‘prova superada’.
Atendendo a que não estamos habituados a ver um bispo – no caso até um cardeal – a falar com tanta franqueza sobre assuntos que alguns podem considerar tabus, ficou-me a sensação de que D. Américo quer imprimir um novo ritmo na intervenção da Igreja na vida política. Falou longamente sobre a necessidade de que os cristãos tenham intervenção na vida cívica, não só falando, mas sobretudo intervindo e, primeiramente, votando. Disso deu o seu exemplo com as reuniões que já teve com os dezassete cabeças de lista dos partidos políticos concorrem no círculo eleitoral de Setúbal. Chegou - creio que bem - a dizer que não votar é pecado!
Quando lhe foi perguntado sobre a sua participação partidária em tempo de jovem, explicou o enquadramento e alicerçou as razões na formação escutista, que o leva, ainda hoje, a fazer algo pelos outros...
Sobre as Jornadas Mundiais da juventude deixou escapar – pois as contas da auditoria ainda não estão fechadas – que o evento terá um lucro de mais de vinte milhões de euros, que serão aplicados em iniciativas ligadas aos jovens, como por exemplo residências universitárias.
Notou-se – mesmo pelas questões colocadas pelo entrevistador – que D. Américo estava ali para falar mais para fora do que para dentro, pois ele contactou (visitando e dando disso nota nas fotos que vai publicando regularmente) mais com as estruturas sociais do que que as paróquias e as realidades eclesiais. Vimos um bispo que fala e comunica com a sociedade civil e civilista mais do que em configuração eclesiástica. Não lhe foi perguntado sobre as modificações feitas nos serviços diocesanos ou em perspetiva, nem sequer se pronunciou sobre os cinquenta anos da Diocese, em 2025, e tão pouco sobre os seus antecessores, se bem que se pretenda herdeiro do primeiro bispo, seu conterrâneo.
Agora que se falou para fora não estará na hora de ir ao encontro dos de dentro? São poucos, é verdade, cerca de cinco por cento dos habitantes no território entre o Tejo e o Sado, mas precisam de ser cuidados com atenção. Que os próximos cem dias possam ter esta marca de procura das ovelhas ainda no redil!

Ousando parafrasear o lema episcopal de D. Américo Aguiar, diria a Deus e aos humanos: ‘nas tuas mãos’, agora e no futuro!



António Sílvio Couto

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