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sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Qual a conexão entre Assunção e ser padre?


A lista de padres ordenados em 15 de agosto é significativa. Talvez seja a data em que se verificam – desde há longos anos – mais aniversários de ordenação de padres e até de alguns que agora são bispos (6). O número global é de 241… na sua maioria das dioceses de Braga, Viana do Castelo, Coimbra, Porto, Leiria-Fátima e Lisboa…à mistura com alguns de Lamego e de Santarém. Neste ano nota-se a ocorrência de diversas efemérides de jubileu, sobretudo de ‘bodas de ouro’ sacerdotais.

Apesar de esta data ter sido escolhida, sobretudo, na década de 60 do século passado – na maioria dos casos por ocasião do Concílio Vaticano II – haverá alguma simbologia na preferência e no seu significado? Como se pode fazer a correlação entre o mistério celebrado e o ministério exercido? Como poderemos articular as diversas incidências entre a dimensão mariana e a expressão de sacerdócio ministerial?

Deixo aqui a reprodução de um texto medieval sobre o ministério sacerdotal, encontrado em Estrasburgo, França, tentando colocar as linhas essenciais sobre aquilo que, envolto em consonância, poder-nos-á aferir à mais profunda conexão teológica, espiritual e cultural…entre a Assunção de Nossa Senhora e o ser padre.

«Ser padre é ser grande e pequeno

Nobre de espírito como sangue real,

Simples e natural como de húmus camponês.

Um herói na conquista de si,

Um homem que se bateu com Deus,

Uma fonte de santificação,

Um pecador perdoado,

Um homem mestre dos seus desejos,

Um servidor para os tímidos e os fracos,

Que não se humilha diante dos poderosos

Mas se curva diante dos pobres».

Respiguemos, agora, aspetos contidos em mensagem neste texto.

Desde logo o grande mistério de um ser humano ter sido chamado a exercer funções de incidência divina. Com efeito, ser padre é uma graça, um chamamento e uma vocação… onde o mistério divino como que suplanta todas as condicionantes humanas, muitas delas bem mais profundas do que é percetível à compreensão natural. Quantas vezes Deus chama alguém que até nem é o mais dotado – humana, intelectual ou economicamente – e, ao lado, fica outro (ou outros) que teria mais condições de ser isso que se pensava poder preencher os requisitos de tal tarefa… Quantas vezes uma família acolhe esse dom de um filho chamado ao seminário com tantos e heroicos sacrifícios, enquanto outros mais abonados até ao nível financeiro se retraem coartando uma possibilidade de discernimento vocacional a longo prazo… Quantas situações vi, conheci e senti de rapazes bons para poder vir a ser padres e foram ficando pelo caminho, embora fazendo, hoje, em muitas localidades, as referências humanas e culturais…

Efetiva e afetivamente a conexão entre a celebração da Assunção de Nossa Senhora e o ministério sacerdotal faz-se nessa imensa visão de estarmos de olhar voltado para o Além, numa tentativa de sermos nesta condição terrena as sentinelas divinas e os mensageiros da profecia de Jesus Cristo.

O cântico do Magnificat (Lc 1,46-55) resume tanto a vivência de Maria, na sua expressão máxima pela solenidade da Assunção, como é (ou pode ser) projeto de vida para qualquer padre ao longo do exercício do seu ministério. Assim o consigamos entender, viver e testemunhar!    

 

António Sílvio Couto

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