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sábado, 3 de agosto de 2019

Estar ‘de pé atrás’… desafio ou atitude?


No linguajar português há expressões que revelam muito daquilo que nós somos, mesmo que nem sempre o consigamos atingir na totalidade.

A expressão em análise – ‘de pé atrás’ – pode traduzir-se por sinónimos como: estar desconfiado, com medo, inseguro… tanto nas questões pessoais, como nos aspetos sociais, sem negligenciar o que se possa referir às incidências culturais mais ou menos assumidas ou até subterrâneas…

Atendendo à época em que nos exprimimos teremos subjacente essa espécie de metamorfose que percorre muitos dos comportamentos visíveis… de tanta gente (já) em férias, sem esquecermos alguns outros assuntos da vida política do passado, no presente e para o futuro.

 

= Coisas e loisas de férias: dá para perceber, nesta sociedade de papel de lustro – isto é, do faz-de-conta, do julgar os outros pela marca que vestem (ou não), de ter imagem à custa do engano – há quem se arvore em julgador pela aparência que tenta ostentar. Traduzido com a expressão ‘estar de pé atrás’ quererá significar que estaremos perante alguém que talvez seja muito mais (ou menos) do que aquilo que tenta parecer.

Neste tempo de veraneio devemos exercitar como atitude o ‘estar de pé atrás’ perante tantas e tão diversificadas situações que podemos ver nos outros – e por eles questionar-nos a nós mesmos – desde logo pelo lugar onde se diz ter ido de férias: será real, ficcionado, concreto ou virtual… pois há locais que não passam de palcos de vaidade, onde ser visto por lá como que parece dar estatuto social em maré de ‘détente’!  

= Absurdo dos absortos: na imensa incongruência da vida em política à portuguesa assistimos, nos últimos tempos, à discussão em volta dumas golas que se inflamaram mais pela palavra – dita, mal dita ou menos bem escrita – do que pelas consequências que se pretendiam obviar… Com tantas conjeturas sobre a lei em vigor houve uns tantos mais absortos – distraídos, alheados, sonhadores – que, fazendo parte da ideologia reinante e reinadora, pouco se incomodaram com aquilo que impendia sobre as cabeças dos prevaricadores, qual espada de Dâmocles do mito grego… Com efeito, será de boa recomendação que nos coloquemos de ‘pé atrás’ sobre algumas das peripécias da nossa vida partidária, pois aquilo que seria um chinfrim de contestação, agora tornou-se uma espécie da ressalva de opinião; aquilo que deveria provocar a queda dos usufrutuários, agora serve para flutuar na boa onda de reinação; aquilo que daria para que o protesto dos mais defensores do regime de estado absoluto, agora cingem-se à mudez num manto de absoluto silêncio cúmplice, concordante e hipócrita.

Porque será que alguns, quando estão no poder, se acham acima da lei, da legislação e mesmo da justiça? Porque será que se verificam tantas coincidências nas prevaricações e quase nunca há castigos nem sancionamentos? Porque será que os executores das leis se consideram fora da abrangência das mesmas e atiram para fora da sua governação os malefícios que lhes deviam ser imputados?

Este é um filme – ou mesmo uma série – ‘dejá vu’ na nossa sociedade tão complacente quando tem dinheiro para gastar, mesmo que não saiba de onde lhe veio…2011 foi há pouco tempo! 

= ‘Sealy season’ em campanha eleitoral: a dita época de descanso em que pouco acontece de relevante, este ano tem um novo figurino, pois, no início de outubro, haverá eleições e os candidatos andarão numa roda-viva a disputar a atenção dos eleitores pouco interessados nas ‘promessas’ de ontem, recauchutadas para amanhã. Temos de saber estar ‘de pé atrás’, isto é, na desconfiança com aquilo que nos querem impingir, pois a maior parte das questões são rançosas de novidade, parcas de compromisso e negligentes de sentido. Bastantes dos figurinos estão gastos de inutilidade e ainda continuam a apostar no seu contributo. Muitos dos estribilhos de propaganda estão esfarelados de conteúdo. Bastantes dos intervenientes estão fora de validade, mas, porque não há melhor, continuam a apostar nesses menos credíveis, aceitáveis e verossímeis.

De facto, estar de ‘pé atrás’ tem de ser uma atitude para com tanta gente que continua a empestar a nossa cultura com arranjos de classe ‘b’ e a promover figurinhas secundárias, sabe lá até quando. Precisamos de escolher com a cabeça e não só com o estômago…de ricos falidos!

 

António Sílvio Couto

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