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sábado, 26 de janeiro de 2019

Corja… quem e porquê?


Segundo vários dicionários em uso na língua portuguesa, ‘corja’ significa um ‘conjunto de pessoas caraterizadas por péssima índole, pelo mau caráter ou má conduta’. Seguindo a linha de ser uma espécie de associação, ‘corja’ pode ser um ‘coletivo de ladrões, vadios, desordeiros’ ou ainda um ‘grupo de indivíduos vis e desprezíveis, canalhada, súcia, malta, ralé, gentalha’…

O uso deste termo ‘corja’ é, nitidamente, considerado depreciativo para com quem é, assim, mimoseado… seja qual for o contexto e/ou o âmbito de intervenção. De facto, daquilo que conhecemos, o uso da palavra ‘corja’ pretende ofender quem com tal adjetivo se vê qualificado. O problema situa-se da perspetiva de quem classifica de ‘corja’ outrem, na medida em que será preciso conhecer os factos que levam a tal referência, podendo, pelo contrário, atirar-lhe com ‘corja’ à personalidade numa espécie de antecipação para que não mereça, por seu turno, idêntico tratamento. Assim se pode compreender a troca de epítetos com que temos sido assaltados, procurando descortinar quem usou primeiro ou se a resposta teve provocação… 

= Dá a impressão que as pessoas começaram um caminho de ofensa, que poderá ser complicado de suster, tais são as etapas de vulgarização e dos meios usados para que tal se possa verificar. Com a larga difusão – sem filtros nem critérios – das redes sociais temos vindo a conhecer um sem-limite para dizer, fazer mal ou ofender seja a quem for, mesmo que se coloquem os ingredientes mínimos: as pessoas têm-se vindo a nivelar, cada vez mais, pela bitola da asneira, num processo de ‘quanto pior, melhor’ e sem olhar a meios para atingir os (seus) fins…mesmo que os mais ignóbeis. 

- O respeito pela integridade moral dos outros deixou de ser valor a preservar ou a defender. Com razoável aceitação dos internautas e/ou frequentadores das redes sociais proliferam insinuações sobre tudo e para com todos… escapar desse tribunal sem juiz será uma façanha de atroz martírio e competição.

- Agora já ninguém é insuspeito, mas terá de provar que não o é, se alguém se lembrar de dizer o contrário. Com efeito, vivemos na inconsistência do contraditório, pois um alguém, até sob o anonimato, poderá lançar uma dúvida, que logo muitos outros se pronunciam sobre isso, mesmo que não conheçam os visados ou nem tenham qualidade para se declararem sobre o assunto… 

= Dada a velocidade com que as notícias, as opiniões, os factos ou as situações se verificam, temos, urgentemente (até parece que entramos em contradição), de serenar as águas turvas, as ideias virulentas, as confusões de querermos tudo depressa e sem maturação suficiente.

Eis um excerto da mensagem do Papa Francisco para o próximo dia mundial das comunicações sociais, que ocorre a 2 de junho:

«O panorama atual convida-nos, a todos nós, a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade. Por maior força de razão nós, cristãos, somos chamados a manifestar aquela comunhão que marca a nossa identidade de crentes. De facto, a própria fé é uma relação, um encontro; e nós, sob o impulso do amor de Deus, podemos comunicar, acolher e compreender o dom do outro e corresponder-lhe.

É precisamente a comunhão à imagem da Trindade que distingue a pessoa do indivíduo. Da fé num Deus que é Trindade, segue-se que, para ser eu mesmo, preciso do outro. Só sou verdadeiramente humano, verdadeiramente pessoal, se me relacionar com os outros. Com efeito, o termo pessoa conota o ser humano como «rosto», voltado para o outro, comprometido com os outros. A nossa vida cresce em humanidade passando do caráter individual ao caráter pessoal; o caminho autêntico de humanização vai do indivíduo que sente o outro como rival para a pessoa que nele reconhece um companheiro de viagem  

Esta sugestão do Papa Francisco precisa de fazer caminho, desde logo começando na Igreja católica, fazendo-nos sair do isolamento galopante com que certos/as religiosos/as (não tem a ver só com frades nem freiras) se engordam com as suas devoções e a ‘salvação’ da sua alminha! Os ditos ‘eremitas sociais’ – referidos na mensagem papal – são mais do que pensamos no contexto da nossa Igreja…

  

António Sílvio Couto

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