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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Serão as pessoas (mesmo) o essencial?


Para quem não estava habituado a ter equilíbrio orçamental e financeiro, com a possibilidade de melhoras na economia, dá a impressão que alguns se têm deslumbrado com o desempenho dos ganhos e o controlo das perdas… repercutindo-se isso nalguma aceitação nas sondagens. E nem a desculpa de que houve desenquadramento das declarações sobre o adjetivo ‘saboroso’ dado ao ano de 2017 pode-se e deve-se exigir maior seriedade naquilo que se diz e, sobretudo, como se diz, seja lá onde for.

Dá a impressão que alguns dos que ocupam os lugares do poder – ao nível do governo central, nas autarquias, nas instâncias intermédias (como repartições por onde circula o dinheiro…finanças e bancos), onde se cuida (ou devia) a saúde, nos espaços de segurança (social ou policial), nos estabelecimentos de atendimento ao público…mesmo nas esferas do religioso) – na vida de índole social e quase nos contatos pessoais, ficando-se com a sensação de que as pessoas não passam de números, obnubilando as feições dos rostos ou fazendo esquecer o que de mais específico tem cada um de nós. Para uma imensa maioria dos intervenientes nestas instâncias referidas, os pretensos eleitores/votantes/clientes só contam enquanto são precisos como potenciais instrumentalizados para colocarem nesses lugares os que depois mandam… como executantes dos programas de governança, dando a impressão de que seriam bem escusados se tal não fosse proposto pelas regras da ‘democracia’…À boa maneira de ouvir, ainda ouvem, mas mandar é para quem quer e pode! 

= Os factos mais recentes da nossa história/memória coletiva como que nos fazem acentuar esta impressão de que as pessoas não contam para quem governa, pois a massa anónima é fácil de manipular e os mentores do poder exercem-nos com tal autoritarismo que não é muito complicado desmontar as pretensões, os objetivos e as metas das suas façanhas mais ou menos sórdidas. A criação e manutenção de certas maiorias – sociológicas, económicas e culturais – mais uma vez andam à volta dessa espécie de infantilização das pessoas, tornando-as ainda como que joguetes nos interesses ideológicos, partidários e até religiosos duns poucos mais espertos sobre outros menos (bem) informados ou atentos. 

= Esta época do Natal toca por natureza do mistério da encarnação de Jesus o que há de mais humano e elevado da nossa condição: divinizados pelo Menino-Deus somos como irmanados na grande família humana, onde todos têm os mesmos direitos e consubstanciam idênticos deveres. É aqui, neste nó desatado por Jesus, que cada um de nós adquire a sua autêntica carta de libertação: n’Ele, por Ele e com Ele estamos vinculados a sermos e a vivermos como pessoas iguais perante tudo – e não só diante da lei –, nivelando seja qual for ou que está em configuração inferior ou superior. Por isso, tudo quanto foi ou está fora destes princípios será ofensa à dignidade da pessoa humana, seja ela quem for, tenha a idade que tiver, apresente a cultura ou instrução mais simples ou elaborada, revestia-se de que roupagem (cor ou etnia) qualquer, exiba ou não riqueza ou falta dela…

Dir-se-á que no Natal mergulhamos no que há de mais simples da nossa fraternidade e com isso nos fazemos mais irmãos de todos os homens/mulheres. Deste modo o sofrimento ou as menos boas condições de habitação, de alimentação, de emprego, de educação, de saúde, de segurança…é algo que nos afeta a todos, pois há alguém que não está a ser tratado conforme merece. Num tempo de razoável egoísmo tudo isto nos deveria tornar mais solidários, muito para além do que é visível ou notório. As provações dalguns fazem com que todos nos sintamos em dor e sofrimento também. Não podemos fechar-nos nem no nosso mundo familiar para adiarmos a construção da sociedade mais justa porque mais fraterna, solidária e cristã. 

= Está na hora de acordarmos dos nossos interesses e das nossas prendinhas em jeito de anzol, isto é, dando para receber em troca. Temos de estar presentes, fazendo dessa simples presença o melhor presente que não se compra nem se vende, mas que cuida, olha e acaricia quem precisa. O perfume que exala melhor odor é o que dá sem nada esperar em troca, pois se tem em conta que Jesus está naqueles que Ele coloca no nosso caminho para serem tratados com amor, compaixão e misericórdia. Assim haverá verdadeiro e sincero Natal!      

 

António Sílvio Couto  



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