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sábado, 16 de dezembro de 2017

Palavra do ano/2017


São candidatas (por ordem alfabética) a ‘palavra do ano’ de 2017, em Portugal: afeto, cativação, crescimento, desertificação, floresta, gentrificação, incêndios, independentista, peregrino e vencedor.

Esta iniciativa da ‘palavra do ano’ tem por promotor a Porto Editora, sendo seu ‘principal objetivo sublinhar a riqueza lexical e o dinamismo criativo da língua portuguesa, património vivo e precioso de todos os que nela se expressam, acentuando, assim, a importância das palavras e dos seus significados na produção individual e social dos sentidos com que vamos interpretando e construindo a própria vida’.

Reportando-nos a um certo arquivo podemos encontrar como ‘palavra do ano’ de 2009 – esmiuçar; de 2010 – vuvuzela; de 2011 – austeridade; de 2012 – entroikado; de 2013 – bombeiro; de 2014 – corrupção; de 2015 – refugiado; de 2016 – geringonça.

Por mim, para 2017, votei em ‘incêndios’!

A votação teve início em meados de maio deste ano e estende-se, tal como no ano passado, também a Angola e Moçambique, devendo ser anunciada a ‘palavra do ano’ vencedora nos primeiros dias de janeiro.  

= Se tivermos em conta outras iniciativas sobre ‘a palavra do ano’ poderemos referir que segundo o dicionário americano Merriam-Webster a palavra escolhida é ‘feminismo’, tendo presente a luta do movimento em favor das mulheres. Por seu turno, para o dicionário britânico Oxford, a palavra do ano é ‘youthquake’ (terramoto jovem), significando uma mudança cultural, política ou social provocada pelas ações ou a influência dos jovens.

Vemos, deste modo, duas visões em inglês de um e do outro lado do Atlântico, mas reveladoras das culturas em estão inseridas ou como são interpretadas as movimentações sociais nos nossos dias…  

= Se nos ativermos, em Portugal, às escolhas da ‘palavra do ano’ mais recentes podemos ver que elas como que resumem as vivências pessoais e coletivas, tendo em conta a sensibilidade dos votantes e dando-nos ainda perspetivas daquilo que ficará para o futuro de quem quiser interpretar isso que fez alguma história nas estórias decorridas.

De facto, a nossa vida é, efetiva e afetivamente, feita de inúmeros episódios que podem ser lidos mais tarde pelo arco da existência que se escreve por entre situações significativas e de outras que poderemos considerar banais, mas que o não são, pois foi também aí que crescemos sem nos darmos conta… Com que subtileza os anos passam e não podemos deixar que nos façam entrar na rotina dos dias nem das coisas… 

= Quando vemos e ouvimos o responsável máximo do governo em funções resumir o ano de 2017 como ‘saboroso’, dá vontade perguntar: em que país andou? Terá pisado a mesma terra daqueles que sofreram ou morreram por causa dos incêndios? Será que o poder faz as pessoas ficarem sem discernimento para compreenderem quem governam? Por onde anda o bom senso? Não seria preferível deixar os epítetos àqueles que são governados e não se arvorarem em juízes da causa própria? Não seria, antes, de sentir a consciência chamuscada com mais de cem mortos nos incêndios? Este ‘saboroso’ cheira a esturro! 

= Sem querer dar lições, parece que umas das maiores crises da sociedade ocidental, da Europa em particular e de Portugal em especial, é a de não termos líderes à altura dos acontecimentos nem das necessidades mais simples. Talvez estejamos a colher da deficiente sementeira das décadas mais recentes, onde se quis privilegiar o imediatismo e não tanto a visão com futuro, onde os responsáveis olharam mais para a sua sombra – promovendo os seus apaniguados – do que quiseram ter visão de futuro. Com efeito, temos andado, nas mais diferentes instâncias, a fazer o imediato e não a tratarmos do necessário. Ora, o investimento em bons (ou razoáveis) dirigentes não tem sido a prioritária opção dos que ocuparam as tarefas de autoridade, preferindo o poder…com as ilusões que lhe estão apensas.

Desgraçado país e/ou cultura que não consegue perceber para onde caminha. Pessoas com mais humildade, verdade e serviço, precisa-se!

 

António Sílvio Couto



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