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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Depois da geringonça…vem o zingarelho?


Desde o ano de 2016 que é recorrente ouvirmos falar de ‘geringonça’ – foi a ‘palavra do ano’ mais votada – resumindo uma solução política à portuguesa, que vem reinando… por entre sucessos bem propagandeados e vicissitudes nem sempre assumidas, desde que se vá fazendo a vontade aos que condicionam o apoio de governação. As forças constituintes da geringonça situam-se no espetro ideológico – intra e extra parlamentar – por entre o marxismo, o trotskismo e o socialismo quanto baste… desde que possa haver poder.

Qual o significado de zingarelho, que apensamos no título? Zingarelho é um objeto, geralmente complexo, desconhecido, bizarro ou que funciona mal… devido a ser desconhecido o seu modo de funcionamento.

Que será, então, na política, zingarelho?

Poderá surgir como uma outra solução – sobretudo com incidência após as recentes eleições autárquicas – onde as forças em coligação são tão díspares – por forma a conseguir as maiorias de entendimento – na origem, na composição e na esquisita ligação, que quase não se entende o resultado final…a não ser pela inexaurível ânsia do poder. 

= Agora que a maior parte dos executivos camarários e das juntas de freguesias tentam entrar em funções poderemos assistir a múltiplos zingarelhos espalhados por aí…atendendo aos intentos, às vontades ou mesmo às necessidades. Poderá ainda acontecer que as fações partidárias deem lugar a soluções de conveniência ou tendo em conta as pretensões mais esconsas…de governabilidade.

Parece que já foi ultrapassado o tempo em que, quem ganhava – com ou sem maioria – tentava executar o seu programa, assumindo as consequências de poder ser vetado pelo resto dos eleitos para os cargos. Agora, dado o exemplo bizarro saído das conveniências ao nível do governo central, poderemos assistir a múltiplas geringonças ou ter de aturar pactos de zingarelho mal entretecidos…

Perante tantas aspirações a estar ou a prolongar-se no poder como que sentimos necessidade de questionar as soluções encontradas, pois, em muitos casos, não foi para isso que se pronunciaram os eleitores. Se votaram para retirar a maioria aos que estavam no poder, é correto agora fazerem-se coligações para viabilizar a governação? Se tal se verificar, quem isso fizer não merece a confiança depositada, pois não foi para se aproveitar das circunstâncias de aceder às franjas do poder… 

= Em muitas situações da vida é preciso saber ganhar e aprender a perder, pois naquele se pode ser humilde e neste se deve erguer com dignidade. Ora, nem sempre é isso que temos visto. Alguns quando ganham tornam-se tão exuberantes que se esquecem das derrotas por onde já passaram para conseguirem os feitos atuais. Outros quando perdem como que descartam as razões pelas quais foram vencidos, em muitos dos casos por impreparação e até por incapacidade de aglutinar outros para o mesmo projeto.

Se há momentos em que possamos a conhecer melhor as pessoas é quando ganham, noutras circunstâncias é quando perdem. Quando se ganha será da mais elementar justiça não esquecer quem ajudou a conseguir tais façanhas, nunca apropriando a si a vitória, mas repartindo-a com outros tanto ou mais merecedores dela. Quando acontece a derrota será da mais elementar correção assumir os erros e fazer deles capacidade de novos momentos de vitória… ao menos moral, num futuro não muito longínquo.  

= O que temos podido observar – sejam quais forem as eleições em disputa ou os espaços de contenda – é com muita facilidade que se passa ao momento seguinte, isto é, ao de vangloriar-se ou ao de carpir as mágoas, sem ser feita a análise sensata e reflexiva dessas vivências, com as implicações que isso tem no amadurecimento de cada um de nós, tanto no campo dos vencedores, como na área dos vencidos.

O pior de tudo é quando as pessoas nunca são avaliadas, pois desertam do serviço aos outros e com isso pensam nada ter a aprender. Dos ‘treinadores de bancada’ não reza a história, a não ser um possível asterisco minúsculo no rodapé da insignificância tolerada.

Precisamos de colocar os nossos dons/talentos a render ou seremos apelidados de inúteis e maus servidores, seja qual for o campo de intervenção na vida…em geringonça ou pelo zingarelho!   

 

António Sílvio Couto



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