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terça-feira, 24 de outubro de 2017

Cem euros em compras por dia



Segundo dados recentemente revelados, entre janeiro e setembro deste ano, os portugueses gastaram, em compras, via multibanco, nos estabelecimentos comerciais cerca de 97 milhões de euros por dia… Ora, se atendermos à possibilidade de sermos mais ou menos dez milhões de habitantes como se que se poderá dar uma média de cem euros de gastos diários… tendo em conta crianças, velhos, desempregados e quantos não ganham aquela quantia para disporem, em conjunto, de três mil euros por mês… Uma enormidade de aquisições em restaurantes, supermercados e lojas, na capacidade de ‘poder-de-compra’!

Tendo em conta ainda os dados publicitados, o mês de julho foi o mais gastador com 3,35 mil milhões de euros através de multibanco e o de menores gastos foi o de fevereiro com 2,47 mil milhões… Desde 2013, o aumento do volume de compras através do ‘dinheiro em cartão’ aumentou em trinta e cinco por cento…   

= Será suportável este ‘nível de vida’? Com tantos gastos como poderemos dizer que não estamos a crescer? Mas será este crescimento suportável com a produção real e não a ficcionada?

Tendo sido despejado – tanto, algum, muito – dinheiro sobre o povo, este saberá geri-lo sem excessos? Esta opção pelo consumo não nos trará razoáveis dissabores a curto prazo?

Atendendo a momentos anteriores da nossa cultura despesista, não estaremos a ser ludibriados com estes (pretensos) sucessos sem olhar a meios? Na medida em que vivemos numa bolha circunstancial de gastos, quem irá pagar a fatura de tanta ousadia? Será ainda possível fazer crer que não é pelo muito querer que se faz um país avançar de forma sustentável? 

= Porque não acredito em tudo isto que estamos – dizem os governantes – a viver, julgo ser razoável sugerir para mudarmos de carril, antes que as composições saiam dos trilhos. Não será pelo consumo que cresceremos, mas pela poupança e esta tornou-se algo abjurável para uma grande maioria dos portugueses. Já foi assim na era da abundância pré-socrática e, depois, tivemos que pagar com juros e austeridade nos anos subsequentes àquela governação. Não é, por isso, expetável que não venhamos – talvez dentro de quatro a cinco anos – a reviver momentos de aperto do cinto… mas aí os que agora semeiam pétalas de sucesso terão fugido ou terão sido derrotados como o foram os anteriores!

Não é preciso saber muito de economia e tão pouco dominar as artimanhas do orçamento para percebermos que, idênticas causas, dão resultados semelhantes… O problema é serem sempre os mesmos os causadores e os vendedores de ilusões, quais magos em feira de enganos…baratos  

= Goste-se ou não: nós, portugueses, não sabemos gerir os meios económicos que nos são dados e, pior ainda, quem governa não está interessado em dizer a verdade ao povo, pois isso fá-los-ia cair em desgraça à primeira curva em que tentassem enganar os (mais) incautos.

Não é possível viver gastando cem euros, em compras, por dia. Não é razoável que se pretenda fazer acreditar que todos estão a dormir e que, quem não se deixa levar na onda, é pessimista e não permite que o povo seja feliz. De que adianta dizer que se vive feliz, se isso é engano, falácia e pura invenção…real?  

Muitos dos que exigem (agora) aumentos de salários – sobretudo na fasquia do mínimo – não sabem nem querem saber as dificuldades que muitas instituições enfrentam para equilibrar as suas contas. Alguns – sobretudo na área dos sindicatos – são os mesmos que, com as suas reivindicações, levaram à falência imensas empresas e que agora se arvoram em defensores dos trabalhadores, quando foram eles quem mais os prejudicaram. Ainda há quem tenha memória! 

= Não basta despejar dinheiro sobre as massas trabalhadoras, se não lhes forem dados critérios para sobreviver para além desta vaga de sucesso…virtual. O futuro dirá quem tem razão, pois as leis da história não enganam, antes nos ajudam a prever consequências, debelando as causas!

Saiam dos gabinetes com ar acondicionado (não é erro ortográfico) e venham ver o povo real e sofredor… esse, sim, sabe o que custa a mentira, ontem como hoje e amanhã. 

 

António Sílvio Couto



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