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terça-feira, 25 de abril de 2017

Porque Fátima incomoda…tanto?


Parece que quem pretenda ser falado – padre ou leigo, cristão ou agnóstico…seja qual for a religião ou a tendência ideológica – poderá dizer umas coisas – sobretudo contra – sobre Fátima e logo anda nas bocas do mundo…mesmo que por efémeros segundos de menos boa fama.  

Quem recorda ainda a petição lançada, em outubro do ano passado, contra a visita do Papa a Fátima agora em maio? Acabei de consultar a adesão – ou foi antes visita, como eu, por curiosidade – conseguiu o número de 1.070 (mil e setenta) peticionários…

Por estes dias um ex-membro dum governo estendeu-se nas suas considerações contra o que aconteceu em Fátima há cem anos e muito daquilo que, desde então, foi vivido por milhões de pessoas, crentes ou não… O tal articulista-deputado não deixou de mostrar, minimamente, o ferrete do avental, tal era a argumentação triangular, mas deixando perceber que o texto pareceu mais sermão por encomenda…do que contributo de reflexão intelectual séria, sensata e serena. 

= Quem se fizer visitador de Fátima – santuário e recinto, basílicas e capelinha, zona próxima e espaços envolventes…até comerciais e de restauração – é tocado pela expressão de tantos e tão díspares peregrinos. Mas quem entrar naquele espaço restrito ou alargado em atitude de peregrino é confrontado com milhentas vivências de pessoas, de famílias, de situações e de problemas… A questão é essa: Fátima tem uma policromia de espiritualidades, em que cada um precisa de ser visto, acolhido e sentido como cada qual…

Mal vai a nossa sintonia com Fátima se houver quem pretenda impor aos outros a sua mais pessoal (íntima ou intimista) experiência. Por isso, não se pode dar lições nem tão pouco fazer nivelar por si o que faz parte do património humano e cultural de tantas fés… mais ou menos conscientes, mais ou menos cristãs, mais ou menos católicas. 

= Mesmo que à sombra da ‘revolução de abril de 74’, Fátima continua a ter sentido e a dar identidade ao nosso parco país. Quem não terá já tido a vivência, no estrangeiro, de lhe ser perguntado de onde é e não saberem onde fica Portugal, mas logo percebem donde somos e quem somos, se dissermos que somos do país onde está Fátima.

A política dos três ‘fês’ – fado, futebol e Fátima – não foi invenção do Estado novo para entreter e camuflar as oposições ao regime. Tal como tão sabiamente disse o senhor cardeal Cerejeira: não foi a Igreja que impôs Fátima, foi Fátima que se impôs à Igreja…

Neste tributo de centralidade, poderemos entender o incómodo de certas forças que se viram vencidas pela promessa da Senhora vista pelos pastorinhos. Talvez seja um tanto confrangedor que se pretenda combater a quem não se reconhece existência nem possível credibilidade. Talvez possa ser um tanto quixotesco que ainda se dê ouvidos a pessoas que nada seriam se não andassem em busca dos seus fantasmas alumiados pelo fenómeno de Fátima…em Portugal e no mundo. 

= Ainda temos, cem anos depois, um longo caminho a percorrer para irmos passando da religião natural – das velas, das promessas, das situações meramente humanas e até algo mundanas – à capacidade de interpelação pelo Evangelho que Fátima e a sua mensagem nos trazem continuamente. Também aqui precisaremos de estar mais perto daqueles/as que fazem da sua ida a Fátima a sua expressão religiosa sem comunidade de fé. Também aqui precisaremos de passar do culto do sacrifício – desde o mais simples até ao percorrer de quilómetros a pé – mais ou menos por si mesmo e pela sua salvação individualista para a capacidade de aproveitar tudo o que me proporcionar oferecer em sacrifício pela salvação dos outros e do mundo pecador.   

Queira Deus que a celebração do ‘centenário das aparições’ não se fique só pelas coisas exteriores, mas antes consigamos todos viver um processo de conversão, aproveitando as críticas que nos possam fazer, desde que sinceras e bem-intencionadas.

Como dizia um padre (já falecido) num título dum livro contrapondo ao de outro (mais acintoso): Fátima, nunca mais ou nunca menos? Sim: Fátima sempre mais cristã e católica!

 

António Sílvio Couto

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