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quinta-feira, 20 de abril de 2017

Em contraciclo…pelo vinho?


Somos um país muito específico e, nalguns casos, andamos em contraciclo com o resto da Europa, senão mesmo do resto do mundo…em vários campos de atividade na atualidade…mais recente.

Quando a maioria dos países europeus já tinham saído das ditaduras e sacudido as tutelas colonialistas, nós só o fizemos quase trinta anos após o final da segunda guerra mundial. Quando se deu uma espécie de razia nas correntes marxistas – comunistas e socialistas, bem como outras mais radicais – nós, por cá, vemos uma razoável aceitação de tais ideologias, até com a sua ascensão ao poder. Quando lá por fora parecem surgir novos projetos políticos – reconstruindo-se dos cacos aqueles que ocuparam a governação – nós, por cá, ainda só surgem acenos de (ditos) independentes – sobretudo nas autarquias – que saltaram do arco da aceitação nos quadros de promoção. Quando tantos países se esforçaram por cimentar as suas contas públicas com medidas de rigor, por cá – como que por magia – essas ditas contas foram acertadas com tamanha rapidez que nem parece (totalmente) verdade, atendendo às reversões de medidas, antes consideradas essenciais, mas agora aliviadas com simpatias e sem austeridade…antes pelo contrário.

Entretanto, foi noticiado por estes dias que cada português consome, em média, cinquenta e quatro litros de vinho por ano. Se tivermos em conta a produção – quem ousa queixar-se agora da frase publicitária de antanho: ‘o vinho dá de comer a mais de um milhão de portugueses’? – com cerca de duzentos mil hectares de plantação e seis milhões de hectolitros de vinho produzidos, poderemos entender melhor a exportação de 2,8 milhões de hectolitros de vinho e uma receita de 734 milhões de euros… Deixemos as comparações estatísticas com outros países para sabermos o lugar que ocupamos. Podemos olhar para este sector económico como algo em franco progresso, tanto ao nível da ocupação de espaço no território como nos ganhos e proveitos conseguidos. Novamente vão surgindo programas televisivos de provas e de degustação vínica, uns vão aprendendo a saborear o ‘néctar dos deuses’ e outros tentam saber mais para apreciar melhor… Não há loja ou supermercado que não faça – regularmente – uma ‘feira de bebidas’ para tentar vender e conquistar clientela… 

= Perante estes cenários, poderemos colocar algumas questões, que podem ser respondidas ou não, tentando encontrar respostas que não sejam desculpas e tão pouco distrações.  

* Com tanta capacidade de produção de vinho, não seria melhor vivermos na valorização dos nossos produtos, rejeitando outras bebidas não-mediterrânicas e mais potenciadoras de maior alcoolismo, particularmente entre os mais novos?

* Com alguma promoção dos ‘independentes’, sobretudo, nas eleições autárquicas não estaremos a semear flocos de populismo, mesmo que disfarçados de defensores das (pretensas) populações, mas usando as ideologias que lhes sejam mais favoráveis ‘à la carte’?

* Agora que emerge uma nova vaga de sucesso, com números de desemprego a caírem em catadupa, será que os investidores sentem que vale a pena apostar numa classe trabalhadora que gasta sem ainda laborar ou iremos pagar, a muito curto prazo, as ilusões de sucesso sem trabalho?

* Os vendedores de sonhos e de regalias estarão a fazer as contas às maquinações disfarçadas de boa prestação das contas públicas, ludibriando a assunção das responsabilidades pessoais e familiares?

* As afirmações (quase) pírricas dalguns dos economistas não-comprados/vendidos ao sistema reinante continuarão a ser vistos como meros ‘velhos do restelo’ ou terão de ser ouvidos como profetas que avisam da desgraça já vivida há menos de dez anos? 

= Não acredito que tenhamos recuperado tão rapidamente da austeridade. Alguém está a mentir. Acreditar nas mentiras é da responsabilidade de cada um, mas levar para o atoleiro tudo e todos tem de ter um nome e os responsáveis têm – na hora da verdade – de ter cara, mesmo para serem castigados e julgados… Não basta deixar-se ir na onda da facilidade, pois os ‘donos disto tudo’ fazem-se pagar muito para além das meras conjeturas e das palavras de circunstância…

Não nos deixemos narcotizar com os eflúvios etílicos nem os vapores da reinação… Acorda, povo português!

 

António Sílvio Couto


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