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segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Banhos e auspícios…para 2017


Nas primeiras horas de novo ano surgiram imagens de ‘banhos de mar’ em vários pontos do país – de norte a sul – incluindo a prestação solitária do presidente da república…com quase quatro décadas de iniciativa. Dumas dezenas até às várias centenas, passando por uns poucos com história mais recente foi um ver de afoitos a mergulharem nas águas do mar, incluindo pelas causas mais diversificadas…

É verdade que não sabemos quais os efeitos que tais proezas trazem aos participantes. Poderemos auspiciar que devem ser benéficas, pois a repetição (anual e não só) pode ser o melhor crédito para que se faça algo de bizarro e um tanto a destoar do resto da população… em contraste com o recorrer em catadupa às urgências hospitalares com sobrecarga de procura e insuficiência de resposta. 

= Ao vermos outras imagens dos festejos – na rua e nos espaços privados, com organização prévia ou com grandes gastos do erário público – do final-do-ano e da receção ao novo ano, parece que se vive uma confluência social de grande alcance…sem lamúrias nem despesas, com música a rodos e regados com muito álcool…ocasional ou programado.

Dá a impressão que uma (possível) ínfima minoria se interroga sobre estes espetáculos de luz e som, de cor e de alienação – senão pessoal ao menos coletiva – onde parece que se faz festa, mas se não sabe quem é, verdadeiramente, o festejado… Dá-se vivas, a quem? Exalta-se e exulta-se, quem? Festeja-se um alguém anónimo…qual entidade sub-reptícia, sem rosto e sem identidade…

Muitas das rolhas ‘glorificam’ algo que não se sabe quem é nem onde está… Com efeito, este ‘mito’ anónimo e desconhecido tem honras de festança, mas dilui-se por entre a multidão eufórica e um tanto anestesiada pelos eflúvios exalados do néctar de Baco, com trejeitos à celebração retardada de Dionísio…    

= Quem não entrar nesta onda, como que poderá questionar-se sobre as razões e os objetivos de tais vivências. Quem se distanciar um tanto – e nem será preciso fazê-lo por repulsa ou por discordância – de tais festejos, corre o risco de entrar em questionamento sobre tudo quanto vê à sua volta…A envolvência – social e de consumo, crescente e de (quase) paganismo – como que faz os menos fervorosos sentirem-se à margem, se não da mentalidade, ao menos duma certa cultura reinante e mais ou menos abrangente… 

= De vez em quando, lá surgem vozes que tentam explicar tais festejos, enumerando as expetativas para o novo ano… Na sua maioria são ainda de teor muito subjetivo e de motivação primária: saúde, dinheiro, melhores condições económicas, anseios de satisfação imediatista…projetos a muito curto prazo à mistura com reivindicações antigas e não-resolvidas como habitação, emprego, segurança (social e de policiamento)…de forma direta ou atendendo a terceiros… 

= Nota-se, por outro lado, uma espécie de intervalo na celebração religiosa de tal data. Muitos dos que foram preparando – mais ou menos convenientemente – a celebração do Natal, esfumam-se dos espaços comunitários de religião. Outros parece que suspendem o ritual um tanto cristão e mergulham na apatia geral senão mesmo na idolatria epicurista… Como referia o Papa na mensagem para o 50.º ‘dia mundial da paz’ falta-nos maior capacidade de acolhimento de Jesus, que é, de facto, a resposta aos anseios do nosso coração… Mas, se vemos tanta deserção dos que se dizem discípulos de Cristo, como poderemos credibilizar a mensagem d’Ele?

Dá a impressão que ainda nos regemos por uma visão de religiosidade de verniz, que, quando estala, logo deixa perceber o caruncho sobre o qual estava (ou está) alicerçada. É forte a sedução do mundo e pálida a convicção de tantos/tantas que percorrem os espaços duma certa fé, que mais parece uma loja de conveniência – cada um vai onde lhe dá mais jeito e onde se escuta o que menos incomoda – do que de caminhada em compromisso com as razões mais profundas da existência e da crença…

Para todos desejamos um ano de bênção e de paz…em Jesus, por Jesus e com Jesus, na Igreja, pela Igreja… em expressão católica!


António Sílvio Couto 




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