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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sem capacidade de cobrir as despesas


Mais de um terço (35%) dos portugueses não tem rendimento suficiente para satisfazer as despesas que têm correntemente e 16% recorre ao crédito para as conseguir cobrir.

Este é o resultado dum inquérito da OCDE (organização para a cooperação e desenvolvimento económico) que incidiu sobre a literacia financeira dos cerca de trinta países que compõem a organização. No conjunto dos seus membros os dados são um tanto diferentes, pois 27% consideram que não têm condições suficientes para suportar as suas necessidades, enquanto 14% recorre ao crédito para ter alguma autonomia.  

= Quando os critérios de condução das perspetivas económicas são mais conduzidos pelo consumo do que pela poupança, esta tendência de haver dificuldade em cobrir as despesas, irá crescer com natural facilidade. De facto, quem vem conduzindo a política económica – ou será ideológico-política? – parece que é regido mais pelo imediatismo do que pela previsão em relação ao futuro… a curto ou a médio prazo. Por outro lado, se as apetências de taxação for pela linha de castigar quem aforra e não quem se endivida, em breve, poderemos ficar sem capacidade de investimento e, consequentemente, de quem possa dar trabalho e/ou pagar ordenados… impostos e outras correções ao orçamento.

Talvez muitos dos proponentes de tais orientações sociopolíticas possam ser, preferentemente, ‘funcionários estatais’ (onde se incluem os trabalhadores autárquicos, a classe dos professores, os executores dos transportes públicos, os políticos… e tantos outros até ao número de oitocentos mil… beneficiários) com as regalias adquiridas e os ordenados a serem pagos com regularidade… à custa do erário público. No entanto, a longa maioria não está nesse escalão económico nem possuem esse estatuto com valor de superclasse social… Com efeito, as subtilezas vão colhendo frutos por entre tantos interessados em conservarem os favores e regalias adquiridas!

Alguém – sobretudo tendo em conta os privados e trabalhadores por conta de outrem…não-estatais – terá de sustentar, pagar e descontar nos seus impostos… pois, apesar de tudo, essa longa lista se vai mantendo com subterfúgios, onde se banqueteiam os mais favorecidos (do público) e se lamentam os excluídos (do privado). 

= Pasme-se pelo escândalo: a maior parte dos intervenientes legislativos e governativos intervêm em causa própria e, por isso, tendencialmente, irão defendendo os seus direitos… mesmo que se disfarcem numa espécie de ventríloquos (em mais do que mero número de feira), que ora falam pelos que pagam, ora reivindicam pelos que recebem.

Há factos e situações em que os maiores ‘moralistas’ rapidamente se convertem em mais graves prevaricadores. Tenha-se em conta a prosápia dalguns dos patrocinadores da geringonça, que antes tinham posição aguerrida contra os que se aproveitavam dos favores do poder e agora estão tão silenciados que o rumor da suspeita – da sua honestidade intelectual – invade as nossas mentes… Se outros tivessem praticado idênticas façanhas teriam pedido a demissão deles, mas agora estão mudos e quedos como penedos! Quase somos tentados a considerar que o melhor açaime para certas posições estridentes e arrogantes é andar pelas franjas do poder, aspirar a ele ou estar em posição de mando… nem que seja fictício!   

= O pior de todo este ‘espetáculo’ é vermos uma certa manipulação aceite, sistemática e (quase) despudorada com que querem enganar – se ainda for possível – o povo que, vendo-se com mais uns trocos no bolso (o cantor dizia para café e bilhar), se vai deixando iludir, mas que os dados mais independentes não deixam espaço para enganar: um em cada três portugueses não consegue gerir os seus compromissos económicos… mesmo que lhe coloquem mais dinheiro no bolso. 

Recordo um ato de gestão dum tesoureiro duma instituição, que até podia pagar os ordenados antes do natal, mas protelou a entrega dos vencimentos para mais próximo do novo ano, pois, se o fizesse corria-se o risco de gastarem o dinheiro em compras natalícias e ficariam em dificuldade no mês seguinte… Justificação: não sabem dosear o que têm em conta e gastam de forma menos cuidada. Aprendi – com vergonha – que nem todos sabem o que é de gastar e o que é de poupar! Os ‘sem dentes’ irão pagar a próxima crise?

 

António Sílvio Couto

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