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quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A (nossa) cultura ketchup


Quem tiver estado (mais ou menos) atento ao desenrolar da nossa vida política – mas também económica, financeira, social, etc. – como que poderá ser tentado a caraterizar o ambiente por cá vivido com um ingrediente culinário bastante popular: o ketchup, esse molho à base de cogumelo de origem chinesa, que, transferido para os EUA, foi modificado para conter tomate e é usado, principalmente, para temperar pratos de fast-food… Ora, atendendo à coloração e ao seu sabor agridoce, ele como que tipifica, por agora, a esquerda (socialistas, comunistas e trotskistas) portuguesa circulante, reinando e ruminadora.

Não somos consumidores de tal condimento e, por isso, também não temos preferência por qualquer marca… nem mesmo pela mais comum e rendosa, onde pontifica uma gestora/proprietária de origem lusa. 

= Atendendo à combinação com que nos últimos meses temos sido governados, a (nossa) esquerda ketchup tem estado a ultrapassar as várias dificuldades, tendo em conta as exigências de cada formação partidária e o espartilho que tem sido imposto pela UE. Até agora o incenso do poder tem ludibriado uns e outros, dando cobertura a razões razoáveis e alimentando as tentativas de prolongar no tempo a capacidade de angariar novos adeptos e talvez alguns votos.

No arrojado cozinhado de interesses temos visto que questões antes contestadas – como na área da educação/ensino, na política laboral/sindical, no setor da saúde, nos ordenados ou nos impostos – são levadas com tal leveza que ninguém se aventura a reclamar ou a publicitar problemas… se bem que os haja nas escolas, nos hospitais, nas empresas de transportes… Uma longa e opaca penumbra faz parece que tudo está bem… doseado com uns golpes de ketchup ou maionese… Não se passa nada! 

= Atendendo à opípara refeição de fast-food em que tornaram o nosso país, sentimos que o sentimento ketchupiano vai fazendo com que as mentes fiquem narcotizadas com uns míseros trocos e uns tantos engodos de que somos todos, pessoas que se deixam comprar/vender pela boca e que quem pensa não faz sucesso. Como é possível ficar cantando e rindo, quando há quem ganhe eleições – o mais recente dos episódios aconteceu nos Açores – com uma abstenção de três quartos dos inscritos e que aceite governar com menos de um quinto dos votos expressos? Este parece ser o infausto presságio para as próximas eleições autárquicas, onde já há quatro anos houve eleitos que o foram com o voto de dez por cento dos recenseados. Qual a legitimidade? Ainda querem ser respeitados? Então, deem-se ao respeito.

O ketchup parece estar à mão para continuar a simular que a onda vermelha/encarnada percorre o país, mas só acontece pela desmobilização dessa tal imensa ‘maioria silenciosa’ – doutras opções e fora do quadro dos que agora reinam – que um dia acordará! Basta de fazer de conta pelo modo como temos visto!  

= Porque temos uma grande estima pelo nosso país/nação ainda acreditamos que havemos de ser capazes de construir algo que nos faça passar desse complexo de contínuos pedintes da Europa, pois, se noutros locais os portugueses são bons e benquistos trabalhadores porque haveríamos de ser menos eficientes quando temos nas nossas mãos a capacidade de decidir e de fazer melhor. Com metade do país emigrado quem duvida que seremos capazes?

Acreditamos que não há de ser uma espécie de cultura do ketchup da nossa esquerda política que poderá lançar o labéu sobre todo um país, que tem tanto valor histórico e cultural, mas que não se deixará submeter aos interesses ideológicos de uns tantos, que noutras paragens já foram avaliados e vencidos. Deixemo-nos de lutas estéreis e sem nexo, pois não basta enfeitar o que menos vale e façamos desta crise uma nova alavanca para vencermos todos unidos e não uns contra os outros. Desse ketchup, não obrigado!

 

António Sílvio Couto



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