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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Sargeta ou corneta?


Nós, portugueses, somos um povo muito típico e temos uma posição muito própria na configuração das nações da Europa: quando os outros voltam, nós ainda vamos… e tão airosos que nem percebemos o ridículo da (nossa) situação! Isto tem implicações nos mais díspares campos de intervenção… mas é na ação política que tal se nota mais, sem podermos esquecer a vertente da economia.

Quando noutros países já estão noutra onda política, nós ainda vamos na recuperação – revertendo em leis e na mentalidade – de clichés latino-americanos de caudilhos (falidos e ressabiados) de esquerda radical, entendendo a mão aos dinheiros emprestados pela Europa, mas dando a entender que se pode nivelar a sociedade acabando com os ricos e não (como seria desejável) com os pobres…

A corneta dos mais defensores do igualitarismo tem vindo a ser altissonante por estes dias, dando a entender que quem mais grita maior razão parece (querer) ter. É nesta algazarra de interesses que temos visto surgirem uns tantos travestidos de ‘zé-do-telhado’ da era informática, que tentam assaltar quem tem, mas não sabemos a quem o vão dar… Em simultâneo emergem novos conquistadores de regalias – esses mesmos que antes eram protestantes da classe sindical, mas agora estão tão simbolicamente calados – fazendo com que tudo pareça em paz, mas não se sabendo qual foi o real custo desse silêncio e a matéria para tanta pacificação. 

= De quando em vez lá surge, por outro lado, a faceta mais tenebrosa da luta contra a justiça das leis, ora incluindo os (possíveis) réus, ora aparecendo na liça uns tais juízes. Se uns se consideram legitimados para intervir e até atacar, os outros logo são trucidados porque poderão estar a exorbitar as funções. Não deixa de ter um certo cheiro a sargeta esta dicotomia de critérios para com os diversos cidadãos… bastando descobrir a coloração partidária/ideológica. Há quem até, à revelia da formação partidária em que (ainda) milita, se dê à ousadia de se voltar contra quem não concorda com ele, pois divergir pode parecer crime… sabe-se lá com que gravidade! 

= Sem pretendermos fazer paralelo com um filme e as suas conjeturas, poderemos considerar que todos os animais são iguais, mas há uns que são mais iguais – ou será diferentes? – do que os outros. Vem-se tornando um tanto mais explícito que certas figuras podem cometer – dizer, não fazer, afirmar ou contradizer – as atrocidades que quiserem que uma certa comunicação social há de encontrar (quase) sempre justificação para ser como é e não como se pode interpretar. Nesta como noutras situações o que importa não é ser engraçado, é essencial é cair em graça! Disso temos várias provas e com determinadas simpatias e esboços de sorriso nos vão enganando – a quem quer ou se deixa ir na onda – até ao colapso total.   

= Nota-se uma razoável desconstrução dos valores – diga-se de incidência ética ou de narrativa moral – na nossa sociedade… sobretudo se alicerçados na formação cristã. Valores e critérios como a verdade, o trabalho, a paz, a lealdade, a confiança, o amor, a fraternidade/solidariedade, a liberdade… vão tendo para cada um dos intervenientes um sentido que cada qual lhe quiser dar. Quase será preciso que façamos a definição dos termos com que nos relacionamos e tentamos dialogar, pois o subjetivismo cria condições para que se esteja a usar as mesmas palavras, mas cada um dá-lhe o significado que lhe convém.

Será a partir do reconhecimento que algo precisa de ser modificado que poderemos encontrar melhores condições para que contribuamos na construção duma sociedade mais justa, mais fraterna e mais humana. De facto, será a partir da dimensão interior da pessoa humana que estaremos a ser mais cidadãos. Ora, a desconstrução referida dos valores está a acontecer porque se pretende impor um modelo de sociedade onde as razões para agir são mais de natureza exterior – por vezes mudando conforme as circunstâncias e interesses – e isso favorece os ditadores – grandes ou anões – que pululam no nosso tempo…Pior será, quando perdendo a razão, começarem a lutar com emoção, que sem razões mínimas farão vítimas e cobardes.

Já soa a corneta vinda da sargeta. Até quando?   

 

António Sílvio Couto

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