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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Enxotar moscas!


Numa reportagem apresentada num desses canais regionais de televisão, a repórter de serviço – num misto de simplicidade e dalguma ignorância – perguntava ao maestro duma banda filarmónica qual o significado do gesto que ele fazia com a batuta para com os músicos que orientava: aquilo é para enxotar as moscas?

Ao que o interrogado ripostou: aquilo é para que possam todos saber o compasso da música, que estão a tocar!

É significativo que coloquem a fazer um trabalho de reportagem quem faça perguntas que têm tanto de inesperado quanto de quase brejeiro. Com efeito, uma pergunta daquelas só pode roçar ofensa a quem seja questionado… mesmo que isso aconteça de forma um tanto inocente e/ou simplista.

Diante deste episódio sentimos que há um número razoável de pessoas a desenvolver tarefas de comunicação social que não parecem estar habilitadas para exercer tal função… Não bastará ter um palmo de cara simpática para se tornar suporte de microfone e desatar a pôr perguntas muitas delas desconexas e, possivelmente, ofensivas… Temos de ter ‘profissionais’ que estejam capazes de estarem preparados para os vários campos que têm de cobrir… Quem é informado não pode ser tratado como um mero ignorante e quem é perguntado tem de saber ao que vem da forma mais honesta e sincera… 

= No desenvolvimento do espaço da comunicação social cada vez mais precisamos de acreditar que, quem exerce tal função, é isenta, mas não meramente anódina, isto é, tem de saber da arte e não pode deixar-se ser interpretada como valendo tudo e o resto... De facto, em cada pessoa que exerce as funções de ser veículo de comunicação em estado social não podemos permitir que possa dizer tudo o que pretendem que se diga, mas que o transmissor tem (ou deve ter) também critérios e valores que passam (ou devem passar) por aquilo que transmite. Neste aspeto quem dá notícias é uma pessoa, que tem, irremediavelmente, sentimentos e inteligência, não podendo deixar estas faculdades anestesiadas com a (possível) isenção de trabalho…

Neste sentido, sim, estaria a enxotar moscas mais ou menos abstratas e virtuais, onde cada um poderá ver o que deseja ou até ser manipulado pelo que mais favores lhe possa trazer… 

= Nesta espécie de longo lamaçal em que nos vamos, apesar de tudo, movimentando, torna-se importante e essencial que sejamos capazes de identificar os espaços mais ou menos vulneráveis em que tentamos desenvolver a nossa atividade humana, social e cultural. Atendendo a que as moscas se desenvolvem – nesse longo processo de germinação – em situações menos boas do ponto de vista da higiene, teremos de encontrar os lugares onde se alimentam as tais ‘moscas’ que é preciso enxotar. Com efeito, em tantas situações da atividade humana – política/autárquica, económica/financeira, religiosa, cultural/académica – vemos uma proliferação de moscas que deambulam em redor dum certo manjar do poder… real ou tácito, visível ou presumido… nessa espécie de sinfonia de zangões e de vespas em conexão de canícula.

Quem não terá já visto uns tantos (ou tantas) que estão (quase) sempre a flutuar nos lugares mais almejados? Quem não se terá já interrogado sobre a sobrevalorização de certas figuras desde que conste que possam aparecer? Quem não se interrogará sobre a manutenção duns tantos/as a fazer figura de intocáveis, quando o que têm desenvolvido fazia acreditar que o seu reinado já deveria ter cessado…há muito tempo? 

= Precisamos de enxotar tantas moscas que ainda ocupam e como que infestam os lugares onde o servir deve ser lema de vida e não engodo de promoção.

Precisamos de enxotar umas quantas moscas que transmitem doenças em razão dos locais infetocontagiosos por onde se pavoneiam e donde usufruem prebendas e regalias.

Precisamos de enxotar tantas e tantas moscas que só desacreditam quem as vai ainda tolerando… seja qual for a situação mais ou menos nefasta.

Por alguma razão se atribui a uma das facetas do ‘espírito do mal’ a designação de «belzebu», isto é, senhor do esterco ou das moscas! Credo abrenúncio!   

 

António Sílvio Couto




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