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segunda-feira, 16 de maio de 2016

À volta da paixão do futebol


Há coisas que não são fáceis de explicar. De entre elas é a de ser adepto de um clube desportivo… onde o futebol tenha a sua maior expressão. Isso mesmo se pode ver por estes dias, tanto nas palavras como nos atos das pessoas, seja dos intervenientes diretos (dirigentes, jogadores ou treinadores) ou dos adeptos… mesmo dos mas conhecidos até aos mais anónimos.

De facto, o futebol – o jogado ou o falado – tem vindo a entrar na área da paixão, deixando de ser entendido, sentido e vivido com a inteligência, onde a racionalidade deixa um pouco a desejar, tanto na forma como no conteúdo.

A emotividade foi, assim criando e nalguns casos crispando, uma atmosfera onde muito daquilo que se diz poderá levar as pessoas a não serem totalmente responsabilizadas pelo que falam e fazem.

Quantas vezes é, nestas ocasiões, que podemos saber, verdadeira e sinceramente, quem são as pessoas, nós ou os outros… Quantos egos se elevam em maré de vitória e outros se assumem com humildade colocando o acento no conjunto de todos – o ‘coletivo’, como agora se diz… Quantos sinais de orgulho – que se agravam muito mais quando a educação humana e cívica deixa um tanto desejar – emergem em situações de vitória ou no rescaldo das derrotas… Quantas ofensas e agravos surgem, só porque não ganhou quem se gostaria ou se goraram as expetativas em razão dos investimentos económicos ou de outros interesses… em jogo, sobretudo fora do campo da disputa. 

= Agora que acabou o campeonato principal de futebol, em Portugal, podemos referir certos episódios que, por serem algo significativos, nos deveriam levar a refletir… muito para além do que a paixão é capaz de interpretar.

. Quem ganhou: foi quem chegou em primeiro ou quem melhor jogou? A ver pelas festas, o segundo – que perdeu em todas as competições (dentro e fora do país) em que teve intervenção – fez o seu papel ou alguém usou de manipulação?

. Tal como noutros campeonatos, houve quem descesse e quem subisse, à mistura com outros que se salvaram nos últimos momentos…Um destes até sentiu a obrigação de cumprir a promessa de ir a Fátima a pé, como agradecimento. Que tem a fé a ver com o futebol? É só para os momentos de aflição ou deveria também aparecer nas horas de conquista?

. Mais uma vez há negócios de compra e de venda de jogadores – alguns rendem fortunas, apesar de serem novos em idade – daqui para fora e de fora para cá. Não nos faz impressão esta vendagem de pessoas, como se fossem escravos? Agora que se vai ganhando mais sensibilidade aos ‘direitos dos animais’, não estaremos a ser tolerantes com os ‘artistas da bola’, embora mais pareçam coisas e objetos descartáveis?

. A indústria do futebol faz correr muito dinheiro antes e depois do campo de jogo. Até quando se vai ignorar o submundo em que tantos interesses se desenvolvem? Já terão sido limpas as teias do poder – local e autárquico, económico e social – das artimanhas com que nos têm distraído ou mesmo intoxicado?

. Somos um país a precisar de estudo, pois temos três jornais diários, que vendem coisas sobre o negócio do desporto e do futebol em particular, acrescentando ainda os canais televisivos e as respetivas tabelas de ligação específica, para além dos outros quem fazem notícia com os comentários e as intrigas… Até onde irá esta intoxicação informativa e (dita) noticiosa? A quem interessa dar continuidade ao entretenimento? O poder político não ganha com estas distrações? 

= ‘The show mast go on!’ (o espetáculo tem de continuar) e em breve viveremos a competição europeia de seleções, os jogos olímpicos, as corridas de automóveis (em pista ou na estrada), as deambulações do ténis, as corridas de cavalos, as apostas e tantos outros adereços dum mundo onde o dinheiro é mais importante do que o desporto e em que os interesses pessoais como que se sobrepõem ao bem comum…

Neste circo da vida, vamos vivendo mais de ‘pão e jogos’ do que os romanos em final de civilização. Também este sistema de vida terá um termo… Importa está preparado para a nova etapa que virá!   

 

António Sílvio Couto



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