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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Um certo requiem por ‘amélie’



Nos dias mais recentes temos visto e ouvido um certo corrupio de ‘condolências’ pela cadela ‘amélie’ – de cinco anos de raça chihuahua – a grande dedicação duma atriz portuguesa…
Conjetura-se sobre as causas de tão infausto acontecimento – uma destartarização dentária da dita falecida – e o que daí surgiu como grande e enorme dor e a sua expressão nas redes sociais, tendo atingido mais de quinze mil partilhas e comentários… como sempre sensatos e disparatados, quando se trata de assuntos fora do normal.
Talvez não esteja só em causa olhar para este episódio de tristeza ou de alguma melancolia, quando se perde alguém – a ministra da justiça portuguesa veio, por estes dias, reclamar que os ‘animais não podem ser tratados como coisas’ – que era importante para uma pessoa, que fez disso publicidade e se expôs na configuração das reações públicas.
Talvez tenhamos de refletir sobre certos indícios que estão a orientar a nossa condição humana: somos nós, os humanos, para muitos setores públicos e sociais vistos mais como números e estatísticas, mas outros seres vivos vão ocupando o viver afetivo dessa outra conduta mais ou menos razoável…
Talvez estejamos mesmo num tempo de viragem cultural, onde os animais vai ganhando foro de identidade que noutras épocas não foram tidos na devida e correta conta…
Talvez vá crescendo a sensibilidade à humanização dos animais e como que se vá degenerando a desumanidade aos humanos…até legislativamente!
= Se a dedicação substitutiva aos animais vai polarizando muitas afetividades, vemos – desde os nomes dados, como se fossem pessoas, até aos cuidados ministrados – por outro lado, esmorecer o entusiasmo para com as crianças. Nalguns casos estas como que são supletivamente desinvestidas, tanto na forma como no conteúdo. Agora até os custos de veterinário podem ser incluídos nas despesas – pessoais ou familiares – do imposto de rendimento singular…
Já o referimos noutras ocasiões: enquanto virmos, nas grandes ou médias superfícies, a secção de alimentação para animais suplantar a dedicada às crianças, parece-me que estamos a correr riscos muito graves de civilização e de futuro geracional… Com efeito, há sinais que devem ser lidos e interpretados com visão e alcance de futuro… e não como simples moda ocasional!
= Não é que os animais – sobretudo os ditos de companhia – não tenham (ou devam ter) espaço e oportunidade nas nossas casas. Até porque muitos deles são bem mais dedicados e fiéis do que alguns humanos!... Mas será sempre de saber viver a correta presença e dedicação para que não tenhamos uma sociedade desarticulada dos seus valores e das convivências harmoniosas, sensatas e civilizadas…
De igual modo será atroz reduzir a espaços exíguos de apartamentos e a pequenos locais animais que precisam de estar no seu habitat natural… só para satisfazerem os intuitos de certos (ditos) donos ou (pretensos) proprietários…  
Os lamentos pela ‘amélie’ são aceitáveis, desde que isso não nos distraia dos cuidados que as crianças, os mais velhos e os empobrecidos merecem ter sempre, mas sobretudo neste ano jubilar da misericórdia.
O ‘irmão lobo’ merece respeito, mas os bebés precisam de mais cuidados, sempre!  
 
António Sílvio Couto

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