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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

17% dos jovens ‘nem estudam nem trabalham’


O número de jovens – entre os 15 e os 29 anos – que em Portugal não estudam nem trabalham – a designada ‘geração nem-nem’ – atinge já dezassete por cento da população. Em 2005, os ‘nem-nem’ representavam cerca de 13% da população… tendo-se verificado um aumento em nove anos de quatro pontos percentuais.

Portugal está, deste modo, no primeiro terço de uma tabela de mais de quatro dezenas de países… sendo mesmo o terceiro país da OCDE onde a proporção mais cresceu nos últimos anos (2011/12)… entre o leque de jovens que não trabalham nem estudam.

- Dois dos parâmetros de aferição, neste ambiente de crise, para avaliar a questão deste setor não-ativo da sociedade foram a ligação entre o nível de educação e o emprego bem como o nível da escolaridade e a mobilidade social… Em Portugal o desemprego atingiu 10,5% dos diplomados, enquanto a média dos países em análise se quedou por metade, isto é, 5%.

- Segundo alguns especialistas na matéria, este crescimento da população juvenil que não estuda nem trabalha tem duas explicações: temos uma geração mais desligada (na cidadania e na integração) do futuro e ainda revela uma falta de perspetivas sobre o mesmo futuro… O que torna a questão social e culturalmente preocupante, gerando um vazio de ocupação, de motivação e de compromisso… de milhares de jovens.

= Colocando questões…à espera de resposta… de quem tem obrigação/direito

Talvez seja urgente refletir sobre esta geração ‘nem-nem’, pois esta atitude revela algum de muito importante, seja na forma bem como no conteúdo daqueles que hão de assumir o nosso futuro coletivo… se o quiserem construir.

. Quais as razões de não-procura de trabalho dalguns desses jovens: têm quem os alimente, os vista e os acolha ou vão-se acomodando na bolsa marsupial, adiando a assunção de responsabilidades?

. Será esta geração ‘nem-nem’ resultado de um excesso de protecionismo de pais e educadores, que, assim, tentaram colmatar as exigências que lhes foram colocadas no tempo da sua juventude?

. Não haverá uma certa desconexão entre instrução e cultura, pois aquela nem sempre tem dado resultado na melhor promoção da exigência ou será que a (dita) escolarização como que contribuiu um tanto para infantilizar os instruídos?

. Como se pode relacionar a extensão do tempo de escola com a vulgarização em que são os outros que devem decidir, quando os pais destes ‘nem-nem’ já eram pais deles na idade que eles agora têm? 

. Não terá havido uma programação do não-trabalho de crianças, adolescentes e jovens… segundo a sua capacidade e oportunidade, induzindo-os em serem usufrutuários de regalias para a as quais não contribuíram minimamente?   

= Propondo sugestões… em discurso aberto

De pouco adiantará dizer mal da geração ‘nem-nem’ se não formos capazes de discernir soluções, que o sejam em razão da aprendizagem com os erros do passado e do presente. Com efeito, a geração ‘nem-nem’ está a colher aquilo que seus pais e avós semearam, isto é, uma sociedade de consumo, onde cada um procura aquilo de que tem experiência… sensitiva, hedonista e epicurista. De fato, as pessoas não se reduzem aos prazeres materialistas, mas antes têm  (ou devem ter) desafios mais sublimes e que dão gosto quando são conquistados… leal e sinceramente.

Não podemos continuar a querer substituir os mais novos com subtilezas de quem não trata os outros como pessoas, mas antes como se fossem objetos de decoro e de compensação… numa cultura do descartável.

As escolas e as famílias têm de voltar a ser espaços de diálogo e de convívio entre as várias gerações, deixando cair o imediatismo da promoção da vaidade ou da exibição no virtual do facebook… atendendo mesmo à construção do fictício em desfavor do esforço e da glória da conquista.

A geração ‘nem-nem’ tem futuro se soubermos ainda corrigir os erros do nosso presente. Todos merecemos melhor.

 

António Sílvio Couto

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