O número
de jovens – entre os 15 e os 29 anos – que em Portugal não estudam nem trabalham
– a designada ‘geração nem-nem’ – atinge já dezassete por cento da população.
Em 2005, os ‘nem-nem’ representavam cerca de 13% da população… tendo-se
verificado um aumento em nove anos de quatro pontos percentuais.
Portugal
está, deste modo, no primeiro terço de uma tabela de mais de quatro dezenas de
países… sendo mesmo o terceiro país da OCDE onde a proporção mais cresceu nos
últimos anos (2011/12)… entre o leque de jovens que não trabalham nem estudam.
- Dois
dos parâmetros de aferição, neste ambiente de crise, para avaliar a questão
deste setor não-ativo da sociedade foram a ligação entre o nível de educação e
o emprego bem como o nível da escolaridade e a mobilidade social… Em Portugal o
desemprego atingiu 10,5% dos diplomados, enquanto a média dos países em análise
se quedou por metade, isto é, 5%.
- Segundo
alguns especialistas na matéria, este crescimento da população juvenil que não
estuda nem trabalha tem duas explicações: temos uma geração mais desligada (na
cidadania e na integração) do futuro e ainda revela uma falta de perspetivas
sobre o mesmo futuro… O que torna a questão social e culturalmente preocupante,
gerando um vazio de ocupação, de motivação e de compromisso… de milhares de
jovens.
= Colocando questões…à espera de
resposta… de quem tem obrigação/direito
Talvez seja
urgente refletir sobre esta geração ‘nem-nem’, pois esta atitude revela algum
de muito importante, seja na forma bem como no conteúdo daqueles que hão de
assumir o nosso futuro coletivo… se o quiserem construir.
. Quais
as razões de não-procura de trabalho dalguns desses jovens: têm quem os
alimente, os vista e os acolha ou vão-se acomodando na bolsa marsupial, adiando
a assunção de responsabilidades?
. Será esta
geração ‘nem-nem’ resultado de um excesso de protecionismo de pais e
educadores, que, assim, tentaram colmatar as exigências que lhes foram
colocadas no tempo da sua juventude?
. Não
haverá uma certa desconexão entre instrução e cultura, pois aquela nem sempre
tem dado resultado na melhor promoção da exigência ou será que a (dita)
escolarização como que contribuiu um tanto para infantilizar os instruídos?
. Como
se pode relacionar a extensão do tempo de escola com a vulgarização em que são
os outros que devem decidir, quando os pais destes ‘nem-nem’ já eram pais deles
na idade que eles agora têm?
. Não
terá havido uma programação do não-trabalho de crianças, adolescentes e jovens…
segundo a sua capacidade e oportunidade, induzindo-os em serem usufrutuários de
regalias para a as quais não contribuíram minimamente?
= Propondo sugestões… em discurso
aberto
De pouco
adiantará dizer mal da geração ‘nem-nem’ se não formos capazes de discernir
soluções, que o sejam em razão da aprendizagem com os erros do passado e do
presente. Com efeito, a geração ‘nem-nem’ está a colher aquilo que seus pais e
avós semearam, isto é, uma sociedade de consumo, onde cada um procura aquilo de
que tem experiência… sensitiva, hedonista e epicurista. De fato, as pessoas não
se reduzem aos prazeres materialistas, mas antes têm (ou devem ter) desafios mais sublimes e que
dão gosto quando são conquistados… leal e sinceramente.
Não
podemos continuar a querer substituir os mais novos com subtilezas de quem não
trata os outros como pessoas, mas antes como se fossem objetos de decoro e de
compensação… numa cultura do descartável.
As
escolas e as famílias têm de voltar a ser espaços de diálogo e de convívio
entre as várias gerações, deixando cair o imediatismo da promoção da vaidade ou
da exibição no virtual do facebook… atendendo mesmo à construção do fictício em
desfavor do esforço e da glória da conquista.
A
geração ‘nem-nem’ tem futuro se soubermos ainda corrigir os erros do nosso
presente. Todos merecemos melhor.
António
Sílvio Couto
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