Por
estes dias têm ocupado as notícias matérias das quais se esperava algum
consenso e até ponderação, mas o que acontecido é o contrário. As praxes
universitárias e o Panteão nacional têm sido muito falados, mas nem sempre
pelas melhores razões… As praxes pelos exageros e possíveis atropelos à
dignidade e ao respeito pelas pessoas. Por seu turno, o Panteão como que serviu
para que a ideologia republicana tentasse impor as suas motivações mais
profundas… mesmo nas entrelinhas de uns tantos.
= Do significado do Panteão…
A
ideia de ‘panteonizar’ figuras ilustres é já de meados do século XIX, no
contexto da revolução liberal, mas só concretizada na vigência da primeira
República. Atualmente o Panteão está instalado na Igreja de Santa Engrácia,
Lisboa, recebendo os restos mortais de quatro Presidentes da República: Manuel
Arriaga, Óscar Carmona, Sidónio Pais e Teófilo Braga; quatro escritores:
Almeida Garrett, Aquilino Ribeiro, Guerra Junqueiro e João de Deus; um
político, Humberto Delgado; uma artista, Amália Rodrigues… Para breve parece
estar a trasladação para o Panteão dos restos mortais de Sofia de Mello Breyner
Andersen, escritora.
Atendendo
a que o sepultamento no Panteão pretende ‘homenagear e perpetuar a memória dos
cidadãos que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de
altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura
portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos
valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da
liberdade’… teremos de ser comedidos e sensatos ao recorrer a este tipo de
consagração após a morte, pois muitos aproveitamentos podem ocorrer… como
aqueles que temos visto e ouvido nalgumas das declarações e falecimentos mais recentes!
= Às preocupações das praxes…
Só
mais de um mês após um trágico acidente, que vitimou seis jovens estudantes
universitários, numa praia, de noite, é que houve coragem para destampar a
panela efervescente daquilo que parecia algo académico… mas que talvez tenha outros
contornos, motivações e significados.
De
rito iniciático às mais soezes tropelias à dignidade humana, pareceu haver de
tudo… misturando-se relatos de vítimas silenciadas, à espreita de fazerem o
mesmo (ou pior) na hora própria da vingança. Sem lançar suspeitas da
inteligência dos promotores – o chefe costuma ser o mais repetente na faculdade
ou escola – choca-me ver jovens a serem tratados na categoria mais baixa da sua
condição humana, tornada quase animalesca, senão na forma pelo menos no
conteúdo. Se aquilo acontecesse numa escola de ensino básico tais atitudes
teriam a condenação de pais, educadores e autoridades, mas como parece que se
está num estabelecimento de ensino superior todos encolhem os ombros em atitude
de desdém e/ou de vergonha?
Não
basta trazer o assunto à ribalta, importa tomar atitudes enérgicas para que não
se promova o faz-de-conta com que tantas vezes tratamos certos problemas. Agir,
já e de forma consistente, é preciso!
= Propostas para a mudança
Porque
estes assuntos são matérias de índole civilizacional, parece-nos que temos a
obrigação de colocar questões ao modelo de sociedade que queremos no futuro,
pois o do presente parece estar podre e vazio.
-
Educar para os valores desde a mais tenra idade, colocando a instrução
universitária (ou superior) num espaço cultural de serviço à pessoa humana e
não à promoção dos outros para meu proveito… seja ele qual for, agora ou no
futuro.
- Semear
fraternidade e não exploração, pois somos confrontados com sinais de egoísmo e
processos de imposição da vontade de minorias aos outros, isto é, temos de
reconquistar a confiança uns nos outros, através de gestos e de palavras de
verdade e de humildade.
-
Proporcionar conquistas de serviço aos outros e não exibir-(se) em projetos mais
ou menos interessantes, mas que só conseguirão vencer se forem participados por
muitos e não aproveitados por uns tantos.
Respeito
por si mesmo exige consagração de vida dedicada aos outros… porque eles são meus
irmãos!
António Sílvio Couto
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