A
riqueza de 85 pessoas do mundo corresponde à soma das posses de quase metade da
população mundial, isto é, um por cento das famílias concentram 110 biliões de
dólares, sessenta e cinco vezes a riqueza total da metade mais pobre da
população mundial.
Esta
conclusão faz parte de um relatório de uma organização não-governamental
britânica a apresentar no ‘Fórum económico mundial’, que reúne, por estes dias,
na Suíça. Este relatório refere ainda que, no último ano, mais de duzentas
pessoas tornaram-se milionárias…
- Quando
de tantas e tão variadas formas vemos as pessoas a viver em volta do dinheiro, podemos
ficar estarrecidos com a concentração de tantos recursos nas mãos de tão
poucos, criando uma espécie de injustiça agravada…
- Quando
no nosso tempo as pessoas são valorizadas pelo que ostentam e não por aquilo
que são, o abuso de poder económico torna-se uma conduta bem mais subtil do que
aquilo que podemos reconhecer. Com efeito, há pessoas que valorizam o ‘ter’ em
vez do ‘ser’ e o ‘parecer’ em vez da autenticidade e verdade.
- De
muitas e diversas formas temos vindo a ser ‘educados’ para que o fator dinheiro
valha mais do que a cultura, levando, por vezes, os mais novos a exigirem o que
se torna quase incomportável para os pais e educadores. De fato, há fatores de
distinção que flutuam ao sabor da vulgaridade de quem se promove e faz parecer
importante, mas, de verdade, mais não é do que oco e vazio… tanto na prática
como na teoria.
-
Desgraçadamente vivemos numa cultura onde a preguiça – ‘ser rico e não fazer
nada’ – ganhou estatuto de elogio, fazendo com que os mais ricos aviltem os
mais pobres com exageros e com exibições nada consentâneas com a dignidade
humana. Se atendermos à promoção de certas iniciativas de bem-fazer podemos ver
uma espécie de psicologia do anzol, temos os outros presos pela boca e damos
para que nos agradeçam… Esta tentação pode até passear-se pelos corredores das
nossas igrejas ou estar guardada em armário nas sacristias ou, por que não,
mais ou menos presente nos espaços de ação socio-caritativa!
= Caridade: dom e mistério… na fé
e na vida
Diante
de muitas ações de filantropia como que sentimos alguma tristeza, pois nem
sempre as pessoas contam, a sério, para serem ajudadas. Algumas das que
recorrem à ajuda também vão aprendendo a arte de subsistir, adaptando-se às
circunstâncias e aos lugares, podendo tornarem-se (quase) profissionais da
pedinchice e /ou da subsidiodependência.
Já lá
vai o tempo de as famílias – sobretudo mais ricas e endinheiradas ou com bens
de raiz – terem os ‘seus pobres’ a quem ajudavam para serem consideradas boas
pessoas ou até se destacarem no contexto social (normalmente rural) e /ou
religioso. Hoje, com o anonimato do tecido urbano, as pessoas estão mais deixadas
ao seu destino, crescendo a multidão dos excluídos e as franjas dos
marginalizados. Se não fossem algumas iniciativas de âmbito socio-religioso…
substitutas do (pretenso) ‘Estado social’, a fome seria mais grave no nosso
país e no mundo e as assimetrias criariam ainda mais revoltados e empobrecidos.
A Igreja
católica tem uma doutrina e uma prática muito avançada – mesmo em relação a
certas teorias e ideologias (pretensamente) de esquerda – criando, gerando e
gerindo a partilha entre todos, não em razão das leis exteriores – como no
coletivismo de Estado, no socialismo (dito) democrático ou na desejada social-democracia
– mas a partir do interior e da convicção das pessoas: não somos obrigados a pôr
em comum, mas colocamos em comum em razão da fé, que nos irmana e nos conduz. O
risco será quando se institucionaliza a tentativa de igualdade sem fraternidade
e não se educa a força de comunhão, tanto entre as pessoas como com as
associações, coletividades e agremiações. Quem não conhece a força (espiritual)
das irmandades? Como não reconhecer o poder (moral) das misericórdias? Como esquecer
a capacidade de mobilização da fé e da caridade em tantas ações de bem comum?
Quando a
ignorância se torna atrevida é comum assistirmos ao labéu sobre as riquezas da
Igreja católica. Mas porque não se faz idêntica campanha com as riquezas de
tantos Estados e mesmo de certas organizações transnacionais? A quem interessa
colocar sob fogo a Igreja e esconder outros poderios bem mais fortes e
influentes? A História, normalmente, se encarrega de fazer justiça… nem que
leve muito tempo!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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