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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

‘Esta é a voz’!...


Eis o som identificativo de um programa televisivo de um canal em sinal aberto. Edição após edição, este programa suplanta a concorrência e tem-se tornado dos poucos temas transversais na sociedade e na dita cultura popular… pelo menos a fiar-nos nas amostragens de audiência!

Não está em causa formular de modo exaustivo algum juízo de valor – muitos há, desde a linguagem até às insinuações, das tiradas com sentido malicioso até ao comportamento de quase promiscuidade, passando pela malcriadez de concorrentes e mesmo da apresentadora – sobre os conteúdos nem sobre os participantes do referido programa, mas antes tentar refletir sobre aquela expressão: ‘esta é a voz’, pois pode tornar-se algo mais do que uma imagem de marca, mas antes uma situação cuja imagem poderá distorcer outros contextos em que expressão igual ou idêntica seja utilizada.

Não fui nem sou seguidor regular do programa. No entanto, não recuso ter gasto algum tempo para saber do que se tratava. Não sei os nomes dos concorrentes e confundo-os/as nas personagens… Fico-me, por isso, naquela frase que motiva esta reflexão – espero que entendam que não se trata de procurar resquícios de maledicência, mas antes a procura de uma nova forma de entender quais são as vozes que se nos impõem e fazem ouvir ou confundir, crentes ou não-crentes…

= Ainda recentemente, na liturgia do tempo do Natal, escutamos essa expressão sobre João Batista: quem és tu? Ao que ele respondeu: ‘eu sou a voz do que brada no deserto’! Não será que, quem via aquele programa, sorria com a expressão dita por João? Onde e como podemos discernir a diferença sem acrescentarmos alguma semelhança ou mesmo proximidade?

= Se atendermos a que a tal ‘voz’ não passa disso, pois não se lhe conhece o rosto, como poderemos não baralhar os mais novos se lhes dissermos que, da voz de Deus não temos o rosto, mas só uma voz que nos fala? Não andará por aqui algo que nos pode exigir mais do que banalidades sem recorrermos a frases feitas ou a chavões doutros tempos?

= A ‘voz’ do programa dá ordens, corrige, adverte, castiga… consola, premeia, introduz novas tarefas…confronta as pessoas quando desavindas, reconcilia, promove os seus ‘valores’… numa panóplia de missões, dentro e fora do confessionário. Reparemos na quantidade de clichés religiosos de âmbito cristão/católico! De fato, a imaginação dos promotores do programa tentou servir-se do quadro religioso tradicional do povo português… criando confusão ou aproveitamento! Nesta polivalência de conceitos parece que houve intenção de gerar novos critérios e condutas, senão na teoria pelo menos na prática!

= Como poderemos articular a ‘voz’ exterior com a ‘voz’ interior, que também é dita como sendo a ‘voz da consciência’? Haverá alguma concordância e conciliação? Acertaremos na mais adequada?

+ Questões essenciais de índole espiritual/cristã

Diante desta temática como que sentimos alguma urgência em mergulhar nas ondas da ‘Voz’ – isto é, de Deus – que nos fala e nos interpela, nos conduz e nos educa, nos mostra o caminho e nos faz converter à luz da Sua Palavra, que é Jesus e que está escrita na Sagrada Escritura.

Precisamos com necessidade educada e educativa de saber distinguir as vozes que nos seduzem das vozes que nos conduzem, as vozes que nos amordaçam das vozes que nos libertam, as vozes que, embora melodiosas, são maliciosas, tanto no conteúdo como na forma… clara ou capciosa.

Porque nem sempre é fácil distinguir o essencial do secundário, precisamos que nos ajudem a fazer um caminho de humildade e de serenidade, onde os outros nos acompanham nesse acreditar, pois Deus fala-nos por eles e que não efabulamos o que pretendemos ser a ‘voz de Deus’ num sentido subjetivo da compreensão humana… Se até os grandes santos se submeteram ao discernimento da ‘voz de Deus’ pela condução dos irmãos, quem somos nós para pretendermos fazer caminho diverso? Cuidado: não escutemos só os que connosco concordam, pois, podem ser antes de ajuda, estorvo ou adulação do mal.

Aprendamos a escutar e escutemos a ‘Voz de Deus’ no mais íntimo de nós mesmos e na palavra da Igreja.

 

António Sílvio Couto

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