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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sinais de alegria… num tempo entristecido?


«A alegria do Evangelho enche o coração e toda a vida dos que se encontram com Jesus. Aqueles que se deixam salvar por Ele são libertos do pecado, da tristeza do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo nasce e renasce a alegria todos os dias. Nesta exortação [Evangelii gaudium] quero dirigir-me a todos os fiéis cristãos, convidando-os a uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria e indicando caminhos da peregrinação da Igreja nos próximos anos».

É assim que se inicia a exortação apostólica A alegria do Evangelho, do Papa Francisco, publicada no passado dia de Cristo Rei, 24 de novembro, data de encerramento do ‘Ano da fé’.

Procurando lançar novas pistas para o anúncio do Evangelho no mundo atual, o Papa analisa, em quase trezentos números, divididos por cinco capítulos: a transformação missionária da Igreja; na crise do compromisso comunitário; o anúncio do Evangelho; a dimensão social da evangelização; evangelizadores com Espírito…

Se bem que tenhamos de ler, refletir, rezar e meditar este primeiro texto exclusivamente do magistério do Papa Francisco, queremos, nas atuais circunstâncias do nosso país colocar breves e urgentes considerações e questionamentos sobre a nossa identidade coletiva.

= A quem interessa incendiar o nosso povo?

Temos visto e ouvido pessoas – acreditávamos que eram gente de bem, mas pelo que fazem e dizem não o serão! – a tentar incendiar os (des)ânimos do nosso povo, criando quadros de guerrilha, lançando bocas desmioladas, com posições intempestivas e apelando à revolta (quase) anarquista… a curto e médio prazo.

Desculpando uma vivência pessoal recente: como se pode acreditar que há boa-fé em certas manifestações, quando vemos horas a fio trabalhadores autárquicos a vociferam contra tudo e contra todos – até atingindo, inclusive, os seus patrões eleitos – apelidando-os desde cobardes até ladrões, de corruptos, passando por incompetentes, apupando-os e ofendendo a dignidade pessoal, familiar e moral…Tudo isto aconteceu em tempo de trabalho, à porta de iniciativas de bem-fazer e atingindo quem nada tem a ver com tal espetáculo…

De fato, o povo anda azedo, os rostos das pessoas transmitem agressividade, as faces andam fechadas e os comportamentos, no mínimo, parecem esquisitos.

A dimensão assaz materialista de muitas pessoas deixa transparecer que o dinheiro não satisfaz e que a teoria da qualidade de vida alicerçada na experiência dos (meros) prazeres materiais pode dar gosto, mas não preenche a pessoa no seu mais elevado ideal humano, psicológico e espiritual.

Aos fomentadores da religião do consumismo estão a faltar (já) os tentáculos do engano com que foram iludindo os mais incautos e a fomentação da horizontalidade egoísta abre brechas nas muralhas da cultura ‘faz-de-conta’… É perigoso seduzir e depois não ser capaz de alimentar a provocação!

 = Desafios à autenticidade cristã

Dizia alguém com propriedade que a crise que temos estado a viver era uma oportunidade – que podia ser aproveitada ou desperdiçada! – para fazer refletir sobre o essencial da nossa condição terrena, podendo a proposta cristã responder ou não – melhor ou pior – com a audácia da pobreza evangélica… Esta será sempre um valor e não uma mera resignação e, muito menos, um convite à preguiça e à subsidiodependência.

Ora o que temos visto, nos tempos mais recentes, no nosso país, é uma tendência para nos irmos dependurando no ‘Estado-providência’, reclamando e pouco participando, exigindo e pouco trabalhando, confrontando e muito pouco servindo… E nem os clichés de ‘Estado social’, de ‘direitos adquiridos’ e muito menos a irreversibilidade das conquistas – laborais, de grupo ou mesmo de teor sindical – podem ofuscar a nossa responsabilidade na construção do bem comum e não – como é habitual – na submissão deste aos interesses particulares e quase neo-coletivistas… do século passado.

Está na hora de acordar deste marasmo hipocondríaco para onde nos têm atirado alguns dos mentores da facilitação. As vitórias não valem só quando os nossos adeptos vingam, pois a vingança é corrosiva, já!    

 

António Sílvio Couto

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