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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Carta aberta aos meus irmãos, padres!


Estimados irmãos,

Depois da mais recente exortação apostólica do Papa Francisco, A alegria do evangelho e perante a generalidade da nossa figura – visual, simbólica e humana – senti-me impulsionado a partilhar convosco algo que – progressiva, amadurecida e preocupantemente – me tem vindo a inquietar.

Para quem não me conheça, apresento-me: tenho quase cinquenta e cinco anos de idade e mais de trinta de ordenação sacerdotal; nasci na região do Minho, mas estou há mais de dezasseis anos em atividade pastoral na região de Setúbal; tenho uma certa tendência para escrever e, talvez, um hábito de pensar por escrito; gosto muito, no exercício, do ministério sacerdotal, da dimensão eucarística, numa dinâmica pneumatológica; encontrou-me numa descoberta da dimensão mariana…pessoal e eclesialmente.

Ora, no passado dia de Cristo Rei, participei no encerramento do ‘Ano da fé’, na diocese de Setúbal, que decorreu em Almada. Reparei que a maioria – senão mesmo a totalidade – dos rostos dos (nossos) padres denotavam alguma tristeza… talvez ansiedade, inquietação… e, sei lá: desânimo!

Diz o nosso povo, na sua sábia e acrisolada sabedoria, algo que aqui se pode citar: ‘o mal e o bem ao rosto vem!’ Ora, se aquilo que se vê é triste, como não será de tristeza a nossa difusão disso, mesmo a um tempo que se manifesta cada vez mais entristecido…

- Sabem, tão bem ou melhor do que eu, que os problemas das pessoas se repercutem em nós. As dificuldades das pessoas deixam marcas em nós. As dores dos nossos irmãos e irmãs deixam-nos em comunhão com os seus sofrimentos…por mais ou menos tempo!

- Nós falamos de ressurreição, mas nem sempre da forma mais alegre e entusiasmada. Nós falamos de esperança, mas parece que ela não nos envolve de verdade. Nós difundimos o amor – sobretudo na vertente mais divina e divinizante da caridade – e das suas manifestações, mas talvez nem sempre o testemunhemos afetiva e efetivamente…

- É certo que, por vezes, não temos a devida ressonância das nossas propostas nem das que a diocese nos coloca. Talvez os que nos acompanham e com quem caminhamos, sobretudo, nas paróquias não se empenham nem se comprometem como gostaríamos. De fato, esbarramos com alguma indiferença, apatia e desinteresse. Por vezes podemos ser tentados a nivelar as propostas pelo menor denominador comum, gerindo uma pregação light ou até propondo uma religião amolecida…

- Deixo, por isso, em jeito de propostas breves achegas para o tempo do Advento:

* Se o nascimento de Jesus é mensagem de alegria, temos de celebrá-lo com novo entusiasmo. Podemos não converter muitos, mas que consigamos pelo menos um novo cristão mais consciente e alegre.

* Se a celebração do Natal gera fraternidade, tentemos fraternizar o nosso ambiente, a começar pelos nossos vizinhos e familiares.

* Se não podemos recristianizar o Natal, tentemos ter dois ou três gestos que possam levar Jesus à vida daqueles que nos foram confiados pela Igreja como campo de evangelização e de missão.

 Queiram-me desculpar o que vos escrevi, mas tudo isto é primeiramente para mim. Se vos for útil aproveitem.

Com estima e amizade,

 

António Sílvio Couto

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