«São cegos a conduzir outros
cegos! Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova» (Mt 15,14).
Esta citação da Sagrada Escritura tem-me andado a bailar na mente ao ver as
atitudes de tantos dos nossos contemporâneos, sobretudo daqueles que, em
lugares de poder, nem sempre sabem exercer a autoridade… com visão.
Desde já uma nota sobre os
‘cegos’, pois não nos referimos aos que têm esta limitação física, pois, muitos
deles veem muito melhor dos que têm vista nem tão pouco pretendemos entrar numa
linguagem eufemística da cegueira, mas antes queremos, tão somente, colocar
alguns aspetos da (não) condução de quem nos devia conduzir, agora como no
futuro, isto é, com visão e horizonte…
= Necessidade de preparação
Desgraça e infelizmente o nosso
país não tem tido muitas figuras que preencham os requisitos para serem considerados
‘líderes’, seja qual for a instância de exercício desta tarefa, pois, como
certamente sabemos, as qualidades de bons condutores de grupos, de povos e de gentes,
não sendo totalmente inatas, precisam de ser descobertas, cultivadas e
exercidas em função dos outros.
Vejamos o campo da política:
quanta gente chega ao posto de mais poder por promoção dos parceiros e de
múltiplos interesses do que pela boa capacidade de estar ao serviço dos outros.
Como sói dizer-se: estão para se servir do que para servir!
Isto, em Portugal, é tanto mais
grave quando já tivemos, nestes últimos quarenta anos de democracia, algumas personalidades
com grande categoria de liderança – seja qual for a instância ideológica ou
partidária – mas que não deixaram legado, antes, pelo contrário, como que
secaram sucessores capazes de continuarem um bom rumo para o país. À
eucaliptização dos solos seguiu-se idêntico processo nas mentes e nos
comportamentos!
Nas duas últimas décadas temos
tido gente mal preparada a exercer o poder. Figuras secundárias que ascenderam
ao comando sem condições mínimas de lhes serem conferida a mínima autoridade,
gastando o que se tem e hipotecando as gerações vindouras.
E o que vemos para o futuro
próximo? Pessoas que continuam na senda deste descalabro, que até podem chegar
ao poder por desgaste das incompetências no atual exercício, mas que sofrem de
idêntica doença: falta de preparação, visão muito umbilical dos assuntos e das
propostas… olhando mais pelo retrovisor da vida – que nos faz olhar para trás e
em pequenino – do que pelo vidro panorâmico para a frente no veículo da vida!
= Precisamos de metas e de ganhadores
Veja-se como este país celebra
algum feito de um dos ‘nossos’ em qualquer campo de intervenção no estrangeiro:
sobretudo no desporto (particularmente no futebol), mas também nas artes e nos
espetáculos… no entanto, nos temos capacidades de nos unirmos para construir um
futuro mais humano e ainda mais fraterno. Por vezes, pequenos feitos poderiam
capacitar-nos para sabermos compreender que será no sucesso comum que todos
ganharemos e não nesta continua depreciação com que nos julgamos como que por
natureza de vencidos.
Como podem ser levados a sério
promotores da contestação, que mias se entretêm a protestar do que a trabalhar?
Como vamos acreditar em quem levou dezenas de empresas à falência e agora se
apresentam como defensores da classe operária? Como poderá alguém querer ter um
futuro com direito a reforma se permitiu que se matassem os filhos, mesmo ainda
não nascidos? Até onde irá este clima de fim de regime cultural, permitindo que
a ‘família’ seja mais um antro de interesses do que uma escola de valores?
Se há quem se apresente com o
direito a estar contra tudo e contra todos, também deve ser respeitado quem não
quer tornar-se no coveiro desta Nação, que valeu sangue e lágrimas dos nossos
antepassados!
Aos profissionais da maledicência
– de que tanto gosta a comunicação social – precisamos de contrapor quem faz o
bem em função dos outros e não dos seus interesses. Cegos sem visão, não
obrigado!
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com
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