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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Cegos guias de cegos!


«São cegos a conduzir outros cegos! Ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão nalguma cova» (Mt 15,14). Esta citação da Sagrada Escritura tem-me andado a bailar na mente ao ver as atitudes de tantos dos nossos contemporâneos, sobretudo daqueles que, em lugares de poder, nem sempre sabem exercer a autoridade… com visão.

Desde já uma nota sobre os ‘cegos’, pois não nos referimos aos que têm esta limitação física, pois, muitos deles veem muito melhor dos que têm vista nem tão pouco pretendemos entrar numa linguagem eufemística da cegueira, mas antes queremos, tão somente, colocar alguns aspetos da (não) condução de quem nos devia conduzir, agora como no futuro, isto é, com visão e horizonte…

= Necessidade de preparação

Desgraça e infelizmente o nosso país não tem tido muitas figuras que preencham os requisitos para serem considerados ‘líderes’, seja qual for a instância de exercício desta tarefa, pois, como certamente sabemos, as qualidades de bons condutores de grupos, de povos e de gentes, não sendo totalmente inatas, precisam de ser descobertas, cultivadas e exercidas em função dos outros.

Vejamos o campo da política: quanta gente chega ao posto de mais poder por promoção dos parceiros e de múltiplos interesses do que pela boa capacidade de estar ao serviço dos outros. Como sói dizer-se: estão para se servir do que para servir!

Isto, em Portugal, é tanto mais grave quando já tivemos, nestes últimos quarenta anos de democracia, algumas personalidades com grande categoria de liderança – seja qual for a instância ideológica ou partidária – mas que não deixaram legado, antes, pelo contrário, como que secaram sucessores capazes de continuarem um bom rumo para o país. À eucaliptização dos solos seguiu-se idêntico processo nas mentes e nos comportamentos!

Nas duas últimas décadas temos tido gente mal preparada a exercer o poder. Figuras secundárias que ascenderam ao comando sem condições mínimas de lhes serem conferida a mínima autoridade, gastando o que se tem e hipotecando as gerações vindouras.

E o que vemos para o futuro próximo? Pessoas que continuam na senda deste descalabro, que até podem chegar ao poder por desgaste das incompetências no atual exercício, mas que sofrem de idêntica doença: falta de preparação, visão muito umbilical dos assuntos e das propostas… olhando mais pelo retrovisor da vida – que nos faz olhar para trás e em pequenino – do que pelo vidro panorâmico para a frente no veículo da vida!

= Precisamos de metas e de ganhadores

Veja-se como este país celebra algum feito de um dos ‘nossos’ em qualquer campo de intervenção no estrangeiro: sobretudo no desporto (particularmente no futebol), mas também nas artes e nos espetáculos… no entanto, nos temos capacidades de nos unirmos para construir um futuro mais humano e ainda mais fraterno. Por vezes, pequenos feitos poderiam capacitar-nos para sabermos compreender que será no sucesso comum que todos ganharemos e não nesta continua depreciação com que nos julgamos como que por natureza de vencidos.

Como podem ser levados a sério promotores da contestação, que mias se entretêm a protestar do que a trabalhar? Como vamos acreditar em quem levou dezenas de empresas à falência e agora se apresentam como defensores da classe operária? Como poderá alguém querer ter um futuro com direito a reforma se permitiu que se matassem os filhos, mesmo ainda não nascidos? Até onde irá este clima de fim de regime cultural, permitindo que a ‘família’ seja mais um antro de interesses do que uma escola de valores?

Se há quem se apresente com o direito a estar contra tudo e contra todos, também deve ser respeitado quem não quer tornar-se no coveiro desta Nação, que valeu sangue e lágrimas dos nossos antepassados!

Aos profissionais da maledicência – de que tanto gosta a comunicação social – precisamos de contrapor quem faz o bem em função dos outros e não dos seus interesses. Cegos sem visão, não obrigado!
 

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com

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