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terça-feira, 5 de novembro de 2013

Da verdade à mentira… ao longo do dia

As pessoas tendem a ser mais verdadeiras pela manhã… e à tarde tornam-se mais propensas para mentir. Esta conclusão foi tirada de uma pesquisa de uma universidade americana, que averiguou que tal mudança ocorre porque o cansaço, gerado ao longo do dia, afeta o autocontrolo, que nos capacita para dizermos a verdade…

Certamente que esta conclusão universitária não terá nada de moral, mas antes poderá servir de equação de trabalho até podermos entender os comportamentos e as possíveis reações… nossas e dos outros. Há aqui, no entanto, algo que nos deverá levar a encontrar explicações para as atitudes das pessoas com quem contactamos e até para nos compreendermos a nós mesmos.

= Com a verdade ainda me enganas?

Cada um de nós, no seu dia-a-dia, contata com algumas (poucas ou muitas, segundo o caso) pessoas: umas de forma habitual, outras de modo ocasional; umas tendo um relacionamento superficial, outras tocando aspetos de vida mais pessoal; umas por razões profissionais, outras por motivos psicológico/espirituais; umas que nos enganam, outras que nos cativam; umas com quem simpatizamos, outras que, mesmo inconscientemente, quase repelimos; umas que se percebe que são sérias, outras de quem temos de estar mais na desconfiança… E esta lista quase dicotómica poderia continuar sem não abarcarmos as imensas diversidades e perspetivas…

Há, no entanto, um plano de denominador comum: todos e todas são pessoas que merecem o nosso respeito, mesmo que possam receber a nossa discordância nalguns dos aspetos de pensamento ou de ideologia, de opção política, de visão religiosa… ou ainda na dimensão cultural diversificada.


= Várias imagens que temos... de nós ou que apresentamos… aos outros

Poder-se-á dizer que as pessoas têm várias imagens de si mesmas e dos outros: desde aquela que cada um tem de si próprio até àquela que pretende fazer passar para os outros; da que é decorrente do papel social que exerce ou ocupa até àquela que se espera que possa ter nessa função; da que é mais normal até àquela que se pode tornar mais ou menos exotérica; desde a mais simples ou simplista até à mais elaborada ou rebuscada; da mais fácil de entender até à mais nebulosa; da imagem genuína e simples até à (dita) maquilhada e complexa (ou complexada), seja pelas influências alheias, seja pelos interesses mais pessoais…

Quantas vezes se nota um certo desfasamento entre o que nós pensamos de nós mesmos – a tal imagem que temos de nós – e aquilo que os outros veem – isto é, o modo como nos conhecem. De fato, o espelho a que tantas vezes nos vemos – mas nem sempre, infelizmente, nos observamos! – nos engana e faz com que até (quase) mintamos sem consciência.

Quantas vezes tropeçamos – pelas mais díspares circunstâncias – em pessoas que vivem para a imagem, muitas vezes falseada por valores, projetos e intenções nem sempre condizentes com uma cultura humanista… e muito menos com implicações cristãs. Talvez aí a mentira possa ser um modo de estar e de viver, muito para além de um desenrolar do dia-a-dia.

= Em vista de um novo rosto de pessoa… equilibrada

Com tantos afazeres e múltiplas preocupações as pessoas do nosso tempo têm, muitas vezes, um rosto demasiado dilacerado pelas amarguras, a ansiedade, a tensão, o medo… a falta de trabalho e de dinheiro, as dívidas e as dúvidas, as doenças e o desespero… Se tivermos tempo para observarmos os rostos daqueles/as com que nos cruzamos ou com que trabalhamos e vivemos, teremos descobertas de grande surpresa… Mas será que damos tempo para que tal se possa verificar? Ou andamos tão ocupados com coisas urgentes que nos esquecemos das mais necessárias?

Tentando recuperar a dignidade do rosto pessoal e dos outros, precisamos de aprender a viver na verdade de manhã, ao meio-dia, ao entardecer e pela noite dentro… tanto no sentido real como na dimensão mais poética e virtual, exorcizando as sementes de mentiras em nós e à nossa volta, já!

 

António Sílvio Couto

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