Certamente que esta conclusão
universitária não terá nada de moral, mas antes poderá servir de equação de
trabalho até podermos entender os comportamentos e as possíveis reações… nossas
e dos outros. Há aqui, no entanto, algo que nos deverá levar a encontrar
explicações para as atitudes das pessoas com quem contactamos e até para nos
compreendermos a nós mesmos.
= Com a verdade ainda me enganas?
Cada um de nós, no seu dia-a-dia,
contata com algumas (poucas ou muitas, segundo o caso) pessoas: umas de forma
habitual, outras de modo ocasional; umas tendo um relacionamento superficial,
outras tocando aspetos de vida mais pessoal; umas por razões profissionais, outras
por motivos psicológico/espirituais; umas que nos enganam, outras que nos
cativam; umas com quem simpatizamos, outras que, mesmo inconscientemente, quase
repelimos; umas que se percebe que são sérias, outras de quem temos de estar
mais na desconfiança… E esta lista quase dicotómica poderia continuar sem não abarcarmos
as imensas diversidades e perspetivas…
Há, no entanto, um plano de
denominador comum: todos e todas são pessoas que merecem o nosso respeito,
mesmo que possam receber a nossa discordância nalguns dos aspetos de pensamento
ou de ideologia, de opção política, de visão religiosa… ou ainda na dimensão
cultural diversificada.
= Várias imagens que temos... de
nós ou que apresentamos… aos outros
Poder-se-á dizer que as pessoas
têm várias imagens de si mesmas e dos outros: desde aquela que cada um tem de
si próprio até àquela que pretende fazer passar para os outros; da que é
decorrente do papel social que exerce ou ocupa até àquela que se espera que
possa ter nessa função; da que é mais normal até àquela que se pode tornar mais
ou menos exotérica; desde a mais simples ou simplista até à mais elaborada ou
rebuscada; da mais fácil de entender até à mais nebulosa; da imagem genuína e
simples até à (dita) maquilhada e complexa (ou complexada), seja pelas
influências alheias, seja pelos interesses mais pessoais…
Quantas vezes se nota um certo
desfasamento entre o que nós pensamos de nós mesmos – a tal imagem que temos de
nós – e aquilo que os outros veem – isto é, o modo como nos conhecem. De fato,
o espelho a que tantas vezes nos vemos – mas nem sempre, infelizmente, nos
observamos! – nos engana e faz com que até (quase) mintamos sem consciência.
Quantas vezes tropeçamos – pelas
mais díspares circunstâncias – em pessoas que vivem para a imagem, muitas vezes
falseada por valores, projetos e intenções nem sempre condizentes com uma
cultura humanista… e muito menos com implicações cristãs. Talvez aí a mentira
possa ser um modo de estar e de viver, muito para além de um desenrolar do
dia-a-dia.
= Em vista de um novo rosto de pessoa… equilibrada
Com tantos afazeres e múltiplas
preocupações as pessoas do nosso tempo têm, muitas vezes, um rosto demasiado
dilacerado pelas amarguras, a ansiedade, a tensão, o medo… a falta de trabalho
e de dinheiro, as dívidas e as dúvidas, as doenças e o desespero… Se tivermos
tempo para observarmos os rostos daqueles/as com que nos cruzamos ou com que
trabalhamos e vivemos, teremos descobertas de grande surpresa… Mas será que
damos tempo para que tal se possa verificar? Ou andamos tão ocupados com coisas
urgentes que nos esquecemos das mais necessárias?
Tentando recuperar a dignidade do
rosto pessoal e dos outros, precisamos de aprender a viver na verdade de manhã,
ao meio-dia, ao entardecer e pela noite dentro… tanto no sentido real como na
dimensão mais poética e virtual, exorcizando as sementes de mentiras em nós e à
nossa volta, já!
António Sílvio Couto
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