Diz o nosso povo na
sua sabedoria prática e multissecular: ande o verão por onde andar, pelo são
João cá vem parar!... Os festejos sanjoaninos já foram há quase dois meses. No
entanto, o verão deste ano trouxe-nos os mesmos ingredientes como nos anos
transactos: fogos e acidentes, festas e festivais, praias e luxos, férias e
devaneios, tricas partidárias e campanhas eleitorais... Talvez tenha sido neste
último ítem que possa ter havido alguma diferença, pois, no último domingo de
setembro, somos chamados a votar para novos órgãos autárquicos!
Procurando ter,
apesar de tudo, das situações e das pessoas uma visão (minimamente) positiva,
queremos, no entanto, deixar alguns aspectos que nos devem – como cidadãos
cristãos – fazer reflectir não só tendo em conta o presente, mas atendendo ao
futuro.
= Fogos e acidentes
Houve momentos em que
o país real – isto é, onde vive o povo que sofre e luta e não para uns tantos ‘citadinos’
acomodados (*) – esteve a ferro e fogo: centenas de incêndios, bombeiros que
morreram de forma directa ou indirecta no combate às chamas, povoações em risco
e haveres consumidos, múltiplos meios de socorro... milhares e milhares de
hectares de floresta ardidos e alguns incendiários (uns tantos reincidentes)
apanhados na rede... mas talvez nunca sejam castigados. Por seu turno, as
estradas – sobretudo as não pagas através de portagens – encheram-se de
veículos. Houve dias em que, no mesmo percurso, morreu quase uma dezena de
pessoas. Nem o policiamento mais apertado em certos dias ou tão pouco as multas
cada vez mais elevadas conseguiram disciplinar os condutores... Parece que as
pessoas não aprendem com os erros alheios nem sequer com os próprios! Quem não
se cuidar na estrada corre sério risco de vida, tais são as manobras perigosas
e as pressas de uns tantos habilidosos na arte de mal conduzir... E não são só
os outros!
Tem sido um verão de
luto. Até quando teremos de suportar tanta inconsciência colectiva?
= Festas e festivais... mais futebóis
Podem dizer que o
dinheiro está curto e que há crise, mas os mais variados festivais de música (de
norte a sul e com pequenos intervalos) estão cheios de gente e os custos –
directos e indirectos – são razoáveis. Talvez seja hoje – para algumas pessoas
– uma espécie de estatuto de estar ‘in’, quando vão ou dizerem ir, bem como
permitirem que os filhos vão... a tais acontecimentos ‘religiosos’. Parece que
de uma ‘religião’ se trata nesse ritual dos festivais, sejam ou não
patrocinados por empresas de telecomunicação ou entidades fornecedoras de
bebidas... Importa estar por lá ou, ao menos, vir sujo de pó (o próprio ou o
carro) e com algum adereço que faça pensar numa nova intelectualidade... de
fachada!
Agora que começou a
época desportiva, é bom de ver os estádios a encherem-se de adeptos,
questionando os resultados e discutindo as táticas... Dizem que não há
dinheiro, mas para a bola sempre se arranja umas notas, porque de trocos
estamos falados!
= Em tempo de campanha... férias e praias
Já vemos os cartazes
para as próximas eleições autárquicas. Uns mais sérios, outros mais apelativos;
uns com mais gente, outros só com as figuras mais visíveis; uns mais coloridos,
outros já parecem desbotados... No entanto, há um novo ‘adereço’ – desculpem o
epíteto, mas de pouco mais nos apraz registar – nesses cartazes que é
confrangedor: todos metem uma ou outra mulher... por entre uma maioria de
homens já conhecidos ou a despontar para as lides da votação. Dizem que é por
causa das quotas da ‘lei da paridade’, onde por cada dois homens tem de estar
uma mulher. Desgraçada lei, que usa as pessoas (mulheres) e os que as usam
(homens) pouco se importam de as exporem ao ridículo... ou assim parece!
Pelo grande e elevado
respeito que me merecem as mulheres – senhoras, mães, filhas, irmãs, esposas,
etc. – não gosto de vê-las a serem usadas como se fossem material publicitário
em maré de degradação social e cultural. Por isso, mulheres façam-se respeitar
e mais do que objectos sejam pessoas com dignidade, já!
(*) Não vimos nem ouvimos a dizerem nada sobre a
vaga de fogos: o Presidente da República, o Primeiro Ministro, os líderes
partidários de qualquer quadrante, os dirigentes sindicais... nem os
responsáveis da Igreja!
António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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