Dentro de dias, a 8 de setembro,
vai cumprir-se um desejo da Moita do Ribatejo – incluindo cristãos e cidadãos,
crentes ou simpatizantes, autoridades e povo – a inauguração de um monumento a
Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira desta vila... com cerca de sete anos de
projecto, mas mais dinamizado nos últimos dois anos.
O monumento apresenta uma estátua
em mármore de Nossa Senhora com quase dois metros de altura, sobre um bote em
ferro, o qual emerge das águas do rio Tejo, que está a cerca de vinte metros de
distância do local onde o monumento será colocado. O bote será pintado com as
cores típicas das embarcações (anteriormente de trabalho e agora de recreio)
das gentes da Moita.
Os custos da obra – num total que
ronda os sete mil euros – são todos suportados pelos fiéis católicos e por
outras pessoas que se quiseram associar ao acontecimento, tendo havido
angariações de recursos com peditórios, espectáculos de música e a oferta de
alguns donativos de empresas e mesmo de casas comerciais.
= Fé na rua... com sinais cristãos
Sem pretender tecer loas em causa
própria a esta iniciativa, teremos de nos situar em que estamos num espaço
territorial português onde nem sempre é fácil assumir-se como crente cristão, sobretudo
se se tem de ir para a rua, dando a cara ou assumindo-se como católico. Apesar
de tudo – com muito respeito e solenidade – há manifestações religiosas nesta
área da diocese de Setúbal, em que normalmente cada terra (freguesia, concelho
ou pequena localidade) tem os seus actos de devoção tradicionais, tais como
procissões, momentos de festa e mesmo
via-sacras ou peregrinações... na rua!
Nota-se, no entanto, a falta de
sinais religiosos nos espaços públicos. Aliás foi este um dos obstáculos criados
por alguns autarcas – que ainda estão no poder – para que fosse aceite a pretensão
em ser colocado um monumento a Nossa Senhora da Boa Viagem numa artéria da
Moita.
Agora que foram ultrapassadas
algumas das dificuldades – das autoridades a melhor e, diga-se, a mais
importante, ajuda que nos foi dada, foi a de não criar problemas, pois os meios
económicos quase nunca foram solicitados – esperamos que o monumento dignifique
a Moita e as suas gentes, criando uma simbiose com as raízes mais profundas do
seu ser psicológico, espiritual e cultural.
= Desafios em ‘Ano da fé’... ao testemunho de contra-corrente
Novamente sem pretendermos
qualquer diferenciação, nem na forma e tão pouco no conteúdo, sentimos que a
possibilidade de ser erigido um monumento em honra de Nossa Senhora – aqui na
invocação de ‘Boa Viagem’ – em espaço público torna-se numa oportunidade de
assumpção da fé católica em dinâmica de testemunho, pois, num tempo marcado
pela privatização da fé, conseguir expor-se na vi(d)a pública é como que uma
ousadia e uma espécie de exposição à possibilidade de incorrer num certo
ridículo... para uns tantos intelectuais e benquistos duma certa cultura
cristofóbica... e/ou anti-espiritual.
Quando nalguns lugares se
tentaram recauchutar peregrinações e romarias, noutras oportunidades rotulou
como símbolo da fé o que estava prestes a cair de velho, aqui, neste espaço ao
sul do Tejo – que tem tanto de simbólico, quanto de taprobánico – fomos tentando
deixar marcos que poderão ser reveladores da fé – senão comunitária pelo menos
inquietante, inquietada e inquietadora – de uma porção do povo de Deus que
reza, celebra e tenta viver em comunhão de Igreja católica!...
= Em jeito de mensagem
Deixamos agora um breve acróstido
de ‘Nossa Senhora da Boa Viagem’... com leituras e propostas:
Neste dia de festa e de alegria, na Moita
Olhamos, Mãe
bondosa, o vosso rosto,
Sentimos a
vossa presença gloriosa,
Saboreando a
vossa ternura harmoniosa
Agora e nos
momentos de tristeza.
Em cada dia da nossa vida,
Num diálogo de mãe e de filhos.
Hoje queremos renovar nossa confiança,
Onde entregamos nossas dores,
Recebendo conforto e carinho
Amando e sendo amados.
Da vossa
imagem vemos os sinais de vida,
Apresentados
na caravela e no vosso Filho
Bendita seja
a força de fé do nosso povo,
Onde se
revelam segredos de heroicidade,
Ajudando-nos
a crescer mais na fidelidade.
Vemos
mártires, confessores e pastores
Imitamos
santos, virtudes e intercessores.
Anunciamos
com a vida em Igreja
Grandes e
pequenos projectos de missão
Em cada
momento sentimos a necessidade
Multiforme
de testemunho cristão no mundo.
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com
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