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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Que festas ‘religiosas’... em tempos de crise?


É do mais elementar bom senso que se dê ao povo – essa entidade quase anónima, mas com uma personalidade colectiva muito bem definida – momentos de descontracção, de festa ou de (inteligente) manipulação... Na panóplia de festas e de festanças vamos vendo surgirem figuras e figurões, uns à sombra de santos e de heróis, outros sob a condição de habilidosos e de concorrentes... eleitorais (autárquicos e não só) e outros mais subtis na forma e no conteúdo... de contestação!

Mais do que falarmos sobre os gastos das festas – muitos deles ultrapassando a capacidade económica dos promotores, tanto na forma como no conteúdo – e do que tentarmos descortinar os reais objectivos das festanças com a ‘cobertura’ de algum santo ou santa, interrogamo-nos sobre a visão de fé (ou a falta dela!) com que são realizadas certas festas ‘religiosas’ (as aspas já querem dizer alguma coisa!), seja qual for a parte do país em que aconteçam ou que tenham a cobertura da matiz religiosa... Agora vivo ao sul do Tejo e o modelo básico de ‘festa’ não difere muito do que era e é feito no Minho, onde nasci e fui educado!   

1. De facto, queremos questionar – sobretudo no âmbito sócio-eclesial – as intenções de algumas festas com algum patrocínio religioso e sob o alcance das temáticas cristãs... mais ou menos assumidas, toleradas ou manipuladas.

Nesta época do ano quase não há freguesia/paróquia/concelho/autarquia – a identificação começa a diluir-se ao nível administrativo, mas não no âmbito religioso – que não faça a sua festa... aproveitando o calor de verão e as necessidades dos fregueses/votantes: até os santos/as se submetem aos interesses dos festejos... com Santa Luzia em agosto e São Brás em setembro... para já não falar da senhora da Conceição em junho e do santo António quando for mais rentável pela presença dos emigrantes!

De facto, o povo precisa de festa, os mordomos/as de promoção – sobretudo neste ano de eleições autárquicas e com outras misturas de interesses – as indústrias de pirotécnia de ajuda, os cantores e cançonetistas de palco, os feirantes de oportunidade de negócio... a Igreja de espaço para não cair no esquecimento... Tudo isto por entre arremedos de (pretensa) crise e/ou de arrufos recessão.. senão para todos ao menos para alguns mais lamentadores!

 

2. Há, no entanto, sinais de vida de fé e de expressão católica, que não podem ser negligenciados, se ainda tentarmos fazer de tais manifestações populares, oportunidades de vivermos para além dos episódios de circunstância. Daquilo que vimos, vivemos e sentimos, queremos propor:

- Que as procissões sejam belas, simples e bem organizadas... não podendo outras manifestações (políticas ou sindicais) serem melhores do que a honra, a veneração e o culto que prestamos aos santos, a Nossa Senhora ou a Jesus, seja qual for a época ou a circunstância... religiosa ou popular;

- Que mais do que o desfile de pessoas e de adereços (minimamente) religiosos não tenham falta de qualidade e de sentido de dignidade, tanto na forma como no conteúdo, para além da mensagem;

- Que haja clareza nos sinais de fé cristã, desde a cruz e a sua invocação comunitária até à presença solene, simples e sincera da Palavra de Deus – pelo sermão, reflexão adequada ou simples explicação dos santos e santas que integram o desfile/procissão – numa linguagem compreensível, humilde a atraente... sem panegíricos ou em agradecimentos dispensáveis... para dentro ou para fora do contexto eclesial.  

3. Mesmo que em tempo (dito) de crise, as festas religiosas são úteis, necessárias e essenciais para que haja identidade social, nacional e cultural de tudo e para todos. Assim as façamos com sentido de fé... verdadeira!

Sobretudo em tempos de crise é que o povo precisa de se divertir, não para se alienar, mas para aliviar as agruras da vida e os sacrifícios que lhe estão adstritos. Assim, façamos das festas religiosas espaços de convívio e de partilha!

Sem perder de vista a necessidade de purificação de uns tantos ingredientes neo-pagãos, as festas religiosas são oportunidade de abertura à fé, assim todos estejam conscientes disso e o façam com dignidade... cultural!

 

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com

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