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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Das crianças em risco... às situações arriscadas


Por estes dias foram anunciados os números atendidos nas comissões de protecção de crianças e jovens, relativos ao ano passado, ao nível nacional. Foram lidados cerca de 69 mil casos, muitos deles já vinham de anos transactos e mais de 29 mil foram situações novas... com uma larga fatia de casos de risco.

Com o alargamento da escolaridade obrigatória do 9.º para o 12.º ano e, consequentemente, das idades abrangidas pela ‘infantilização’ dos atingidos dos 15 para os 18 anos, passou a haver mais casos que estão sob tutela deste âmbito social... tendo crescido os casos de incumprimento da ida à escola e, portanto, sendo colocados sob a alçada de abandono, absentismo ou de insucesso escolar... Houve um aumento de 69% de processos instaurados em 2012. O perfil dos menores acompanhados nas comissões também cresceu na idade, sendo agora na sua maioria entre os 15 e os 21 anos, em vez dos menores de quinze anos, que anteriormente tinham maior expressão e referência.

As situações mais agravadas foram as que estão relacionadas com a exposição dos jovens a comportamentos que podem comprometer a sua saúde, segurança e bem-estar... tais como são as de violência doméstica, de consumo de álcool ou de estupefacientes.

Diminuiram as situações sinalizadas como de maus tratos físicos e psicológicos, de mendicidade ou de exploração do trabalho infantil, mas aumentaram as situações de abuso sexual. Por seu turno, aumentou significativamente (65% dos casos) o número de crianças e de jovens sinalizados em comportamentos que afectam o seu desenvolvimento e a sua saúde, tais como os comportamentos anti-sociais mais graves, actos de indisciplina ou de bulling, de consumo de drogas ou de álcool.

Poderemos, então, colocar breves questões, embora não expliquem nem fechem a abordagem do problema:

Que responsabilidade tem ou pode ter, neste campo, a situação de crise económica? Poder-se-ão explicar as crianças em risco também com riscos morais e éticos, para além dos físicos e psicológicos? A geração dos pais destes filhos terá sido educada à luz do carinho ou da pancada? Até onde vai a responsabilidade das crianças e a responsabilização dos adultos/pais/educadores? O regime de paparicos educa ou infantiliza?

= Que pais/educadores numa cultura tendencialmente estatizante?

Nos tempos mais recentes temos visto e ouvido situações de tutelagem do Estado sobre as pessoas que quase roça a nacionalização dos filhos, pois, certas entidades julgam-se quase donas dos filhos/as dos outros, criando momentos de dramática conjuntura, onde se intrometem não para defender os mais novos mas para como que acusar os mais velhos. Nota-se ainda em certos serviços do Estado uma espécie de abuso de poder, bastando o caso cair sob a sua alçada e as pessoas como que passam a ser tratadas como menores... para o resto da vida!

De referir que os técnicos dos serviços são cada vez mais capazes, com dedicação e – segundo os responsáveis – com mais meios, mas parece que ainda falta maior coordenação entre tantos e tão variados intervenientes em favor das crianças e dos adolescentes em risco. Sabemo-lo por contacto próximo que, muitas vezes, a fragilidade mais básica se situa na família e que, rompidos os laços de estância essencial, sobretudo os mais novos ficarão ainda mais vulneráveis...

Num tempo onde se têm que coordenar sinergias seria (ou será) de mau gosto querer reivindicar protagonismos, quando o que está em causa é o futuro do nosso país, pois se as crianças e os jovens estiverem fragilizados todos iremos pagar a factura da desconjunção da sociedade. E nem se pense que as estruturas que servem os valores espirituais podem ficar de fora, pois seria um grave erro se tal acontecesse. Cuidem, por isso, os responsáveis da protecção de crianças e de jovens em risco em incluir – ao menos por estratégia mínima – as igrejas e as associações de índole cristã, pois todos teremos muito a ganhar agora e no futuro próximo.

Afinal, a quem servimos, os outros ou andamos a tentar promover-nos a nós mesmos?

António Sílvio Couto

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