Os dados estão aí: cada recluso custa ao Estado, em média, cinquenta euros por dia, com despesas de alimentação, saúde, ensino e formação profissional... Enquanto, por parte da tutela sobre a área social, onde se incluem os mais velhos, a comparticipação financeira para ‘estrutura residencial para pessoas idosas’ (vulgarmente dito, lar) é de 355 euros por mês o que dá cerca de doze euros por dia!
Tentemos
esmiúçar números, possíveis razões e, por que não, ousarmos
apontar erros e (até) incongruências... de todos nós.
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Números e gastos... comparados
Segundo
dados dos serviços prisionais, cada recluso custará ao Estado, ao
final do ano, cerca de quinze mil euros. E, se nos ativermos ao
número global da população reclusa em Portugal, que é de quase
doze mil, teremos que o custo é de mais de 170 milhões de euros por
ano.
Não
deixará de tornar-se, no entanto, preocupante que um largo leque dos
ocupantes das prisões são jovens... estando muitos deles em idade
de trabalho activo. Neste particular a droga – sobretudo na
vertente da traficância – é a principal fornecedora do capital
humano em reclusão.
Por
seu turno, os dados sobre os custos globais do idoso em ‘estrutura
residencial’ (lar) cifra-se em cerca de novecentos euros por pessoa
ao mês – numa estimativa razoável e sem inflacionamento de
serviços ou de prestações – embora possa atingir outras verbas
mais elevadas. Se atendermos a que há registo, em Portugal, de 2.900
lares para idosos poderemos encontrar uma larga percentagem da
população neste sector de actividade humana... directa ou
indirectamente com ela relacionada. O ranking dos distritos com mais
lares – e, por conseguinte com mais idosos neles residentes – é
o seguinte: Lisboa com quase oitocentos lares, Porto com mais de três
centenas e meia e de Setúbal com mais de duas centenas de lares.
Quando
vemos crescer o número da população mais velha, inclusive com a
cunhagem de uma nova designação: ‘grande idade’ – que envolve
os velhos com mais de oitenta anos – temos de questionar uma
quantidade de ideias pré-concebidas com que a sociedade capitalista
(e não só) tem rotulado sectores essenciais da nossa cultura, bem
como teremos de reflectir sobre conceitos que muitos de nós não
tínhamos há poucos anos... atrás.
De
facto, há cerca de meio século era quase normal dizer que morria
velho quem falecesse com cerca de sessenta anos. Hoje, com esta
idade, é-se ainda novo, tanto para ser arrumado, como para deixar o
mundo do trabalho. A longevidade criou novos problemas, pois a
qualidade de vida e, sobretudo, de cuidados de saúde gerou uma
população com mais nível de exigência e até de possibilidades de
intervenção na vida social e cívica.
-
Quantas associações e colectividades são hoje espaços de convívio
para homens e mulheres que já não se limitam a arrastar-se, mas que
têm ainda muito a dar em favor dos outros e na valorização de si
mesmos.
-
Quantas iniciativas de ocupação têm de rever os conceitos de
entretenimento, pois já não só velhos/as à espera da hora do
descanso, mas antes pessoas muito válidas e com um depósito de
experiência que não pode ser ignorado ou menosprezado.
-
De pouco adiantará regatear o aumento da idade da reforma se virmos
que os mais novos escasseiam para suportarem as regalias do ‘estado
social’ e, particularmente, os descontos para os que ainda agora
estão em tempo de trabalho. Fomos nós que criámos as condições
do ‘inverno demográfico’, que já consome as raízes da nossa
sociedade empobrecida e até apodrecida.
Porque
acreditamos no bom senso de actuais e futuros governantes, queremos
desejar que se há-de fazer tudo pelo bem comum, tratando os mais
velhos com maior dignidade do que os reclusos e fazendo com que estes
possam tornar-se cidadãos conscientes numa sociedada cada vez mais
pluralista e exigente... para todos!
António
Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
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