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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Reclusos de luxo... ou velhos de lixo?


Os dados estão aí: cada recluso custa ao Estado, em média, cinquenta euros por dia, com despesas de alimentação, saúde, ensino e formação profissional... Enquanto, por parte da tutela sobre a área social, onde se incluem os mais velhos, a comparticipação financeira para ‘estrutura residencial para pessoas idosas’ (vulgarmente dito, lar) é de 355 euros por mês o que dá cerca de doze euros por dia!

Tentemos esmiúçar números, possíveis razões e, por que não, ousarmos apontar erros e (até) incongruências... de todos nós.

= Números e gastos... comparados

Segundo dados dos serviços prisionais, cada recluso custará ao Estado, ao final do ano, cerca de quinze mil euros. E, se nos ativermos ao número global da população reclusa em Portugal, que é de quase doze mil, teremos que o custo é de mais de 170 milhões de euros por ano.

Não deixará de tornar-se, no entanto, preocupante que um largo leque dos ocupantes das prisões são jovens... estando muitos deles em idade de trabalho activo. Neste particular a droga – sobretudo na vertente da traficância – é a principal fornecedora do capital humano em reclusão.

Por seu turno, os dados sobre os custos globais do idoso em ‘estrutura residencial’ (lar) cifra-se em cerca de novecentos euros por pessoa ao mês – numa estimativa razoável e sem inflacionamento de serviços ou de prestações – embora possa atingir outras verbas mais elevadas. Se atendermos a que há registo, em Portugal, de 2.900 lares para idosos poderemos encontrar uma larga percentagem da população neste sector de actividade humana... directa ou indirectamente com ela relacionada. O ranking dos distritos com mais lares – e, por conseguinte com mais idosos neles residentes – é o seguinte: Lisboa com quase oitocentos lares, Porto com mais de três centenas e meia e de Setúbal com mais de duas centenas de lares.

 
= Nova linguagem para novos desafios: sim, não, talvez...
 
Quando vemos crescer o número da população mais velha, inclusive com a cunhagem de uma nova designação: ‘grande idade’ – que envolve os velhos com mais de oitenta anos – temos de questionar uma quantidade de ideias pré-concebidas com que a sociedade capitalista (e não só) tem rotulado sectores essenciais da nossa cultura, bem como teremos de reflectir sobre conceitos que muitos de nós não tínhamos há poucos anos... atrás.

De facto, há cerca de meio século era quase normal dizer que morria velho quem falecesse com cerca de sessenta anos. Hoje, com esta idade, é-se ainda novo, tanto para ser arrumado, como para deixar o mundo do trabalho. A longevidade criou novos problemas, pois a qualidade de vida e, sobretudo, de cuidados de saúde gerou uma população com mais nível de exigência e até de possibilidades de intervenção na vida social e cívica.

- Quantas associações e colectividades são hoje espaços de convívio para homens e mulheres que já não se limitam a arrastar-se, mas que têm ainda muito a dar em favor dos outros e na valorização de si mesmos.

- Quantas iniciativas de ocupação têm de rever os conceitos de entretenimento, pois já não só velhos/as à espera da hora do descanso, mas antes pessoas muito válidas e com um depósito de experiência que não pode ser ignorado ou menosprezado.

- De pouco adiantará regatear o aumento da idade da reforma se virmos que os mais novos escasseiam para suportarem as regalias do ‘estado social’ e, particularmente, os descontos para os que ainda agora estão em tempo de trabalho. Fomos nós que criámos as condições do ‘inverno demográfico’, que já consome as raízes da nossa sociedade empobrecida e até apodrecida.

Porque acreditamos no bom senso de actuais e futuros governantes, queremos desejar que se há-de fazer tudo pelo bem comum, tratando os mais velhos com maior dignidade do que os reclusos e fazendo com que estes possam tornar-se cidadãos conscientes numa sociedada cada vez mais pluralista e exigente... para todos!



António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

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