Num
destes dias discutia-se, num canal televisivo, uma afirmação de um
alto responsável da Nação sobre a coincidência entre a aprovação
positiva dos nossos credores externos e a (possível) intervenção
de Nossa Senhora de Fátima, quando um dos participantes referiu que,
em Portugal, só quem se diz ateu e excluir a fé da vida pública é
que tem razão... os outros – isto é, os que possam dizer ou
afirmar cristãos, de forma tácita ou explícita – são excluídos
da discussão e como que vistos ainda numa certa menoridade, senão
intelectual, pelo menos, cultural... pelos tais pretensos
referenciais da normalidade, mesmo assim, minoritária. Até certos
intelectuais da revolução – mentores da ínclita constituição
ideologicamente ultrapassada no tempo e na história – afinam as
garras para invectivar quem se possa assumir como mais ou menos
crente... cristão!
=
De facto, há certos paladinos da liberdade que só a entendem como e
quando esta for contra Deus ou, pelo menos, anti-cristã. Notam-se
ainda certos laivos de que ser esquerdista – o que não bem o mesmo
que pretender ser de ‘esquerda’ social e política – laicista,
jacobino ou ateu confesso são como que prerrogativas para vingar
neste país de preconceitos e até de um proteccionismo
anti-religioso mais primário... Como se a verdade só tenha uma cor,
desde que seja de matiz contestatário! Em certas épocas da história
este vingaram, enquanto os outros não se vingaram: daqueles os
manuais deixarão notas de rodapé, destes far-se-ão capítulos de
eloquência e de heroicidade. O tempo dirá quem tem, afinal, razão!
=
Há, por vezes, discussões onde o mais assanhado complexo de
erradicar a dimensão espiritual da pessoa humana está entranhado na
alma – note-se esta espécie de contra-senso! – dos
contendores... Como se nós fossemos capazes de viver sem ideais e
estes são, normalmente, de teor espiritual mais ou menos difuso! Que
haja pessoas que não aceitem a dimensão espiritual da pessoa
humana, isso não lhe dá o direito de reduzir a o pó – seja da
cremação seja da desmemorização – quem tenha outras crenças,
diferentes formas religiosas de vida ou se norteie por ideais de
índole espiritual pessoal e comunitária. A fronteira não está no
crente/não crente, mas na superficialidade/profundidade sobre si e
para com os outros!= Em certos momentos vemos que há grupos profissionais – militares e forças de segurança, sectores da advocacia e da justiça, do desporto (sobretudo do futebol), até do meio (dito) artístico e mesmo algumas áreas eclesiásticas – que se consideram (quase) intocáveis, mais parecendo uns novos brâmanes da vida social lusa... diante da falange de párias do resto do país, que é o povo, tanto na sua expressão cívica, como na vivência ética. Com efeito, há regalias que cheiram a feudalismo, seja ele militarista, justicialista, religioso ou mesmo desportista. Na pirâmide dos que mandam nem sempre podem impor-se regras aos que têm obedecem. Por muito que tenham feito pelos outros – estes ou outros intérpretes – devem estar ao serviço e não a servir-se dos lugares... para promoção e numa certa vanglória!
= Sem pretendermos lançar suspeita sobre a legitimidade das vitórias, não deixou de ser esquisito que, estando ainda em disputa os jogos, já estivessem, no palco do jogo de quem ganhou o campeonato de futebol maior português, as medalhas e todos os adereços de consagração. E se o resultado não tivesse sido a vitória – bastaria ter-se verificado um empate, quanto mais a derrota! – os que estavam a mais de trezentos quilómetros de distância não teriam tido tal consagração, pois os ingredientes já estavam noutra sintonia. Valha-nos a verdade – desportiva, moral e até intelectual – e não faríamos a figura de que já havia campeão antes do jogo jogado. Não está em causa a vitória, mas a sobranceria com que são tratados os que não pensam nem agem como os que estão, normalmente, por cima... nos últimos anos!
= Agora que já se sabe com certeza quem é o próximo patriarca de Lisboa, fica a pairar no ar – etéreo, mas nem sempre diáfano – que poderemos suspeitar sobre uns tantos jogos de poder: notou-se a conspiração de certas campanhas; parece que podem ter havido certos golpes palacianos; criaram-se cenários de vencedores e de vencidos... Foi algo a roçar o medievalesco, desde a sacristia até ao altar, passando pelas instâncias de discernimento... Quando vemos uns tantos habilidosos a vingar, sentimos que as sobrancerias não têm credo nem diferença de actuação, seja qual for o campo ou o espaço de intervenção!.. E o resto não é paisagem!
António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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