Lá
para o fim do terceiro trimestre deste ano civil, isto é, por finais
de Setembro ou o mais tardar no início de Outubro, seremos chamados
a votar novos órgãos autárquicos – assembleias de
freguesia/juntas; assembleias municipais e edis... sob o signo dos
emblemas partidários ou na tutela dos interesses (ditos)
independentes.
Estando
a cerca de três meses da (tal) votação, vemos já perfilarem-se
figuras e figurões, entidades e promoções, classes e camaleões...
numa espécie de concorrência onde, desgraçadamentte, os mais
apontados deixam muito a desejar e, possivelmente, os mais aptos se
escondem sob a capa de outras ocupações... profissionais ou de
objecção à visibilidade em favor dos outros!
Depois
de quase quatro décadas de ‘poder autárquico’ temos visto
muitas figuras a surgirem e a desaparecerem; outras a terem um prazo
mínimo de validade; muitos outros a prolongarem-se – até criaram
uma palavra para os designarem: dinossaurios – o mais tempo que
lhes foi possível... agora têm de sair em razão da lei. Nestas
variadas situações o ‘poder autárquico’ foi criando uns certos
tiques de caciquismo – esse mesmo que acusavam ao regime anterior!
– e foram-nos ainda dados referenciais de popularidade quase
invejável e, embora sendo poucos, têm, hoje, poder na suas
localidades e junto do poder central... tal é (ou parece ser) a
influência com que actuam, dentro e fora dos espaços de decisão.
=
Autarcas jogam no xadrez político?
Atendendo
a que estão mais próximos das populações e emergindo de entre os
votantes como os (pretensamente) mais capazes, os autarcas sabem como
conduzir tantas questões, colhendo disso os favores do povo e dando,
em contrapartida, espaço a outros ganharem ascendência na hora das
eleições. Na maior parte dos casos não se está de má-fé, mas,
noutras situações, nota-se um certo aproveitamento dos lugares de
mando, pois mais não seja para conquistarem prestígio social e
político. Com efeito, é no xadrez político – sobretudo na
condição de partidário – que os autarcas podem ser usados ou até
podem ser manipulados, se não estiverem atentos... em todos os
sentidos.
Talvez
seja pouco abonador da nossa democracia que poucos autarcas tenham
chegado aos postos de poder no governo da Nação, pois teriam outra
sensibilidade aos problemas das pessoas. No entanto, os poucos que lá
chegaram depressa deixaram a autarquia numa espécie de orfandade e
eles sentindo-se como peixes fora da água não vitaminada pelos seus
aduladores.
A
contestação à nova lei autárquica – que ainda não se sabe que
será implementada -- não revelou mais interesses em defender o
posto de comando do que a lógica do bem serviço às populações?
Como poderemos progredir se tudo está parado ao sabor de quem
governa a seu bel-prazer?
=
Autarcas jogados em favores partidários?
Por
outro lado, podemos ver os autarcas – de freguesia ou de concelho –
a servirem de tropa dos partidos políticos, pois é nas bases que se
constroem – pelo voto ou pela promessa de maior protagonismo – as
aspirações a conseguir um posto melhor. Vive-se, neste momento no
nosso país, numa sociedade piramidal, onde os debaixo só conseguem
ascender a algo melhor se forem da simpatia de quem governa e estes
têm de receber algum sinal de concordância para que os súbditos
possam (vir a) ser promovidos...
Neste
aspecto porque serão as câmaras municipais os maiores empregadores,
na maioria dos concelhos? A quem interessa ter esse poder sobre as
pessoas e o seu futuro? Como se poderá sacudir esta ditadura sem
liberdade de contraditório?
Como
as pessoas precisam do emprego para terem pão para a boca, esta
fecha-se num silêncio ensurdecedor e, por vezes, cúmplice, pois
quem manda pode-nos cortar a linha de possibilidade de melhor
posto...
Agora
que se preparam as listas para as eleições é bom de ver o corropio
nas sedes partidárias, pois é o futuro dos filhos e netos que está
em causa. Também neste campo é preciso bom senso e espírito de
serviço aos outros. Os autarcas merecem melhor e nós todos
merecemos os melhores... assim eles apareçam!
António
Sílvio Couto
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