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domingo, 17 de março de 2013

Igreja católica: ONG piedosa?

«Podemos caminhar o quanto quisermos, podemos edificar muitas coisas, mas se não confessamos Jesus Cristo, as coisas não correm bem. Nos tornaremos uma ONG [organização não governamental] piedosa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não caminhamos, paramos» - disse, na passada quinta-feira, 14 de março, na Capela Sistina, o o Papa Francisco na homilia da Missa ‘Pro Ecclesia’ (pela Igreja) com os cardeais eleitores que participaram do Conclave.
O Papa começou a dizer ao que vem. Depois da estupefacção da sua eleição, temos de estar muito atentos àquilo que ele nos quer comunicar como enviado de Deus à Igreja e ao mundo. Temos de aprender a ler os gestos e os sinais, bem como as palavras que ele nos vai dizer... nos próximos dias.
Quando tantos clamam por maior empenho da Igreja nas coisas sociais, eis que o Papa nos adverte para riscos e perigos: estar no social sem anunciar a Pessoa de Jesus cheira a filantropia humanitarista e actividade oca... materialista!
- Lamento que haja leigos – alguns com responsabilidade em sectores diocesanos e de âmbito nacional – e até uns tantos eclesiásticos cujo discurso parece que se alinham mais por noções, conteúdos e palavras próximos do sector  marxista (partidário e sindical) do que pela doutrina social da Igreja... nalguns princípios muito mais exigente e pacificadora, ontem como hoje.
Nalgumas situações não conseguimos distinguir se quem fala ou diz é um cristão com tiques de contestatário ou se será alguém que protesta com verniz de cristão! 
- Não deixa ainda de ser um tanto complexo que certas associações, centros, projectos, institutos e colectividades... de solidariedade social, em princípio (até) conotados com a Igreja católica, mas que parece mais não fazem do que terem-se tornado correias de transmissão de serviços sociais, tanto do Estado como das autarquias e de outras frentes de assistencialismo, metendo na gaveta o Evangelho e as suas mensagens de fé, na esperança e pela caridade.
Nalguns casos torna-se difícil distinguir se aquilo que é dado serve a dignidade do receptador ou se o dador se estica nas mãos largas duma politização da dádiva! 
- Como não nos poderemos deixar-nos de inquietar com tanto tempo gasto a dar a comida para o corpo – numa acção benfazeja, voluntária e voluntarista – mas onde se não apresentam as razões desses actos, pois quem é assistido, ajudado e suportado deve saber – com clareza, respeito e ousadia – que aquilo que lhe é feito decorre da fé – clara e assumidamente – traduzida em sinais de caridade, fraternidade e amor... se assim não for poderá parecer que isso não passa de promoção pessoal e/ou de exploração das debilidades alheias, hoje como ontem.
Nalguns momentos torna-se bastante complicado encontrar razoáveis executantes da caridade feita serviço, sem se tornar serviçal ou se, antes, não será subserviente de interesses múltiplos... mal assumidos!
 Agora que temos um novo Papa, urge escutá-lo, antes de rotulá-lo.
Agora que Deus nos concedeu um Papa vindo ‘do fim do mundo’, isto é, do hemisfério sul do planeta Terra e dum continente maioriatamente católico, temos de abrir-nos a novos desafios.
Agora que temos um Papa simples, sem ser simplista, humilde sem parecer um ‘zé (no caso chico) ninguém’, mas antes temos de aprender a viver na simplicidade de vida, de coração e de inteligência, diante de Deus e dos homens/mulheres deste tempo.
Agora que caminhamos para a Páscoa com um renovado vigor, deixemo-nos converter ao essencial do Evangelho e não fiquemos na espuma dos episódios da vida e da história.

O mundo precisa de uma Igreja católica autenticamente evangélica e o nosso tempo agradecerá tudo quanto fizermos para que isso aconteça na verdade pela caridade em Cristo...

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)

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