Em
tempo de Semana Santa podemos recorrer, com benéfico proveito, a
duas figuras bíblicas que nos podem ajudar a viver com maior
intensidade os mistérios pascais: a samaritana (Jo 4,1-42) e o
samaritano (Lc 10,29-37)... como símbolos da dinâmica evangelizada
e evangelizadora, isto é, da fé à caridade, por Jesus em Igreja...
na sua expressão católica.
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Junto ao poço... descobrimos a verdadeira Fonte
A
passagem do evangelho de São João do encontro de Jesus com a
samaritana – anónima, pecadora (assumida, reencontrada e
arrependida) e trabalhadora – mostra-nos como ela vai descobrindo
quem é Esse que lhe pede de beber. Junto ao poço – como espaço
para recolha da água e ainda como um certo lugar de convívio –
dá-se um encontro de sedes: biológica, psicológica, espiritual...
tornando-se as palavras com significados diversos, em conformidade
com cada um dos intervenientes. O diálogo desenvolve-se à medida da
compreensão, sem acusações, até à descoberta dos intérpretes:
da sede física vai-se abrindo até à necessidade espiritual. A
samaritana é o protótipo daquele/a que procura... mesmo que de
forma pouca clara e consciente o sentido da sua vida.
Por seu
turno, Jesus está ali à disposição – com tempo e paciência –
daquela mulher para que, num processo maiêutico, se aperceba do que
fez mal, se arrependa e se abra ao perdão. Jesus não se importa de
ser confundido com um viajante – Ele até ia em direcção ao
Jerusalém – com as suas necessidades de homem, mas com o coração
de Deus ao ritmo dos mais fragilizados.
Aos
ministros da Igreja católica podemos e devemos exortar a que se
deixem envolver pelo processo pedagógico de Jesus nesta passagem com
a samaritana: sem impor a verdade, é preciso fazê-la descobrir,
acolher e amar; sem denunciar o comportamento alheio, a partir das
leis (religiosas ou eclesiásticas), importa entender o pecador,
fazendo o próprio ministro a experiência do seu ser penitente;
muito para além dos conselhos moralistas, é fundamental, tirar os
obstáculos a que a fonte jorre água límpida, pura e cristalina...
que é, hoje e sempre, Jesus connosco e através de nós.
A
samaritana vive um processo de primeiro anúncio... até ao
acolhimento de Jesus na sua vida, levando-a a ser anunciadora do que
Jesus fez no seu coração, na sua vontade e até na sua
afectividade.
Os
ministros de hoje estarão a proporcionar idêntico caminho aos seus
irmãos/as na fé?
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Fazer-se próximo... sem outros interesses
Respondendo
à pergunta de ‘quem é o meu próximo’, Jesus conta uma
parábola: a do ‘bom samaritano’, isto é, daquele viajante que
tem tempo e se aproxima do assaltado. Numa quase definição simples:
o meu ‘próximo’ é, muito para além daquele que está ao pé de
mim, mas aquele de quem me aproximo... pouco importando qual a
distância, mas onde o que está mais próximo poderá ser um bom
critério de aproximação, de comunhão e de compaixão.
Num tempo
em que há tantos gestos e múltiplas acções de benfazer, de
razoável solidariedade, temos de reflectir sobre a advertência do
Papa Francisco para que a Igreja não se torne a (tal) ONG piedosa...
esquecendo a dimensão evangelizadora da caridade e para a caridade,
cuja fonte e meta é Jesus.
Ao
contemplarmos a dádiva do amor de Jesus por nós – sobretudo na
sexta-feira santa – não podemos ficar indiferentes à capacidade
mobilizadora do seu sangue derramado por nós de uma vez para sempre:
cada gota do sangue de Cristo lava o nosso pecado, mesmo o mais
ofensivo pelo menosprezo dos outros.
O
samaritano é o protótipo do discípulo de Jesus, amando e sendo
amado; perdoando e sendo perdoado; consolando e sendo consolado.
Torna-se, por isso, urgente atender aos que vivem em situação de
fragilidade, sem olhar ao credo religioso, mas não esquecendo de
verbalizar que, muitas das acções em favor dos outros, são devidas
à consciência que nos vem de sermos, hoje, a presença actuante de
Jesus em caridade, pela compaixão e na simpatia... e não por uma
mera filantropia humanista anódina e/ou neutral.
Os
ministros da Igreja católica não podem continuar a perder tempo com
certos rituais, mas devem fazer-se presença, incentivando os seus
irmãos, a serem claros e sinceros na caridade cristã para com
todos!
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