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segunda-feira, 25 de março de 2013

Samaritana e samaritano... em caminho pascal

Em tempo de Semana Santa podemos recorrer, com benéfico proveito, a duas figuras bíblicas que nos podem ajudar a viver com maior intensidade os mistérios pascais: a samaritana (Jo 4,1-42) e o samaritano (Lc 10,29-37)... como símbolos da dinâmica evangelizada e evangelizadora, isto é, da fé à caridade, por Jesus em Igreja... na sua expressão católica.

= Junto ao poço... descobrimos a verdadeira Fonte

A passagem do evangelho de São João do encontro de Jesus com a samaritana – anónima, pecadora (assumida, reencontrada e arrependida) e trabalhadora – mostra-nos como ela vai descobrindo quem é Esse que lhe pede de beber. Junto ao poço – como espaço para recolha da água e ainda como um certo lugar de convívio – dá-se um encontro de sedes: biológica, psicológica, espiritual... tornando-se as palavras com significados diversos, em conformidade com cada um dos intervenientes. O diálogo desenvolve-se à medida da compreensão, sem acusações, até à descoberta dos intérpretes: da sede física vai-se abrindo até à necessidade espiritual. A samaritana é o protótipo daquele/a que procura... mesmo que de forma pouca clara e consciente o sentido da sua vida.
Por seu turno, Jesus está ali à disposição – com tempo e paciência – daquela mulher para que, num processo maiêutico, se aperceba do que fez mal, se arrependa e se abra ao perdão. Jesus não se importa de ser confundido com um viajante – Ele até ia em direcção ao Jerusalém – com as suas necessidades de homem, mas com o coração de Deus ao ritmo dos mais fragilizados.
Aos ministros da Igreja católica podemos e devemos exortar a que se deixem envolver pelo processo pedagógico de Jesus nesta passagem com a samaritana: sem impor a verdade, é preciso fazê-la descobrir, acolher e amar; sem denunciar o comportamento alheio, a partir das leis (religiosas ou eclesiásticas), importa entender o pecador, fazendo o próprio ministro a experiência do seu ser penitente; muito para além dos conselhos moralistas, é fundamental, tirar os obstáculos a que a fonte jorre água límpida, pura e cristalina... que é, hoje e sempre, Jesus connosco e através de nós.
A samaritana vive um processo de primeiro anúncio... até ao acolhimento de Jesus na sua vida, levando-a a ser anunciadora do que Jesus fez no seu coração, na sua vontade e até na sua afectividade.
Os ministros de hoje estarão a proporcionar idêntico caminho aos seus irmãos/as na fé?

= Fazer-se próximo... sem outros interesses

Respondendo à pergunta de ‘quem é o meu próximo’, Jesus conta uma parábola: a do ‘bom samaritano’, isto é, daquele viajante que tem tempo e se aproxima do assaltado. Numa quase definição simples: o meu ‘próximo’ é, muito para além daquele que está ao pé de mim, mas aquele de quem me aproximo... pouco importando qual a distância, mas onde o que está mais próximo poderá ser um bom critério de aproximação, de comunhão e de compaixão.
Num tempo em que há tantos gestos e múltiplas acções de benfazer, de razoável solidariedade, temos de reflectir sobre a advertência do Papa Francisco para que a Igreja não se torne a (tal) ONG piedosa... esquecendo a dimensão evangelizadora da caridade e para a caridade, cuja fonte e meta é Jesus.
Ao contemplarmos a dádiva do amor de Jesus por nós – sobretudo na sexta-feira santa – não podemos ficar indiferentes à capacidade mobilizadora do seu sangue derramado por nós de uma vez para sempre: cada gota do sangue de Cristo lava o nosso pecado, mesmo o mais ofensivo pelo menosprezo dos outros.
O samaritano é o protótipo do discípulo de Jesus, amando e sendo amado; perdoando e sendo perdoado; consolando e sendo consolado. Torna-se, por isso, urgente atender aos que vivem em situação de fragilidade, sem olhar ao credo religioso, mas não esquecendo de verbalizar que, muitas das acções em favor dos outros, são devidas à consciência que nos vem de sermos, hoje, a presença actuante de Jesus em caridade, pela compaixão e na simpatia... e não por uma mera filantropia humanista anódina e/ou neutral.
Os ministros da Igreja católica não podem continuar a perder tempo com certos rituais, mas devem fazer-se presença, incentivando os seus irmãos, a serem claros e sinceros na caridade cristã para com todos!


António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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