Por estes dias temos ouvido
intervenções de certas figuras – da área do governo ou da oposição, dos setores
políticos e da comunicação social, nos espaços noticiosos ou na rua, em
conversa ou em discussão – que têm servido para acirrar os ânimos (mais ou
menos) em tensão entre os cidadãos e também as intituições. Quando se esperava
de todos uma certa racionalidade – pelo que se diz e, sobretudo, naquilo que se
faz – temos visto, pelo contrário, ser exacerbada uma certa emotividade,
criando condições para serem começados conflitos, mas cujas consequências nem
sempre poderão ser controladas... quando forem iniciados.
- Há quem cante vitória porque ter
conseguido reunir – ou será antes arregimentar? – cem mil manifestantes. Mas
que é isso no contexto da área metropolitana de Lisboa: Cerca de dois por cento
dos habitantes da região e, no contexto nacional, esse número pouco mais será
do que zero vírgula nove por cento da população total! E muitos – segundo dizem
– vieram doutras regiões do país... às centenas. Portanto, a capital não
aderiu!...
- Há quem invetive os empresários
que contestaram as medidas governamentais, classificando-os de ‘ignorantes’...
só porque não alinharam acriticamente naquilo que poderia deteriorar as
relações laborais a curto e médio prazo. As respostas dos atingidos –
particularemnte empresários e patrões – roçaram (quase) o insulto e trouxeram à
liça conflitos mal resolvidos noutros campos de intervenção! Não é deste modo
insultuoso que serão dados sinais de pacificação aos outros cidadãos e
entidades empregadoras nacionais e estrangeiras.
- Sobretudo a cobertura das mais
recentes manifestações populares – de 15, 21 e 29 de Setembro – deram-nos a
conhecer uma televisão – auto-apelidada de ‘serviço público’ – a RTP, que se
exalta e incendeia, que se defende e ataca, que estrebucha e contradiz... pois
as intervenções da rua e dos estúdios quase nos fazem crer que estamos em
guerra aberta e eles estão dum lado: contra o patrão, que é o governo. Que eles
defendam o lugar de trabalho não podemos contestar, agora que o façam duma
forma tão acintosa contra quem tem sobre eles a tutela e, indiretamente, lhes
paga – pretendendo defenderem o (dito) serviço público – já se torna menos
compreensível. Agora podemos ver outros canais menos exaltados. Agora podemos
comparar e até escolher. Agora podemos fazer zaping e ir à procura de alguém
mais independente e sereno...
- Perante certas posições
partidárias e sindicais parece-nos que são apontadas saídas para as condições
de austeridade – exgerada e mal explicada – com que temos sido trucidados nos
tempos mais recentes. No entanto, quando escutamos melhor não temos visto mais
do que algumas intenções sem nexo e propostas a desdizer, embora com razoável
cortesia e cobertura... notiociosa. De facto, não podemos continuar a ser
enganados nem é aceitável que nos queiram impingir silêncio só porque é
assim...e cala. Talvez estejamos a ser governados por gente impreparada e sem
conhecimento da vida real. No entanto, não vemos perfilarem-se substitutos com
caraterísticas diferentes. Antes vemos imberbes meninos de gabinete e
intelectuais de secretária... sem provas dadas em lugar algum! E dos (ditos) batidos
nas coisas da contestação – sobretudo duma certa esquerda revolucionária e
doutra caviar – o que podemos perceber é que têm experiência no maldizer, mas
não se sujam no trabalho da construção do bem comum... de todos. Têm a sua
agenda e defendem, particularmente, os seus em clima de protesto!Digamos com clareza: o país precisa de ideias audazes bem como de protagonistas sensatos. Está na hora de sermos governados pelos mais competentes, sérios e conscientes. Precisamos de comprometer na coisa pública quem tenha vivência dum verdadeiro serviço altruísta e não meramente interesseiro. Basta de vivermos neste regime de partidocracite. Se as ideologias falharam, saibamos criar um clima de solidariedade no bem comum positivo e não só na exaltação da desgraça. Portugal merece melhor!
António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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