Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O padre homem de fé no mundo de hoje

Decorreu, em Fátima, de 4 a 7 de Setembro, o sétimo simpósio do clero de Portugal, subordinado ao tema: ‘O padre homem de fé – do mistério ao ministério’. Cerca de quinhentos padres de todas as dioceses portuguesas refletiram sobre assuntos relacionados com a sua identidade e missão, tanto na Igreja como na sua relação com o mundo... de hoje.

Pela experiência de participação nos outros anteriores simpósios, este tipo de encontros têm tanto de simples quanto de complexo: simples porque é uma oportunidade de (re)encontro com tantos padres de outras dioceses, numa diacronia de proximidade e de experiência de oração e de aprendizagem em comum; momentos como o último simpósio revestem, no entanto, a configuração de alguma tristeza, pois muitos do que podiam e deviam estar presentes – houve dioceses que primaram pela ausência em número, até dos seus bispos, o mesmo se diga de intelectuais universitários que só participam para darem lições! – perdendo, afinal, uma bela oportunidade de manifestarem humildade e comunhão com os outros... para a linguagem ministerial de hoje.

= Preâmbulo do ‘ano da fé’

Pela temática abordada viu-se que houve uma intenção de fazer deste simpósio uma espécie de preparação próxima do ano da fé, que se vai iniciar em outubro próximo... e decorrerá até novembro de 2013. Dividido em quatro áreas – nas fontes da fé, o ministério do padre, desafios da fé, o padre - peregrino da fé – correspondendo aos dias de reflexão, houve uma simbiose de ‘coisas teóricas’ (teológicas e sectoriais) e de partilhas de experiências de vida, de momentos de cultura e de oportunidades de questionamento ao mistério e ao ministério do padre.

Já vimos tempos de retiro menos serenos, com situações mais confusas e até com vivências mais atrapalhadas por  organização e mesmo com custos mais exagerados... do que o que aconteceu neste simpósio!

Não poderemos classificar a participação no simpósio como se fosse um encontro da ‘fina flor’ do clero português, mas poderemos considerar que, pela assiduidade de uns tantos, há um leque de padres no nosso país que tenta acertar com o ritmo da Igreja universal e em consonância com a tradução das propostas do nosso episcopado em geral e de cada bispo em particular.

Cremos que nem as desculpas de certos trabalhos (ditos) pastorais – antes parecem ser pastoris! – nem a concorrência com ‘festas e romarias’ ou a sobreposição com férias podem eximir de estarem presentes... seja lá quem for. Por certo todos temos algo a aprender e mesmo que já saibamos (quase) tudo – o que nalguns casos não passa de  uma brecha de ignorância mal assumida – faz-nos sempre bem estar com outros, lado a lado com quem nem conhecemos e que podemos descobrir como ‘figuras’ de impacto humano, social e eclesial...

= Do acolhimento ao assombro, passando pela fidelidade... nos vários lugares

Dos vários intervenientes respigamos algumas frases... sem reduzir estes excertos aos mais importantes, mas apenas à anotação de circunstância.

- Desapareceu da praça pública a discussão da questão religiosa – Zita Seabra;

- Ser pobre dos talentos dos outros – Paulo Pereira da Silva;

- O modo de admirar define o tipo de pessoa que somos – Eloy Bueno de la Fuente;

- Crise de valores por vergonha da sua afirmação... Dificuldade das elites em afirmarem as suas convicções – Helena Matos;

- É no tempo que se constrói a fidelidade... A fidelidade está sempre dependente da educação do desejo – Emanuel Silva;

- A Igreja ou comunica ou se nega a si mesma como sacramento de comunhão e sujeito de evangelização... O cybespaço é a nova terra de missão – João Aguiar;

- Em Portugal morre-se mal... Quanto vale ter crença em Deus se não temos fé nos homens? – Jorge Vilaça;

- Acreditar em Jesus Cristo é obra de Deus em nós... Peregrinos da fé somos chamados a ser peregrinos da verdade – José Policarpo.

Estes breves flashs daquilo que foi dito, como que nos apontam sempre para o mais além da vocação e da missão do padre na Igreja e para o mundo.

De pouco adiantará dizerem que esse ‘tal simpósio’ pouco acrescentará à sua douta sabedoria, senão fizerem, experiencialmente, o exercício da humildade de uns na massa do todo... de Deus e na Igreja! As coisas da paróquia podem esperar, pois se a fonte – o mistério – se esgota como será alimentado o rio/riacho do ministério!

 

António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

Sem comentários:

Enviar um comentário