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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Em pé de igualdade... ontem, hoje e no futuro


Em breve, a 1 de Outubro, ocorrerá o ‘dia mundial do idoso’ e, em muitas autarquias, todo o mês será mesmo dedicado a este largo e complexo sector da nossa população, que, em 2050, poderá atingir um terço dos habitantes em Portugal.

Por estes dias presenciei, num bairro da cidade de Braga, uma situação que teve tanto de simples quanto de simbólico: à hora de almoço foram chegando vários/as comensais, que, na saudação, se iam inteirando da saúde e da disposição de cada um/a... notava-se que aquilo era um ritual diário, onde a refeição servia de convívio e de presença (mútua e múltipla) em lenitivo para as agruras de uns e para os outros... Esta relação de vizinhança e de proximidade é, hoje, em muitas situações, supletiva dos laços familiares, que, nalguns casos, são ténues ou até inexistentes. Quantas vezes os vizinhos são a melhor família, tanto para o bem como para a (possível) intromissão na vida uns dos outros! Ainda vamos tendo baluartes de boa vizinhança!

1. Força na debilidade — Por entre luzes e sombras, a história de muitos (dos nossos mais) velhos está cheia de casos mais ou menos assumidos de vivências, onde o crescente abandono de uns tantos faz sofrer quem possa estar sensível à sua vulnerabilidade... De facto, quantos velhos são abandonados, por ocasião, das (pretensas) festas sociais – sejam de índole coletiva, como no Natal ou na passagem d’ano ou de natureza familiar e mesmo regional – ‘esquecidos’ nos hospitais e/ou prolongando a ‘baixa clínica’ muito para além do tempo suficiente e necessário... Diante da frieza de certos cuidados como que sentimos arrepios sobre o modo como nos poderão tratar daqui a pouco tempo... pois, em breve, podemos necessitar de tais serviços. E nem as razões de índole mais ou menos religiosa nos facultará melhor atenção ou cuidado!

2. Enquadramento familiar, precisa-se – Cada vez mais os nossos mais velhos têm de sair de casa para passarem o resto dos seus dias colocados em lares, que em tempos mais ou menos distantes tinham o rótulo de ‘asilos’. De facto mudou a definição, mas, nalguns casos, continua a mentalidade, não dos funcionários que prestam os serviços, mas dos parentes de quem lá coloca os seus mais velhos... porque mais fragilizados e, desgraçadamente, quase conformados com o seu destino.

Quando a família falha, tudo o resto capitula em cadeia e sob um regime de insensibilidade atroz. Quando o elo mais fraco se quebra, tudo o resto como    que o explora sem dó nem piedade. Quando os laços de sangue são suplantados pelos interesses (mais ou menos) materialistas, todo o velho – rico ou pobre, remediado ou pensionista – se torna (ou pode tornar) descartável e (quase) indesejável...ao perto ou ao longe.

3. ‘Filho és, pai serás... como semeares, assim recolherás’ – Este adágio traça o nosso projeto a curto e médio prazo. Se os pais que hoje são colocados nos ‘lares’ ainda cuidaram, presencial e atentamente, dos seus filhos, o que será dos pais cujos filhos foram despejados numa espécie de lugar anódino do jardim de infância e da creche... lançados nessa espécie de purga de quem não olha para a frente e que nem se distrai sobre quem vem atrás?  Por vezes as instituições ligadas – teórica e prazenteiramente, ao menos em princípio – à Igreja católica pactuam com idênticos comportamentos de outros que, não se reclamando dos valores cristãos, fazem negócio com as necessidades alheias... As (ditas) ‘respostas sociais’ tratam os seus utentes de ‘clientes’, gerando e gerindo os mais díspares interesses, cobrando os serviços e as prestações de ajuda... atuais e futuras, seja qual for a duração do serviço!
Agora que vemos a sombra a projetar-se no seguimento da nossa própria imagem como que vamos já sentindo que é preciso que coloquemos os mais velhos em pé de igualdade com aquilo que agora vivemos, pois no futuro receberemos – em esperança de bom agradecimento! – o que semearmos, tanto nos mais novos como no compromisso em favor dos mais vulneráveis. Queira Deus abençoar-nos em conformidade com aquilo que tivermos feito pelos outros... mesmo sem esperar recompensa!

Nota: Reparemos na intensa vivência de Alex Ferguson – treinador de futebol do Manchester United há cerca de 25 anos – que revela uma razoável capacidade de superação das derrotas e das vitórias. Vencer é e pode ser um conceito que se acrisola com a nossa estória de vida numa sempre maior maturidade e compromisso!

 

António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

 

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