Em breve, a 1 de Outubro,
ocorrerá o ‘dia mundial do idoso’ e, em muitas autarquias, todo o mês será
mesmo dedicado a este largo e complexo sector da nossa população, que, em 2050,
poderá atingir um terço dos habitantes em Portugal.
Por estes dias presenciei, num
bairro da cidade de Braga, uma situação que teve tanto de simples quanto de
simbólico: à hora de almoço foram chegando vários/as comensais, que, na
saudação, se iam inteirando da saúde e da disposição de cada um/a... notava-se
que aquilo era um ritual diário, onde a refeição servia de convívio e de
presença (mútua e múltipla) em lenitivo para as agruras de uns e para os
outros... Esta relação de vizinhança e de proximidade é, hoje, em muitas
situações, supletiva dos laços familiares, que, nalguns casos, são ténues ou
até inexistentes. Quantas vezes os vizinhos são a melhor família, tanto para o
bem como para a (possível) intromissão na vida uns dos outros! Ainda vamos
tendo baluartes de boa vizinhança!
1. Força na debilidade — Por entre luzes e sombras, a
história de muitos (dos nossos mais) velhos está cheia de casos mais ou menos
assumidos de vivências, onde o crescente abandono de uns tantos faz sofrer quem
possa estar sensível à sua vulnerabilidade... De facto, quantos velhos são
abandonados, por ocasião, das (pretensas) festas sociais – sejam de índole
coletiva, como no Natal ou na passagem d’ano ou de natureza familiar e mesmo
regional – ‘esquecidos’ nos hospitais e/ou prolongando a ‘baixa clínica’ muito
para além do tempo suficiente e necessário... Diante da frieza de certos
cuidados como que sentimos arrepios sobre o modo como nos poderão tratar daqui
a pouco tempo... pois, em breve, podemos necessitar de tais serviços. E nem as
razões de índole mais ou menos religiosa nos facultará melhor atenção ou
cuidado!
2. Enquadramento familiar,
precisa-se –
Cada vez mais os nossos mais velhos têm de sair de casa para passarem o resto
dos seus dias colocados em lares, que em tempos mais ou menos distantes tinham
o rótulo de ‘asilos’. De facto mudou a definição, mas, nalguns casos, continua
a mentalidade, não dos funcionários que prestam os serviços, mas dos parentes
de quem lá coloca os seus mais velhos... porque mais fragilizados e,
desgraçadamente, quase conformados com o seu destino.
Quando a família falha, tudo o
resto capitula em cadeia e sob um regime de insensibilidade atroz. Quando o elo
mais fraco se quebra, tudo o resto como que
o explora sem dó nem piedade. Quando os laços de sangue são suplantados pelos
interesses (mais ou menos) materialistas, todo o velho – rico ou pobre,
remediado ou pensionista – se torna (ou pode tornar) descartável e (quase)
indesejável...ao perto ou ao longe.
3. ‘Filho és, pai serás... como
semeares, assim recolherás’ – Este adágio traça o nosso projeto a curto e médio prazo. Se os pais que
hoje são colocados nos ‘lares’ ainda cuidaram, presencial e atentamente, dos
seus filhos, o que será dos pais cujos filhos foram despejados numa espécie de
lugar anódino do jardim de infância e da creche... lançados nessa espécie de
purga de quem não olha para a frente e que nem se distrai sobre quem vem
atrás? Por vezes as instituições ligadas
– teórica e prazenteiramente, ao menos em princípio – à Igreja católica pactuam
com idênticos comportamentos de outros que, não se reclamando dos valores
cristãos, fazem negócio com as necessidades alheias... As (ditas) ‘respostas
sociais’ tratam os seus utentes de ‘clientes’, gerando e gerindo os mais
díspares interesses, cobrando os serviços e as prestações de ajuda... atuais e
futuras, seja qual for a duração do serviço!
Agora que vemos a sombra a
projetar-se no seguimento da nossa própria imagem como que vamos já sentindo
que é preciso que coloquemos os mais velhos em pé de igualdade com aquilo que
agora vivemos, pois no futuro receberemos – em esperança de bom agradecimento!
– o que semearmos, tanto nos mais novos como no compromisso em favor dos mais
vulneráveis. Queira Deus abençoar-nos em conformidade com aquilo que tivermos
feito pelos outros... mesmo sem esperar recompensa!Nota: Reparemos na intensa vivência de Alex Ferguson – treinador de futebol do Manchester United há cerca de 25 anos – que revela uma razoável capacidade de superação das derrotas e das vitórias. Vencer é e pode ser um conceito que se acrisola com a nossa estória de vida numa sempre maior maturidade e compromisso!
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
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