Muito daquilo que vemos na comunicação social – televisão, redes sociais, aplicações subsidiadas ou compradas, nos programas de entretenimento ou mesmo nos (ditos) noticiários – quase mais parece um jogo de marionetes do que a apresentação – tanto ou quanto real – da vida das pessoas, dos grupos sociais e de interesses, da sociedade em geral e das populações em particular.
1. O sucesso de certos programas em circuito aberto ou em conceção codificada vão-se arrastando quase até à exaustão. Desde o já longínquo ano de 2000 até ao presente desfilaram – quais bonecos articulados sob o comando de uma abstrata ‘voz’ – dez edições do ‘big brother’ com outros programas afins, desde o dos famosos, o VIP, duplo impacto, desafio final… posteriormente apareceram a ‘casa dos segredos’ (treze edições) e outros ainda mais rurais ou pretensamente citadinos…em tentativas de prender público e de conquistar audiências. Muitos anónimos emergiram para famosos e certos famosos entraram na linha dos banais e vulgares. Dos trinta e tal anos da estação que tem exibidos tais programas, três quartos do tempo da sua existência tem sido gasto com tais entretenimentos a puxar para baixo a cultura e a educação do país, nivelando pela mediocridade o espírito da nação. Numa palavra: pelo muito mal que tais programas têm feito à população em geral seria de pedir conta pelas malfeitorias praticadas de forma direta ou indireta…A asneira compensa, mas nem sempre pode ganhar pelo mal feito.
2. Se este panorama da comunicação social revelou o complexo de marionetes em que temos vivido, o que dizer do clima de carnaval que se aproxima. Será que cairá a máscara de quantos se tentam apresentar como paladinos de uma sociedade democrática, mas cujo conceito só por eles mesmos é ratificado? De muitas e variadas formas temos vivido sob a alçada de um regime que promove mais o compadrio do que a competência, que alevanta mais quem nada vale do que aquele que tem mérito, embora este possa colidir com as pretensões dos concorrentes. Com a aproximação do tempo carnavalesco podemos aferir um tanto melhor como o disfarce – feito, assumido ou o pretenso – tem mais culto do que a verdade ou como se torna tão fácil ser manipulado do que pode parecer.
3. Se há caraterística que hoje sobrepuja muita da nossa compreensão é a racionalidade da conduta das pessoas, pois, na maioria dos casos, a emotividade suplanta a valorização da razão, criando-se um ambiente que fervilha de sentimentos, mas que, com alguma dificuldade, explica os comportamentos. Reparemos nas turbas que se deixam fascinar pelas questões do futebol, com que vulgaridade se defendem as questiúnculas clubísticas e quase se fomentam guerras por ninharias sem grande racionalidade. As horas e horas que são gastas à volta do futebol – do jogo ao comentário, da dúvida dos lances às explicações das decisões dos árbitros, das conjeturas sobre o incerto às provocações quanto ao mais assegurado – faz-se todo um ‘espetáculo’ que por ser quase ridículo deixa muito a desejar sobre quem manobra quem ou quais são os diretos intervenientes, se os que vemos, se os que nos manipulam na sombra…
4. O jogo das marionetes faz-nos sentir usados e coloca-nos na instância menos sincera do relacionamento das pessoas umas com as outras. Por muito hábeis que nos sintamos, estamos continuamente sujeitos e múltiplas formas (ou fórmulas) de manipulação: umas vezes tendo como palco aqueles, considerados importantes, com quem nos damos e dos quais podemos usufruir desse conhecimento ou ‘amizade’; noutras situações são os outros que nos podem usar para se promoverem à nossa custa ou ainda quando, não valendo nada e sendo insignificantes, tentamos usar tais conhecimentos para nos vangloriamos perante os incautos. Quem não viu já este aproveitamento algo mesquinho e quase sórdido? Quem não se apercebeu destas manobras no trato das pessoas, na política, na sociedade, na religião, na vida económica, etc.?
5. Com a aproximação das eleições autárquicas veremos muitos destes e mais casos. Saber distinguir o que é verdade da jogada menos correta será arte para se não deixar cair na artimanha... Marionete, não obrigado!
António Sílvio Couto
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