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domingo, 23 de fevereiro de 2025

A preguiça compensa... na nossa mentalidade

 

Os acontecimentos sociopolíticos mais recentes no ‘nosso’ país como que nos deixam a sensação - agora diz-se ‘perceção’ - de que quem não faz nada - nem antes, tão pouco durante e muito menos depois - tem o reconhecimento (tácito ou explícito) de que isso (será preguiça ou capacidade de adaptação?) compensa. Explicando: não ter iniciativa nem investir é muito melhor do que arriscar; viver à sombra dos subsídios é muito mais rentável do que tentar fazer melhor do que o resto (isto é, a maralha e/ou a arraia-miúda); não ser criador de riqueza é muito mais benquisto e reconhecido do que permitir que as pessoas cresçam porque houver quem quisesse sai da banalidade, investindo na valorização dos outros e para os outros...

1. Portugal tem ainda uma mentalidade assaz retrógrada em muitos mais aspetos do que pensamos: quando alguém destoa da multidão anónima e anódina corre o risco de ser trucidado pelos beneficiados do manjar do Estado... lauto nas horas de recompensar os aduladores. Com efeito, o Estado reconhece com prebendas quem contribui para a narcotização mais ou menos generalizada: os medíocres crescem como cogumelos no lamaçal da conformidade com tudo e com todos. Em tempos considerei que esta era a cultura da tartulhocracia - esses fungos que infestam e medram nos pântanos, condicionando o desenvolvimento de outras espécies que não sejam os que menos valem... Assim no espetro político-partidário: há quem nada faça, mas tudo colha sem fazer o que quer que seja para isso... ter sucesso.

2. Não deixa de ser sintomático que os executores do regime - seja qual for o partido - no parlamento se acomodem com tal destreza que os ditos partidos novos têm todos (já conhecidos) e mais alguns dos tiques dos que por deambulam pelos passos perdidos há anos a fio: com que velocidade vemos certos arautos da moralidade a incorrer nos mesmos (ou piores) erros dos que se dizem fundadores da democracia. Dá a impressão que desaguaram na assembleia da república os mais desgraçados da sociedade, permitindo que se exibam sem vergonha nem pejo para o público-eleitor ao ritmo da impunidade mais básica e nefasta.

3. Uma razoável confusão de valores vai emergindo nos espaços que deveriam ter alguma sacralidade humanista porque instruídos e construtores de um respeito essencial à convivência de todos. Mais de meio século decorrido o ambiente que se perceciona na esfera da ‘casa da democracia’ cheira às tropelias relatadas na ‘primeira república’ (entre 1910 e 1926), já só faltando os desafios para os duelos em defesa da honra...com espadachins e capa. Valerá aqui recordar essa troca de argumentos entre dois renomeados políticos dessa época em que um dizia ao outro: o senhor tanto dá uma no cravo como outra na ferradura, ao que o provocado ripostou: pois é, o senhor não está quieto com o pé! Certas argumentações ouvidas, por estes dias, não andaram longe desta troca de palavras de antanho: pena seja que ninguém evoque a defesa da honra para que os casos tenham mais cor e sangue...

4. Incontestavelmente o nível está a decrescer e isso tem repercussão no comportamento mais ou menos generalizado da população: as pessoas não se deixam falar até ao fim, atropelam-se…como veem e ouvem na televisão, no parlamento, nas conversas, que facilmente derivam para discussões, onde as palavras ofendem, agridem e deixam marcas da má-criação generalizada. O ambiente está cada vez pior e os exemplos são pouco abonatórios do que virá…Mais do que de boas intenções precisamos de começar em casa a respeitar-nos, dando espaço e correção uns aos outros…sem lições mas com interesse na valorização positiva do outro.

5. A educação começa desde o berço e será da qualidade deste que poderemos aferir o comportamento dos nossos cidadãos. A rua mostra o que se vive em casa e avaliar pelo que se percebe, como será grande a luta lá por casa!



Antóni Sílvio Couto

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