Nos dias prévios ao Natal surgiu mais uma daquelas frases-feitas, que tanto podem ser algo revelador do vazio, como, se quisermos, dar-lhe conteúdo, no nosso caso cristão. Depois de dizer o nome a quem se dirige, pergunta-se: ‘como te sentes, hoje? – Neste Natal oferece uma pergunta sincera a alguém’…
De facto, como vivência do Natal e também como desafio para o novo ano (2025 – jubilar cristão), esta pergunta e a consequente resposta pode transmitir-nos uma mensagem para além de banalidades e de chavões ao ritmo das redes sociais… teoricamente pode conter, em embrião, projetos e expetativas, que devemos gerir com alegria, sinceridade e confiança.
1. ‘Como te sentes’ por viver este Natal – de coração aberto à mensagem de Jesus ou ocupado com milhentas coisas, atafulhado de preocupações materialistas? Preparado para dar ou mais na ânsia de receber? De braços abertos, como a normal representação da imagem do Menino Jesus, ou de braços cruzados, levando a pensar que estás sem disponibilidade para acolher?
De facto, esta singela pergunta – ‘Como é que te sentes, hoje’ poderá ser um bom motivo para iniciar uma conversa com alguém conhecido ou sem grande proximidade. Efetivamente por entre as várias consequências da recente pandemia fomos constatando que as pessoas se foram fechando aos outros e particularmente ao desconhecido.
O medo como que suplantou muita da normalidade das relações das pessoas de umas com as outras. Isso mesmo quis deixar na proposta de leitura, de interpelação e de interrogação ao tempo da covid-19, no livro – ‘Tempo de reajustar a rota da vida’, acabado de ser dado à estampa. Em mais de trezentas páginas coligi cerca de cem crónicas, escritas entre março de 2020 e maio de 2023. Mais do que uma razoável oferta de presente neste Natal poderá servir-nos a todos de matéria de exame de consciência quanto às mudanças (quase) inconscientes que se deram nas nossas vida, tanto pessoais como familiares e sociais/eclesiais.
2. Por outro lado, tendo em vista o novo ano que se aproxima, esta pergunta – ‘Como te sentes’ – pode servir para questionarmos como queremos celebrar e viver o Novo Ano. De entre tantas questões ouso colocar algumas: tens esperança ou andas desanimado e triste, mesmo que possa haver festejos estridentes e calorosos? O novo ano tem a marca da esperança, podendo nortear a nossa vida – pessoal, familiar e social/eclesial? Estamos capazes de darmos (explícita e claramente) as razões da nossa esperança, a começar pelos que nos são mais próximos? Não haverá ao pé de nós quem necessite de escutar aquela pergunta – ‘como te sentes, hoje’ – prestando interesse àqueles com quem convivemos?
De facto, o ano jubilar está orientado para centrarmos a nossa atenção no tema da esperança, tanto como virtude teologal (vinda de Deus) como enquanto virtude, traduzindo na vida esse sinal divino de sermos proposta de entusiasmo – veja-se o sentido original do termo: em Deus – e na confiança, por entre ‘as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje’ – como lemos na abertura da constituição pastoral ‘Gaudium et spes’ a Igreja no mundo atual.
Efetivamente seria uma boa forma de retomar as linhas-força do Concílio Vaticano II, quase sessenta anos decorridos, servindo-nos dos temas (abrangentes, incisivos e necessários) então apresentados, discutidos e aprovados.
3. Retomando os desafios da pergunta – ‘Como te sentes, hoje’ – poderemos enfrentar com mais sinodalidade a dinâmica – do Espírito de Deus e que conduz a vida da Igreja – de sermos investidos na difusão da civilização da esperança, alicerçada em Jesus, o nosso Salvador: Ele trouxe esperança ao mundo e nós somos os seus promotores na simplicidade de vida e pelo testemunho sincero. De facto, a frase que complementa a tal pergunta personalizada diz: ‘neste Natal oferece uma pergunta sincera a alguém’. Os de cultura anglo-saxónica ao saudarem alguém (conhecido ou não) dizem: how are you? (como estás?)… isso implica interesse pelo outro e pode desencadear conversa com ou sem interesse… Sigamos os exemplos e atendamos as respostas!
António Sílvio Couto
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