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segunda-feira, 6 de maio de 2024

Lixo: que solução, agora e no futuro?

 


Uma greve dos funcionários da estação (quase distrital) de tratamento do lixo condicionou que os carros de recolha do dito, tendo algumas autarquias avisado a população para que não colocassem os resíduos domésticos nos contentores e nos ecopontos.

Ora, esta questão deixou-me a pensar sobre este tema do lixo, que nós só sentimos o seu efeito quando algo sai da normalidade, por mais ou menos tempo.

1. Algumas perguntas sobre este assunto: haverá alguma relação entre a produção de lixo e a capacidade de enriquecimento das sociedades? Quanto produz, em média, cada português de lixo, anual e/ou diariamente? Se nos ativermos à fatura da água, qual a proporção entre aquela e a taxa de resíduos sólidos sem esquecer o que se paga também de saneamento?
Deixo, desde já, a título de exemplo a transcrição do resumo da faturação do local onde atualmente vivo: valor total a pagar - 11,79 euros: 1,85 euros de água; 3,62 euros de saneamento; 4,68 euros de resíduos sólidos; taxas, 1,52 euros; 0,12 euros de iva...

2. Tentemos entrar nos meandros desse tal puzzle da ‘fatura da água’... e dos diversos adereços que lhe estão apensados.
Segundo uma associação (dita) ecologista – escuso-me de referir o nome para não ferir suscetibilidades e quase preconceitos – o mundo gera anualmente 2,01 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Os resíduos gerados por pessoa têm hoje uma média de 0,74kg, mas as diferenças entre as regiões são grandes. Em Portugal era gerado, em 2019, segundo a mesma organização, cerca de 1,4 kg de resíduos por pessoa por dia...ligeiramente acima da média europeia. Pior que a Europa neste ‘ranking’ só a América do Norte, com uma produção de mais de 2 kg, em média, por pessoa”.
Atendendo às informações da mesma associação com interesses ecologistas, “se continuamos neste ritmo de consumir e deitar fora, onde os principais destinos dos resíduos em Portugal são a deposição ou a incineração, as metas vão continuar a não ser cumpridas, em breve esgotamos os aterros e estaremos cada vez mais preocupados a fazer contas para controlar as emissões de ‘Gases com Efeitos de Estufa’ provenientes da deposição ou queima do lixo”.
Segundo a mesma fonte, em Portugal continental a reciclagem de resíduos de embalagem é “insatisfatória”, nas redes de tratamento e gestão, e “mediana” nos serviços de recolha: “Cerca de 9% dos resíduos de embalagens recolhidos para reciclagem não foram reciclados, o que sugere que uma parte destes não está a ser bem separada”...

3. Eis o panorama pouco animador da produção de lixo, do seu tratamento e, sobretudo, do futuro do meio ambiente, mesmo sem ideias, projetos ou programas tão fundamentalistas como aqueles que temos visto a proliferar nos tempos mais recentes. Repare-se nas ações de protestos de certos (ditos) climáticos e veremos que o caminho por onde vamos deixará mais resíduos do que bom tratamento do lixo (e afins) que cada um de nós produz com maior ou menor consciência e necessidade.
«A grande riqueza da espiritualidade cristã, proveniente de vinte séculos de experiências pessoais e comunitárias, constitui uma magnífica contribuição para o esforço de renovar a humanidade. Desejo propor aos cristãos algumas linhas de espiritualidade ecológica que nascem das convicções da nossa fé, pois aquilo que o Evangelho nos ensina tem consequências no nosso modo de pensar, sentir e viver. Não se trata tanto de propor ideias, como sobretudo falar das motivações que derivam da espiritualidade para alimentar uma paixão pelo cuidado do mundo. (...) Temos de reconhecer que nós, cristãos, nem sempre recolhemos e fizemos frutificar as riquezas dadas por Deus à Igreja, nas quais a espiritualidade não está desligada do próprio corpo nem da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com elas e nelas, em comunhão com tudo o que nos rodeia» (Papa Francisco, Laudato sì, n.º 217).



António Sílvio Couto

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