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terça-feira, 9 de abril de 2024

Nada é irreversível e indiscutível

 


O livro ‘Identidade e família – entre a consistência da tradição e as exigências da modernidade’, é uma obra coordenada pelos quatro fundadores do ‘Movimento acção ética’ – António Bagão Félix, Pedro Afonso, Paulo Otero e Victor Gil.

Este livro, editado pela «Oficina do Livro», reúne vinte e dois textos de vários autores, tais como (pela ordem alfabética que aparece na capa): Fernando Ventura, Gonçalo Portacarrero de Almada, Guilherme d’Oliveira Martins, Isabel Almeida e Brito, Isabel Galriça Neto, Jaime Nogueira Pinto, João César das Neves, João Duarte Bleck, José Carlos Seabra Pereira, José Ribeiro e Castro, Manuel Clemente, Manuel Monteiro, Manuela Ramalho Eanes, Margarida Gordo, Nuno Brás da Silva Martins, Paulo Otero, Pedro Afonso, Pedro Vaz Patto, Pureza Mello, Raquel Brízida Castro, Ruiz Diniz e Vasco Pinto de Magalhães.

Na sinopse de apresentação ao público diz-se que são destacados nesta obra:

- a importância da família, como um pilar central da vida em sociedade, considerando-a “natural, universal e intemporal”. Mesmo diante das mudanças constantes na sociedade, os valores associados à família permanecem relevantes;

- a cultura de morte, referindo-se a adversários da família que, de maneira subtil ou explícita, contribuem para sua destruição. Essa cultura inclui relativismo ético, indiferença, positivismo hedonista, egoísmo geracional e outros fatores que ameaçam a instituição familiar;

- a ideologia de género, considerando-a impositora de um novo modelo de pensamento único. Essa ideologia compromete o desenvolvimento humano fundado em valores, liberdade e autonomia.

= Reações (quase) histéricas de certos setores

Algo de preocupante percorreu a noite do passado oito de abril ao trazer para a discusão – nos vários canais televisivos – este livro: certas figuras e forças sairam a terreno contestando não só o livro, mas alguns dos posicionamentos apresentados. Para alguns/algumas mais fervorosos na ideologia foi como que um colocar em causa as suas certezas inamovíveis de que as suas ideias eram (são) tão dogmáticas e não podem ser discutidas. A sacralidade da evolução de certos conceitos faria corar de vergonha os inquisidores mais aferrados de tempos idos. A agressividade – que irá, naturalmente, crescer de tom e de provocação nos próximos dias – quase resvalava para a ofensa, mesmo que os opositores se mantivessem serenos e impávidos perante os adjetivos usados.

Este pequeno episódio deixou escapar uma nota que deveria nortear a nossa capacidade cristã de saber resistir e de aprender a esperar o tempo oportuno. Com efeito, a pretensa maioria sociológica que fez aprovar certas leis – sobre o aborto, a ideologia de género ou mesmo a eutanásia – pode mudar e poderão ser modificadas as ‘regras’ impostas e suportadas.

Nada é irreversível nem indiscutível, pois tal intransigência em questionar vários problemas poderá deixar a descoberto que a certeza daquilo que querem obrigar a seguir pode, com relativa facilidade, deixar de ser tão certo e seguro como desejavam fazer acreditar.

= Atenda-se a quem escreveu

De facto, no leque de co-autores do livro há personalidades do quadrante cristão-católico, desde o mundo eclesiástico (dois bispos e três padres) até ao espaço político, da área da saúde, passando pelo meio universitário, tanto de ontem como de hoje. Na linha da intervenção dos cristãos na política – ativa, social e solidária – temos de aprender a escutar as várias posições, discuti-las e colher a verdade de todos e de cada um. Só quem tem medo de sair derrotado é que se intrincheira nas suas ‘certezas’ e se esconde para que possam viver na penumbra do engano, da manipulação ou mesmo da ditadura do pensamento único.

Cinquenta anos depois da ‘revolução de abril’ ainda há que viva à sombra dos tiques que então acusavam, mas que hoje cultivam quase inconscientemente...

Desde quando é crime dizer o que se pensa e pensar o que se diz?



António Sílvio Couto

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