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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Greta’s pintadeiras à portuguesa

 

Depois das campanhas da adolescente sueca Greta Thunberg, nos anos anteriores à pandemia – com maior impacto e repercussão nos anos de 2018 e 2019 – eis que emergem de repente ‘manifestações’ de uns ditos ecologistas borrifadores a pintalgarem pessoas e casas como protesto e em defesa dos seus ideais. Da surpresa à incredulidade, vimos surgirem estes novos ‘protestantes’, que não sabem formular as suas razões e/ou sentem-se mais propensos para borrar do que para limpar…

1. As manifestações pelo clima das ‘sextas-feiras para o futuro’ de Greta foram enchameando vários países, numa espécie de despertar populista para o combate à pegada do carbono na natureza com as consequências a curto e médio prazo nas pessoas. Num acolhimento sem precedentes das ideias de uma adolescente (nasceu em 2003), Greta discursou na conferência das Nações Unidas sobre a mudança climática, em setembro de 2018. Depois desse momento aconteceram manifestações estudantis todas as semanas em vários e dispersos lugares do mundo. Numa forma de dar o exemplo, Greta deslocou-se para a conferência da ONU sobre o clima de 2019, num veleiro… A onda Greta Tunberg foi sustida pela pandemia de ‘covid-19’… e pouco ou nada se fala dela e das reivindicações mais ou menos acertadas ou irritantes.

2. Eis que, em parcos dias, poucos – parece que são mais poucas as participantes – ativistas climáticas interromperam um seminário onde estava o ministro da tutela do ambiente e usaram também tinta para cobrirem paredes de um edifício duma associação empresarial. Se atendermos à conjuntura sociopolítica – inflação, aumento do custo de vida, salários baixos e carência na habitação – estes protestos poderão ter outros desenvolvimentos? Certos movimentos sociais de protesto poderão ter aqui algum rastilho para se desenvolverem? A estratégia de serem estes protestos visualizados na comunicação social – por vezes em direto – como será enfrentada e resolvida a curto e a médio prazo? Poderemos pressupor uma maior radicalização dos ativistas (ditos) de defesa do clima? Estas nítidas falta de educação – pelo não-respeito de quem pensa de forma diferente – não se voltarão contra tais ativistas?

3. Efetivamente estamos numa encruzilhada histórica e única: sofremos já as consequências de más opções de uns sobre a maioria, na medida em que os abusos de uns tantos quanto à mãe-natureza são pagos por todos, nas mais diversas vivências. Por isso, certas manifestações de ativistas pela defesa do clima como que soam a perda de tempo, embora lhes dê algum protagonismo na brevidade das notícias e na volatilidade das contestações. Num tempo de globalização, certos gestos e ações de contestadores da normalidade soam a operação de palhaço no grande circo de uma vida feita com pormenores e tecida por mentalidades ao sabor dos gostos da maioria… facilmente manipulável.

4. Na panóplia de situações onde a liberdade individual se sobrepõe à dimensão comunitária podemos enquadrar e, de alguma forma desculpa, certos gestos e atitudes de jovens eivados de uma certa defesa da natureza, mas suficientemente incongruentes, pois para se deslocarem para os seus protestos usam os meios movidos a combustíveis que eles desejam minimamente salvaguardar… Até as tintas que usam nos protestos continuam eivados de tónicas suscetíveis de repreensão.

5. Será precisa uma nova pandemia para colocar fim aos trejeitos mais assanhados da ecologia ao desbarato? Quando aprenderemos as lições?



António Sílvio Couto



 

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