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terça-feira, 15 de agosto de 2023

Como explicitar (possíveis) subliminares do Papa…nas JMJ

 

Ao longo dos breves, mas significativos, dias da presença do Papa Francisco, em Portugal, para as JMJ – de 2 a 6 de agosto – houve intervenções com conteúdo a exigir reflexão sobre o dito e tanto outro quase-subliminar. Ora, ‘subliminar’, em comunicação, tem um conceito que devemos, desde já, esclarecer. ‘Mensagem subliminar’ é um conteúdo dissimulado, uma mensagem visual ou auditiva imperceptível aos sentidos humanos. São mensagens implícitas que têm algum objetivo predefinido e são normalmente usadas como uma forma subtil de incentivar algum tipo de comportamento, seja a compra de algum produto ou uma atitude no âmbito da ética e moral. Em muitos casos, este tipo de mensagem é uma imagem escondida num vídeo e é imperceptível para a pessoa. Muitas vezes, esses conteúdos podem estar inseridos em apenas um frame do vídeo. Várias marcas já foram indicadas como utilizadoras de mensagens subliminares na sua estratégia de marketing.

1. Mas será que o Papa usou este método nas comunicações que fez, nas JMJ? Nas homilias e nos discursos de Francisco estará algo subentendido? Será que subliminar se identifica com subentendido? Certas frases – numa comunicação ao estilo de pregador latino-americano – querem dizer algo que precisamos de descodificar? Alguns dos chavões usados com os jovens poderão estar abrangidos pela linguagem subliminar mais básica ou subentendida?

2. Estas questões não pretendem minimamente desvalorizar o que o Papa tão belamente disse, mas antes precisaremos de ir mais a fundo para não ficarmos em emoções simplistas ou sob a influência de interpretações de quem quer que ele diga o que não referiu nem para não nos quedarmos na espuma da boa impressão…

3. De entre as diversas mensagens que mais ecoaram dentro e fora do espaço da Igreja católica foi essa que o Papa Francisco proferiu no momento de acolhimento no Parque Eduardo VII, designado de ‘colina do encontro’ em que salientou que na Igreja todos, todos, todos têm lugar e espaço. Fê-lo naquela forma de pregação da América-Latina de fazer com que os ouvintes repetissem essas mesmas palavras, até na língua de cada um.

Esse refrão de ‘todos-todos-todos’ quer dizer o quê? Quem são os que podiam estar fora e assim são integrados na massa, que deverá ser comunitária e não mero coletivo? Nesses ‘todos-todos-todos’ estarão incluídos os que se auto-excluiram em razão da doutrina ou da moral da Igreja católica? Ao vermos tantos interessados em quererem fazer parte desta ‘totalidade’, não estaremos a forçar quem só se incluirá se lhe fizerem a vontade nos particularismos de que se reclamam? Com este chavão de ‘todos-todos-todos’, o Papa quis fazer comunhão ou estendeu a mão a rebeldes que sempre o serão, desde que não os aceitem como eles se desejam, isto é, como meros diferentes e não como irmanados na mesma fé e ética judaico-cristã? Talvez aqui se possa aduzir esse trocadilho: ou vives como pensas ou passas a pensar como vives!

4. Outra imagem com carga simbólica foi trazia à colação nacional, por Francisco, a figuração da ‘capelinha das aparições’, em Fátima: um espaço que não tem portas… devendo a Igreja católica tornar-se assim no seu viver. Este estar de portas abertas para receber todos já o conhecíamos, mas dito desta forma e num contexto tão abrangente foi para alguns crentes e outros menos tal algo que fez regozijar uns ditos agnósticos e quase-ateus. Esta espécie de unanimismo quase se torna preocupante, pois, na linguagem do Evangelho, se adverte para que tenhamos cuidado quando todos disserem bem de nós!

5. Esperamos que as JMJ tenham sido um bom propósito para a Igreja católica em Portugal, mesmo que haja alguns ressabiados com a remexida que veio trazer. De boa parte dos políticos só é preciso que não estorvem e já farão bom serviço, daqueles que ficaram incomodados esperamos tenham o mínimo de compreensão de todos quantos têm sofrido o seu desprezo. A Igreja é de fundação divina: as portas do inferno não a vencerão!



António Sílvio Couto

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