Recordo, em tempos idos, o anúncio em epígrafe – ‘dão-se alvíssaras’, como forma de compensação por algo que podia ser reavido, se outrém ajudasse, mesmo que forma anónima.
Mas
qual a origem desta palavra – ‘alvíssaras’? Quais os sentidos que pode ter?
Recorrendo
ao dicionário ‘priberal da língua portuguesa’, lemos:
‘Al·vís·sa·ras’
(árabe vulgar al-bixra, do árabe al-buxra, boa nova)
nome feminino plural
1. Prémio dado a quem apresenta objectos perdidos ou ao que dá uma notícia
agradável.
interjeição
2. Expressão usada para pedir um prémio por uma boa notícia ou por um objecto
encontrado.
3. Expressão usada para exprimir contentamento por uma boa notícia.
Colocada esta informação metodológica, vamos àquilo que motiva esta reflexão.
1. A quem daríamos o tal prémio?
Quais serão as boas novas a que nos poderemos ater? Teremos motivos para
reconhecer alguém, por entre tantas lamúrias? Haverá capacidade de tentar ver
algo mais do que o negativo? Quando aprenderemos a sacudir a negatividade dos
nossos olhos e dos nossos juízos?
2. À semelhança de Diógenes –
o tal filósofo grego que percorria as ruas de Atenas com uma lanterna acesa… em
pleno dia. Se alguém o questionava sobre esta estranha atitude, dava sempre a
mesma resposta, que levava a candeia acesa porque o ajudava a encontrar um
homem honesto. Não consta que tenha encontrado algum...
Bem poderíamos andar por aí de candeia acesa em pleno dia que talvez não
conseguiríamos descobrir alguém honesto, isto é, honrado, sincero, sério... Não
é que seja impossível encontrar alguém com estas qualidades, mas que elas estão
assaz escondidas que quase foram ofuscadas pela incompetência, a habilidade e
mesmo a mentira e a corrupção.
3. Dão-se
alvíssaras a quem conseguir acertar no/na substituto/a da ministra da
saúde, ela que foi entronizada com pompa e circunstância no partido e agora é
abjurada por quase todos.
Dão-se
alvíssaras a quem conseguir adivinhar a solução para o ‘novo’
aeroporto, dado que surgiu uma nova localização a norte de Lisboa, mas sem
dados credíveis.
Dão-se
alvíssaras a quem der um aceno sobre a solução para algumas
dioceses sem bispo residencial – já são três: Açores, Bragança-Miranda e Setúbal
– e caminhamos para mais cinco: Beja, Algarve, Portalegre-Castelo Branco, Lisboa,
Guarda – cujos titulares perfazem a idade canónica a curto ou a médio prazo...
Será por falta de candidatos ou por negativa dada por alguns indicados?
Dão-se
alvíssaras a quem descortinar solução para o emaranhado do setor
da educação – escolas e professores, alunos e auxiliares de educação, pais e
encarregados de educação – dado que não se percebe completamente o que é
ensinado, qual a competência (crescentemente desautorizada) dos que ensinam e,
sobretudo, se a educação é da escola ou das famílias.
Dão-se
alvíssaras a quem consiga dizer sem subterfúgios nem desculpas se
certos partidos não passam de agremiações de emprego – ao nível estatal ou
autárquico – ou de entidades de encobrimento de interesses mais ou menos
sensíveis ao prolongamento do ‘nada fazer’ que possa questionar o poder que não
a autoridade...
Dão-se
alvíssaras a quem consiga perscrutar quando certos dirigentes
deixam o posto – desses que se reclamam tanto de democratas, mas que, afinal, vivem
numa espécie de monarquia sem trono – ou ainda quando aprendem a ler a história
em sentido diacrónico e não factual...e fixista do império acabado.
4. As
alvíssaras não estão em saldo, mas podem servir para destronar instalados e
servidores do passado!
António Silvio
Couto
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