Por estes dias se houve imagem que nos foi dada ver
com mais enfâse pode ser o drapejar das bandeiras: na despedida à rainha
defunta ou mesmo em sinal de alegria pelas conquistas desportivas lusas em
várias modalidades. Digamos que o drapejar das bandeiras é (ou pode ser)
emissor de vários sentimentos, desde que tal sinal seja entendido por quem o
usa, por quem dele se serve ou mesmo das intenções colocadas na comunicação…Aliás
a ‘bandeira’ emite significações que ultrapassam o retângulo ou o quadro de
pano ou de qualquer outro material… Em Portugal a bandeira, conjuntamente com o
Presidente da República e o hino nacional, são símbolos máximos da Pátria!
1. Numa espécie de orfandade coletiva, vimos as
longas e quase-intermináveis horas de emissão gastas a falar de alguém que se
tornou bem mais do que a soberana de alguns países, o símbolo de tantas nações
ou mesmo a chefe de estado de alguns povos…Ela representa uma cultura, que é
mais do que um regime político. Ao drapejar da bandeira percebemos que
estávamos quase perante um ‘mito’ com rosto, com história e com imensa
sabedoria… À falta de referência atualizadas e com qualidade, prestámos-lhe uma
espécie de culto… senão religioso, quase cultural.
2. Ao vermos drapejar a bandeira-material como que temos
de inferir sobre essa outra bandeira-causa de conduta de vida. Ora sobre
faculdade da bandeira ainda temos muito a refletir, pois ela deverá ser
enquadrada, deverá ser descoberta a finalidade dessa causa e mesmo deveremos perscrutar
o alcance mais alto, se queremos participar nesse objetivo.
3. Num tempo algo complexo torna-se importante
perceber porque estamos à deriva devido à falta de líderes – dirigentes,
responsáveis…condutores, guias, chefes – nos mais diversos campos de atividade
humana. Não será necessário recuar mais do que duas ou três décadas na história
para compararmos a ausência atual de pessoas que sejam capazes de assumirem a condução
dos destinos dos povos e das nações, das associações ou coletividades, dos
países ou dos partidos…das escolas e dos sindicatos, dos governos e dos
parlamentos… das dioceses e das paróquias… ao perto ou ao longe.
Se colocarmos a data de 1989 – queda do ‘muro de
Berlim’ – como tempo de referência fica-nos a sensação que é, cada vez de menor,
a qualidade daqueles que têm de assumir tarefas de responsabilidade não sem que
aos atuais investidos em poder lhes falta autoridade. Não fossem tantos dos
desinteressados em aparecerem que veríamos um colapso sem retorno do modelo
ocidental daquilo a que ainda apelidam de ‘democracia’.
4. Sem deixarmos uma sensação de quase rutura das
nossas sociedades, pela impreparação dos mais novos em ordem à assunção dos
destinos pessoais e coletivos, precisamos de criar, educar e promover as
‘elites’ – não é um termo desfasado das preocupações mínimas e suficientes –
que sejam em breve os semeadores da confiança e do compromisso, que são muito
mais do que favores egoístas e individualistas. Não podemos continuar a
misturar os mais novos – jovens ou adultos jovens – com as menos boas práticas
de uns tantos sobre uma razoável maioria. Dado que vamos tendo uma população
ainda jovem – idade de referência máxima de trinta anos – não podemos facilitar
no campo da aquisição de conhecimento, bem como na frente de participação nos
destinos de todos e de cada um.
5. Será que há a coragem mínima para criar laços que
sejam mais do que nós ou impedimentos a que os mais competentes sejam aqueles
que nos guiam? Nas horas dramáticas, que percorrem a história humana atual,
haverá capacidade de destronar os menos válidos e oportunistas? Como poderemos
ter bons líderes que não se envergonhem da sua fé, em vez de alinharem pela
marca do ‘avental’ sem rosto nem dirigentes, que deem a cara?
Acordemos desta letargia de pântano em que estamos.
Comecemos hoje a levar a sério a falta de líderes à altura dos acontecimentos
atuais. Quanto mais tarde nos empenharmos pior. O futuro começa agora!
António
Sílvio Couto
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