«Nós temos que nos próximos quatro anos conseguir fazer todos em conjunto, a sociedade, o Estado, as empresas, o esforço para que o peso do nosso salário, dos salários dos portugueses, no conjunto do produto interno bruto, seja pelo menos idêntico àquele que existe na média europeia, ou seja, subir dos 45 para os 48%, o que implica um aumento de 20% no salário médio do nosso país».
Foi desta forma empolgada e sublime que o atual primeiro-ministro sugeriu que
os privados façam o ‘sacrifício’ até 2026 de aumentarem o salário médio segundo
aquela bitola de vinte por cento. Do alto da sua cátedra de proponente ousado,
o governante ainda acrescentou que «as empresas têm de compreender que se
querem ser competitivas a vender, têm de começar a ser competitivas no momento
da contratação, se querem, efetivamente, contratar, fixar e atrair o talento
que necessitam para poderem ser empresas que produzem, efetivamente, bens e
serviços de maior valor acrescentado».
A avaliar pelos presentes na atividade em que assim se exprimiu – jornalistas,
ativistas, políticos, investigadores, humoristas e artistas – esta intervenção
dá a impressão de ser mais um ato de humor para jornalista difundir, enquanto
uns tantos artistas tentarão jocosamente interpretar...no palco da vida em faz-de-conta.
Como diz um programa televisivo: ‘isto é gozar com quem trabalha’, a sério e no
duro, que não estes governantes!
1. A esta inopinada posição do PM dá
vontade de responder: ‘bem prega fei tomás, olhai o que ele diz, mas não para o
que ele faz’. Com efeito, porque não faz ele isso que propõe para com os que
tem ao seu cuidado, isto é, os funcionários públicos? Que ‘autoridade’ tem este
dito governante para querer sugerir ainda redução de dias de trabalho – até
quatro por semana – se não o aplica aos seus servidores? Mas não são esses
‘privados’ que pagam os impostos até ao tutano, sem reclamar das exigências dos
senhores da democracia? Ao atirar ao lado na competitividade das empresas que
dizer que os funcionários públicos, para além de mal pagos, ainda são vistos
com pouco produtivos e, possivelmente, incompetentes para quem os tutela?
2. A perceber pelas reações dos
(ditos) parceiros sociais, esta intervenção do senhor costa, é ‘politicamente
bonita’, mas vem sem ‘livro de instruções’, não tendo em conta outras
reivindicações dos trabalhadores... Dir-se-á: estiquem a corda e verão caírem
em catadupa tantos lugares de emprego!
3. Esta gente ainda não compreendeu
que não se pode distribuir riqueza, se esta não é produzida. E, no quadro
europeu, nós ocupamos um lugar muito pouco recomendável, tanto na organização
como na capacidade de dinamização de todo o ‘processo de trabalho’. Estas
expressões cheiram nitidamente a linguagem marxista assimilada. Com que
facilidade se descarrega – sabe-se lá a que custo, em breve – dinheiro para
cima dos problemas, mas não se educa para a co-responsabilidade de todos os
‘fatores de produção’ – novo termo marxista – desde os que investem, aos que
trabalham e mesmo às mais-valias que são geradas, mas que devem ser geridas com
qualidade e não ao desbarato...
4. Desde há algum tempo a esta parte
temos andado a brincar com o futuro de todos, pois, querendo dar a impressão
que fazemos parte de uma Europa rica, não passamos dos mais empobrecidos, mais
pela forma como nos têm conduzido do que pelas capacidades de trabalho...
Essas, quando bem geridas, fazem sucesso noutras paragens e com resultados
dignos dos maiores encómios. Portanto, o que é questionável é a gestão dos
recursos humanos. Estes, quando devidamente inseridos, tornam-se os melhores
dos melhores.
5. Enquanto não forem limpos certos
esteriótipos marxistas (alguns leninistas e outros também trotskistas) nunca
sairemos do fundo da tabela do desenvolvimento. Com efeito o refrão – ‘os ricos
que paguem a crise’ – ainda deambula pelo testo de alguns mandantes... A sanha
contra quem não depende do estado-patrão continua a alimentar muitas arengas de
mau-gosto e de duvidosa qualidade.
António Sílvio Couto
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