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domingo, 16 de janeiro de 2022

Emplastro ou coruja?

 

Por estes dias de campanha para as próximas eleições temos visto gestos, atitudes e comportamentos que bem nos devem fazer pensar, se não na reflexão mais aprofundada ao menos na tentativa mais conjetural de ler o significado…para avaliarmos as pessoas.
Explicando as duas palavras (ou estórias) contidas no título:
‘Emplastro’ tem sido a designação dada a um tal rapaz – tais gestos não poderão ser de pessoas adultas – que aparece, sem ser chamado e sem qualquer relação com as pessoas ou os assuntos a serem tratados nas reportagens televisivas: surge nos mais díspares lugares e nas mais diversas situações, muitas vezes destoando e tornando-se assaz ridículo... (Já tive de o pôr na ordem há anos, em Vila do Conde).
A estória da coruja é bem mais antiga e resume, segundo as intenções mais moralistas, uma forma de ver e, sobretudo, de ser visto. Com efeito, a coruja como ave noturna de rapina – simbolizando a sabedoria, a inteligência e mesmo o mistério – não é de grande beleza. Ora, havia uma disputa entre a coruja e a águia sobre qual delas tinha os filhos mais bonitos. Houve mesmo um pacto de não-agressão entre ambas para que respeitassem os filhos uma da outra. Depois de uma caçada encontraram-se e disse a coruja: viste como são lindos os meus filhotes? Ao que a águia respondeu: o que vi, ali atrás, foram uns filhotes cheios de fome, de bico aberto, todos depenados e muito feios, num ninho e como estava com fome, aproveitei e comi-os. Não eram os teus filhotes, pois não? A coruja achava que os seus filhotes eram os mais bonitos, enquanto a águia não os vi assim tão lindos!

1. Olhemos agora para as circunstâncias da apresentação das ideias a serem votadas em breve, nas eleições. Vimos, há dias, dois competidores em refrega, cada qual dirimindo as ideias em contenda com o outro. Independentemente da simpatia, de quem tenha ganho ou de quem foi mais assertivo, vimos um deles a trazer para o debate um tal ‘OE’, que foi rejeitado há cerca de dois meses e que disso decorreu estarmos agora em eleições… Qual imagem subliminar – atenda-se a esta expressão no contexto comunicacional – estava o volume do ‘OE 2022’ a ser apresentado…qual emplastro inoportuno e, particularmente, como ‘filhote da coruja’, isto é, não têm nada melhor e querem que votem nele… porque aquilo é o que conseguiram engendrar, agora e para o futuro e, sabe lá, quais serão as custas a pagar…

2. Será que vale tudo (e o resto) com que uns tantos podem servir-se de tudo (ou muito mais) para atingirem os seus fins? Não deveria haver um mínimo de civismo para que não sejamos todos tratados como mentecaptos e como subservientes do poder em funções? Até onde pode ir o silêncio cúmplice de tanta da comunicação social, onde, depois dos debates, se gastam horas a desmembrar frases que não têm o mínimo significado daquilo que lhes atribuem? Até onde irá a esperteza de uns tantos, que não contam com a inteligência dos que não alinham com eles? Não será contumácia no erro (político, social e económico) ao insistirem no ‘OE’ rejeitado, por maioria, já no parlamento?

3. A coruja também simboliza ou preanuncia ‘mau agouro’, sobretudo, em certas regiões: é como que um aviso para a morte que se avizinha. Disso mesmo parece que ainda não se aperceberam os fabricantes de sondagens. Com efeito, como se explica que, dias depois do frente-a-frente entre os dois maiores concorrentes, surja uma tal ‘sondagem’ a dar mais de dez pontos percentuais de diferença entre ambos? Querem que ainda se acredite nas patranhas que engendram? Todos sabemos que certas movimentações de avaliação sobre o comportamento das pessoas dá o resultado que quisermos que deem, desde que introduzamos os dados a condizer com as nossas pretensões ou segundo os critérios preconceituosos.
A empresa de sondagens – favorável em dez pontos de diferença entre o concorrente do governo em funções e quem o desafia – é a mesma que, chegou a dar o dobro da votação a quem perdeu em Lisboa, nas eleições autárquicas…recentes. Coincidência ou mero erro de teimosia programada?
Pelo menos seria de bom-tom que não se fizesse alarido com os números… até porque os dados recolhidos – dizem – são anteriores (6 a 12) ao debate onde o emplastro sem mostrou bastante coruja de mau agoiro!

António Sílvio Couto

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